O trabalho mapeia os diferentes regimes de bem-estar social que apoiam famílias de baixa renda
A professora Rúbia dos Santos Ronzoni, do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), representará a instituição e o Brasil na International Conference on Global Welfare Research, que ocorre nos dias 24 a 28 de outubro, em Taipei, Taiwan. A conferência tem apoio do Ministério da Educação e do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia de Taiwan. Durante o evento, a professora irá apresentar dados relativos ao sistema de proteção social brasileiro.
“A pesquisa transnacional ‘Pesquisa de Bem-Estar Global/Global Welfare research’ é coordenada pela Universidade Nacional de Taiwan (NTU), abrangendo mais de 40 países no mundo”, explica a docente. Em cada país participante, especialistas com experiência em sistemas de bem-estar social ficam responsáveis pela pesquisa, com auxílio de assistentes de pesquisa no processo de coleta de dados. O projeto começou em 2022, mas já promoveu capacitações e seminários com todos os países envolvidos durante os anos de 2023 e 2024.
No Brasil, o projeto transnacional foi assumido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob coordenação da professora Rúbia Ronzoni, e conta com uma equipe composta por professoras, estudantes de graduação e estudantes de pós-graduação (doutorado) do Departamento de Serviço Social. Durante o evento em Taiwan, Rúbia abordará o tema das “Mudanças sociodemográficas das famílias brasileiras e os desafios para as políticas sociais”, além de demonstrar o processo de coleta de dados da pesquisa no Brasil, bem como principais produções.
O objetivo da Global Welfare Research é mapear os diferentes regimes globais de bem-estar social que apoiam famílias de baixa renda, e avaliar, por exemplo, os efeitos de generosidade, cobertura e redistribuição dos programas de proteção social nos países.
Além disso, busca comparar programas de bem-estar social usando dados de famílias modelos em economias em desenvolvimento e desenvolvidas e investigar os determinantes econômicos, demográficos, sociais e políticos dos regimes de bem-estar global, vinculando os indicadores dos países aos dados das ‘famílias modelos’, explica a professora.
A conferência reunirá os países que integram a pesquisa, com objetivo de socializar os dados e elaborar estratégias para sua divulgação e demonstrar os estudos comparativos por continentes. “Serão propostos livros, artigos e revistas que contemplem essas produções, para que possam subsidiar governos na elaboração de políticas sociais mais eficazes”, salienta Rúbia.
A professora cita Julia Shu-Huah Wang, coordenadora internacional da pesquisa, que demonstra que “o modelo de abordagem familiar permite examinar as características de bem-estar de um ângulo abrangente e identificar os recursos de bem-estar destinados às famílias em várias políticas e programas”, diz a professora.
A abordagem de família modelo, explica Rúbia, coleta dados de renda e despesas para perfis familiares selecionados. “Esta investigação também é orientada a partir de uma micro perspectiva, na qual os padrões de bem-estar descritos são baseados nas composições do orçamento familiar em cada país, e não em alguns indicadores de programas selecionados”, complementa.
Realidade brasileira e latino-americana
A professora Rúbia destaca a colaboração entre os países latino-americanos envolvidos no projeto, “considerando as especificidades históricas da América Latina e a formação do capitalismo periférico”, justifica. Rúbia relata que, em 2023, de maneira online, a equipe da UFSC apresentou o sistema de proteção social brasileiro em um seminário com transmissão ao vivo para todos os países envolvidos, na língua inglesa.
“Além disso, realizamos reunião com parte dos países latinoamericanos (Argentina, Chile e Colômbia) com intuito de pensar uma produção coletiva”, salienta.
A coleta de dados do Brasil ocorreu até dezembro do ano passado. A equipe agora está realizando os últimos ajustes para entregar o relatório final. “Na primeira etapa, foram identificados estudos cujos autores (Barrientos, 2008; Franzoni, 2007; Laurell, 2002; Pereira, 2004) problematizam os regimes de bem-estar na América Latina. No segundo momento, o preenchimento do Country Report (relatório do país) mapeou estatísticas sobre a realidade brasileira, com informações sobre a Seguridade Social (Assistência Social, Previdência Social e Saúde) e dados socioeconômicos relacionados ao país, como a média salarial nacional, imposto de renda, contribuições previdenciárias, benefícios assistenciais, educação, saúde, transporte entre outros. No que se refere aos dados das famílias, foram analisados os oito tipos, cruzando com seis situações de renda diferentes, conforme metodologia global, supracitada”, explica.
Segundo a professora, todos os dados foram coletados e inseridos em planilhas eletrônicas, previamente formatadas e disponibilizadas pela NTU. A análise final, será realizada pela NTU, a partir da utilização de softwares de cruzamento de dados.
Além disso, a equipe vem publicando diversos artigos em periódicos nacionais e internacionais com dados comparativos. “Neste último ano foram publicados três artigos internacionais, com dados comparativos (Noruega, Finlândia e Washington), e três nacionais relacionados à pesquisa”, ressalta Rúbia.
Fonte: Notícias UFSC