Os contrassensos no ingresso de calouros em 2025-1

*Por Antonio Carlos Mariani

Nesta segunda-feira (10/03/2025) teve início o semestre letivo 2025-1 para cursos presenciais da UFSC. Dado o renome e qualidade acadêmica associados a este nome, evidenciado por frequentes publicações no Notícias UFSC, era de se esperar que as condições para início das atividades acadêmicas estivessem todas satisfeitas, em particular que os calouros ingressantes via processos seletivos já estivessem devidamente matriculados e aptos a frequentar as aulas. Infelizmente não é esta a situação observada ao longo dos anos, fato que se repete em 2025-1.

A tabela 1 apresenta dados (levantamento informal) referentes à ocupação de vagas em 2025-1 via processos seletivos Vestibular e Sisu para alguns cursos presenciais de alta e média procura, na data de início do semestre letivo.

As colunas da Tabela 1 têm a seguinte semântica:

  • Vagas: nº de vagas ofertadas em 2025-1 para acesso via Vestibular e Sisu;
  • Matric.: nº de calouros em situação regular no início de 2025-1;
  • Saldo: nº de vagas ainda não ocupadas no início de 2025-1 (Vagas – Matric.);
  • Pend.: nº de candidatos que completaram a etapa de matrícula online, mas que ainda apresentam alguma pendência de matrícula (de documento, de validação de condições associadas a ações afirmativas, etc) que os impede de estar em sala em aula e passível de confirmação ou de exclusão, conforme o caso;
  • Ociosas: nº de vagas para as quais não há candidato que possa ocupá-las (Vagas – Matric. – Pend.);
  • Não Remanej.: nº de candidatos já em situação regular em 2025-2 e que explicitamente indicaram opção de serem remanejados para o 1º semestre (ver “As desatenções na chamada de candidatos do Vestibular e do Sisu”), caso haja vaga livre.

As últimas chamadas de candidatos para ocupar vagas em 2025-1 ocorreram em 25/02/2025, não havendo na página do DAE/Prograd informação que indique a ocorrência de novas chamadas. Assim, mantida a situação atual, os dados da Tabela 1 indicam que só nestes cursos, neste momento, temos:

  1. 204 vagas (20% das 1013 ofertadas) ainda não preenchidas, sendo que para aproximadamente 70 vagas (7%) delas não há sequer candidatos em condição de ocupá-las (efetivamente ociosas);
  2. Dentre os 134 candidatos pendentes temos:
    a. 19 candidatos pendentes são ainda oriundos da chamada inicial do vestibular, de 16/01/2024, cujo período para análise e validação de documentos comprobatórios referente a Política de Ações Afirmativas (PAA) foi de 28/01 a 04/02, conforme Portaria Nº 01/Prograd/Proafe/UFSC, 08 de janeiro de 2025, ou seja, após mais e 1 mês de atraso, esses candidatos ainda não sabem se poderão ou não estar presentes em sala de aula;
    b. 11 desses candidatos concorrem via classificação geral, enquanto que 123 são ingressantes via alguma das categorias da Política de Ações Afirmativas (PAAs): o grupo de candidatos ingressantes via PAA é o mais numeroso, justamente o grupo com maior grau de vulnerabilidades, com todas as implicações em termos de reprovação, retenção e evasão;
    c. Considerando que cerca de 20% (dado mencionado pela Prograd) dos candidatos sejam desclassificados pelas comissões de avaliação da Proafe, a quantidade de vagas efetivamente ociosas pode subir das atuais 70 para algo próximo a 100 (10%);
  3. A grande maioria das vagas pendentes e ociosas já poderiam estar decididamente ocupadas se os candidatos regulares de 2025-2 que explicitamente optaram pelo remanejamento (ver última coluna da Tabela 1) tivessem sido remanejados em tempo apropriado, ainda mais se a opção de remanejamento tivesse sido ofertada também nas chamadas posteriores do Vestibular, assim como nas chamadas do Sisu (ver texto “As desatenções na chamada de candidatos do Vestibular e do Sisu”).

Há uma frase supostamente atribuída a Einstein que diz algo como: “Insanity is doing the same thing over and over again, but expecting different results.“. Mas independentemente dele ser ou não o autor, a frase parece bem expressar o que ocorre na UFSC ao longo dos anos no que se refere ao processo de chamada de calouros, dadas todas as críticas e sugestões que já foram apresentadas a integrantes da Prograd e da Proafe em reuniões nos últimos anos, assim como em solicitações e processos digitais.

Infelizmente o “bom tom” propõe que se aja de maneira educada e socialmente aceitável, fato que limita o uso de adjetivos e sugere que não se dê “nomes aos bois”. Muito se fala dos cursos de baixa procura, mas para cursos como os da Tabela 1 agimos como se estivéssemos numa situação confortável quanto à quantidade de calouros ingressantes, quanto à evasão e, principalmente, quanto ao número de egressos.

Cabe também notar que a UFSC não dispõe de mecanismos internos que promovam transparência, acompanhamento, avaliação e auditoria contínua de processos como este de chamada de candidatos, ou seja, não parece haver meios para efetiva e tempestiva correção de rumos de forma a evitar desfechos como este, transferindo sempre para o ano futuro. No fundo, somos todos coniventes.

*Antonio Carlos Mariani é professor do Departamento de Informática e Estatística (INE/CTC)

Artigo recebido às 11h47 do dia 9 de março de 2025 e publicado às 13h57 do dia 10 de março de 2025