20 sinais de desrespeito ao professor

*Por Adriano Duarte e Camilo Buss Araújo

No dia 17 de abril de 2025, ocorreu a 20ª (isso mesmo, vigésima) reunião entre a reitoria e a Apufsc-Sindical para tratar de um tema que simboliza como estão as prioridades da universidade nesses últimos anos: a demolição da sede do sindicato dos professores. Estivemos em algumas dessas reuniões e o enredo era sempre parecido: iniciava com uma explicação do corpo técnico sobre a necessidade da demolição de um conjunto de estruturas entre o Centro de Comunicação e Expressão e o Espaço Físico Integrado. Anos atrás, chamavam aquele conjunto de “Labirinto do Minotauro” (são vários os nomes dependendo da geração). O ponto fundamental é que a sede da Apufsc está no plano de demolição.

Nas reuniões que participamos, apresentavam o projeto de “boulevard” de como ficaria o espaço após a demolição e se explanava sobre a importância de tal obra. Isso levava um tempo considerável. Quando se abria para questões, a primeira era: qual espaço seria oferecido à Apufsc, visto que a reitoria pretende demolir a sede do sindicato. Nunca houve uma resposta consistente para tal questão. Idas e vindas, ofertas e recuos. Em suma, há o desejo de demolir, mas não há um plano concreto de onde realocar o sindicato dos docentes. Algo do tipo: “vamos demolir o sindicato de vocês, mas vocês ficarão com esse espaço aqui”. Foram ventiladas algumas possibilidades. Em todas elas, a reitoria condicionou ao pagamento de um aluguel pelo uso do espaço. Aluguel cujos valores eram calculados pela média do preço do metro quadrado alugado no bairro da Trindade. Pressão do ministério público, alegava o reitor. Questão de isonomia, repetia ele. Afinal, se as lanchonetes e livrarias pagam para ter um espaço dentro do campus, por que o sindicato dos professores não deveria pagar?

Seguindo essa lógica, respondíamos sempre da mesma maneira: a Apufsc quer pagar o mesmo valor que o Sintufsc pagar. Acontece que o Sintufsc nunca foi procurado para discutir o valor do aluguel. Embora a palavra mais recorrente, por parte da reitoria, nessas vinte reuniões fosse isonomia. É hipocrisia que chama?

Uma das propostas apresentadas, para a qual a reitoria abriu uma licitação pública, foi o espaço do Flor do Campus, atrás do CFH e ao lado do NDI. A única oferta apresentada foi da Apufsc-Sindical, que arcaria com todos os custos de reforma do espaço (beirando um milhão de reais, conforme levantamento de uma comissão de professores encarregada de estudar a proposta).

Terminados os trâmites da licitação, ainda precisaríamos esperar três meses por uma manifestação da reitoria. No final, a resposta foi singela: R$ 18.727,60 (dezoito mil, setecentos e vinte e sete reais e sessenta centavos). Imediatamente a direção do sindicato perguntou novamente: quanto o Sintufsc vai pagar? Novo silencio com uma segunda resposta ainda mais singela: “a adm, generosamente, dará um desconto de 60% e o valor final será de R$ 7.491,04 (sete mil, quatrocentos e noventa e um reais e quatro centavos) mensais durante 240 (duzentos e quarenta) meses, ou seja, vinte anos”. Ressalva-se que, “a este valor, em cada aniversário de contrato, aplicar-se-á, para reajuste, o Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M)”.

Mais uma vez questionamos se o sindicato dos técnicos estava sendo cobrado por usar um espaço relevante do campus, inclusive com geração de caixa em função de arrendamento de restaurante e locação de espaço para eventos, nenhuma resposta foi dada. Ou melhor, foi dado um tipo de resposta, muito comum na atual gestão, que consiste em associar o verbo “estar” com outro verbo no gerúndio: “estamos conversando”.

Em outras palavras, não se mexe com o espaço dos técnicos, mas bota-se abaixo o sindicato dos professores. Essa gestão não gosta dos professores, talvez porque creia que não precisará deles para ser reeleita.

Talvez, alguns colegas com uma predisposição em rejeitar o conteúdo desse texto usem essas linhas para dizer que “escrevemos contra os técnicos”. Não se trata disso. É apenas uma constatação sobre a força política dentro da UFSC nesses tempos. A famosa frase “manda quem pode e obedece quem tem juízo” é vista cotidianamente na UFSC. Esse caso deixa bem claro: não há a tal falada “isonomia” quando se trata dos sindicatos de técnicos e professores. Esses são os fatos. Mas qual a explicação?

Nossa hipótese está na política. Já faz tempo que os técnicos têm mais força política do que os professores nas questões internas da UFSC. Em parte, porque sua pressão é mais coesa e direcionada, voltada para questões pontuais relacionadas às condições de trabalho (jornada de seis horas, teletrabalho, “controle social” ao invés de ponto eletrônico). Mas sobretudo porque são eles, os técnicos, que decidem quem será o reitor. O resultado eleitoral da última consulta para a reitoria demonstra isso. O mais votado entre os docentes não se elegeu. Os professores pulverizam seus votos entre as candidaturas, fazendo pequena diferença percentual entre o vencedor e os demais. O voto dos técnicos é concentrado, com maioria avassaladora em uma candidatura. Essa pequena margem entre os docentes e a grande diferença nos técnicos define a eleição.

Ou seja, para ter poder (vencer uma consulta para a reitoria) e lá permanecer (buscar uma reeleição ou indicar o sucessor), é preciso ter o apoio de quem decide a eleição: técnicos. Portanto, não se mexe com temas sensíveis à categoria dos técnicos como, por exemplo, o fato da sede do sindicato ficar dentro do campus. No entanto, esse não é um receio quando se trata dos professores. A estes, que não prestaram sua devida deferência nas urnas e não têm força eleitoral para definir a eleição, resta-lhes suportar 20 reuniões para tentar convencer a administração da universidade a não demolir sua sede sindical ou oferecer, em condições razoáveis, um espaço compatível com a história do sindicato.

É a política, diriam uns. Manda quem pode, diriam outros.

O fato é que o projeto de demolição da sede da Apufsc é bastante simbólico de como se dá a política na universidade. Talvez seja o momento de exigirmos a valorização do professor para além dos discursos e de cerimônias pontuais. Talvez seja o momento de os docentes procurarem pontos de consenso entre si e reivindicá-los, deixando de lado por um momento as diferenças que separam e aguçam rivalidades. Nesse ano de 2025, a Apufsc completa meio século de história. Uma vida repleta de luta, resistência e, sobretudo, participação dos professores na construção daquilo que tem de melhor na universidade. Isso está ruindo. Para alguns, o sindicato dos professores é visto como um entrave. Sinais disso não faltam. Até agora, foram 20.

*Adriano Duarte é professor no Departamento de História e ex vice-presidente da Apufsc-Sindical; Camilo Buss Araújo é professor do Colégio de Aplicação (CA) e ex vice-presidente da Apufsc-Sindical

Artigo recebido às 11h04 do dia 24 de abril de 2025 e publicado às 13h13 do dia 24 de abril de 2025