Decisão foi tomada por maioria, com 56 votos favoráveis
Em sessão realizada nesta terça-feira, dia 17, o Conselho Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (CUn/UFSC) aprovou a alteração do nome do campus Trindade, em Florianópolis. A decisão foi tomada por ampla maioria dos conselheiros, com um total de 56 votos favoráveis e oito contrários. O quórum mínimo para aprovação do parecer era de 42 votos.

A votação ocorreu após o parecer de pedido de vista elaborado pelo conselheiro Alexandre Cunha ter sido rejeitado. A proposta sugeria a manutenção do nome do campus em homenagem ao ex-reitor João David Ferreira Lima ou a possibilidade de elaboração de uma consulta pública a respeito da questão. Apenas 11 conselheiros foram favoráveis à opção.
Na leitura de seu parecer, o relator do pedido de vista classificou as conclusões da Comissão Memória e Verdade (CMV) sobre Ferreira Lima como um “erro de diagnóstico” e afirmou que a decisão de alteração no nome do campus serviria para “sepultar um homem que já está sepultado.” Sobre o trabalho da CMV, ele ainda afirmou que “é compreensível que seus membros se emocionem e se revoltem e, com estes sentimentos, contextualizam fatos do passado com a lente do presente”, e que “revisitar episódios históricos com os olhos do presente” pode impor “riscos de análises descontextualizadas e simplificadas.”
No início da sessão, o reitor Irineu Manoel de Souza esclareceu que o pedido de vista feito pelo conselheiro Alexandre na última sessão foi acolhido seguindo o artigo 17 do regimento do CUn. Ele ressaltou, no entanto, que uma nova solicitação não seria concedida nesta terça-feira, já que a oportunidade de conhecer o processo foi garantida ao Conselho. Em seguida, Irineu relembrou as discussões sobre a mudança do nome do campus, que se iniciaram com o processo em 2018, até as sessões realizadas ao longo dos últimos meses.

Além de Alexandre Cunha, também se manifestaram Rodrigo Moretti, do Conselho de Unidade do Centro de Ciências da Saúde (CCS), representantes do Diretório Central Estudantil (DCE Luís Travassos), e Luiz Paiva, membro da Comissão de Encaminhamentos do Relatório Final da CMV e da Associação de Pós-Graduandos (APG) da UFSC.
Em seu discurso, Paiva enfatizou que a discussão só chegou até aqui porque o CUn criou o Instituto de Memória e Direitos Humanos da UFSC. Ele destacou a importância do trabalho feito por pessoas pensando na sociedade como um coletivo, em contraponto ao parecer do relator do pedido de vistas que, de acordo com ele, foi baseado “apenas na sua visão do objetivo que pretende alcançar.” Em seguida, leu um trecho de um documento em que o ex-funcionário Luiz Henrique Mendes de Campos foi considerado subversivo pelo ex-reitor Ferreira Lima, sendo demitido da universidade, detido por dias em dependências do Exército e impedido de prosseguir com a carreira.
Em nome do CCS, Rodrigo Moretti também defendeu a mudança do nome do campus, declarando que este é o momento, não por “revanchismo”, mas por “amadurecimento.” Já em nome do DCE, a estudante do curso de Jornalismo Isadora Dimlow afirmou que o relatório da Comissão comprovou que Ferreira Lima não apenas colaborou com o regime militar, mas transformou a UFSC em seu “laboratório”, por meio de demissões, denúncias e interferências políticas.




A votação sobre a retirada ou não do nome de João David Ferreira Lima do campus da UFSC ocorreu depois de todas as manifestações e da releitura do parágrafo final e da conclusão do parecer do relator original do processo, Hamilton de Godoy Wielewicki. A decisão pela mudança foi amplamente comemorada pelo público presente na sessão, que aconteceu no auditório Guarapuvu, do Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo.


Imprensa Apufsc