Nosso Conselho Universitário deixou de ser “Egrégio”

*Por Áureo Moraes

Está lá, nos mais básicos dicionários da língua portuguesa, o significado da palavra que antecede a menção ao Conselho Universitário: “extremamente distinto; insigne, muito importante; digno de admiração; notável, magnífico.” Em instituições como as IFEs, cuja estrutura é ímpar no Estado brasileiro, colegiados são instâncias reservadas àqueles debates de alta relevância, cujos impactos e consequências afetarão o cotidiano, independente da justeza de suas raízes.

O que acompanhamos nas últimas semanas na UFSC foi a desqualificação da nossa mais alta instância. E, antes que interpretem este texto como contestação àquilo que foi decidido no processo 23080.031929/2025-08, em sessão na terça, 17, antecipo que não se trata aqui de posicionamento quanto ao mérito. Mas quanto à forma.

No primeiro semestre de 2020, se bem lembram, a UFSC tornou-se alvo de pesadas críticas e contestações às suas decisões quanto às medidas de prevenção e cuidado em função da Pandemia da COVID-19. Desde 16 de março daquele ano houve a decisão de suspender as atividades presenciais. E, imediatamente, começamos a debater em quais condições a Instituição iria funcionar. Em meio a um Governo Federal negacionista, anticiência e absolutamente hostil às Universidades, as mesmas parcelas da sociedade que agora agridem a UFSC pela decisão em mudar o nome do Campus – em particular setores empresariais e a mídia em SC – nos acusavam de “ganhar sem trabalhar”, de não adotar ensino remoto desde logo, além de outras mentiras e falácias.

Ainda que haja temas restritos à comunidade acadêmica, algumas vezes aquilo sobre o que discutimos e decidimos internamente impacta na sociedade, que nos mantém e cerca. É razoável, portanto, que esta mesma sociedade sinta-se legitimada a participar. Desde que nos limites de nossa organização institucional. Foi assim com as medidas restritivas na Pandemia. E deveria tê-lo sido no debate pela mudança do nome do Campus.

Voltando às medidas adotadas em 2020, o processo que adaptou a vida acadêmica só chegou ao Conselho Universitário quando era absolutamente essencial. Ainda que houvesse pressão interna para convocar, desde logo, o CUn, a gestão organizou cada passo da discussão de modo que a comunidade universitária fosse amplamente ouvida; contribuísse com as informações; exaustivamente apresentasse
alternativas. Enfim: o Egrégio Conselho foi preservado. E o tema, ainda que alvo de pressões externas, foi tratado com a seriedade que aquela instância colegiada exige.

O espaço do Conselho não pode ser transformado em algo simplório, como se ali se travasse uma assembleia de condomínio. Debates prévios, amplos, audiências e consultas públicas, externos ao CUn, ajudam a atenuar tensões, a ampliar espaços de participação – interna ou externa – naquilo que chamo de “limites da institucionalidade”. Foi assim, por exemplo, quando a UFSC teve que discutir a adesão ou não ao famigerado “Future-se”, projeto do medíocre Weintraub. Quando chegou a hora do Conselho se posicionar, ele estava maduro, com as informações de qualquer lado medianamente equilibradas. E foi assim na Pandemia, quando o modelo de governança daquela crise permitiu que as sessões do CUn fossem tensas, mas absolutamente objetivas. A participação de muitas pessoas, auditórios lotados, bandeiras, palavras de ordem, nada disso nos deve intimidar.

O que precisamos seriamente enxergar é a necessidade de garantir o espaço distinto – por que diferente – do Conselho Universitário. Não deve haver temas proibidos, censurados ao debate. Mas condutas respeitosas e magníficas. Como requer um Egrégio Conselho. Ou corremos o risco de repetir a sessão de 03 de dezembro de 2015, quando a reunião ocorreu num quartel da PM. Mas isso é assunto para outro artigo.

*Áureo Moraes é professor do Departamento de Jornalismo do CCE/UFSC

Artigo recebido às 15h17 do dia 18 de junho de 2025 e publicado às 15h48 do dia 18 de junho de 2025