*Por Fábio Lopes
Fui admitido como professor efetivo da UFSC em fevereiro de 1994. Eu tinha acabado de completar 26 anos de idade. Era um jovem promissor, mas ainda extremamente imaturo e ignorante. Se hoje sou um profissional muito mais qualificado e consistente, foi principalmente graças ao que aprendi e vivenciei nesta Casa. Em troca, devoto a ela o mais profundo amor. A UFSC se confunde com minha vida, meu corpo, meu pensamento.
Vê-la literalmente apodrecer a céu aberto me corta o coração. É quase como um ato de desespero que escrevo artigos como este. Neles, tento refletir sobre a crise por que estamos passando, em busca de saídas para os problemas que nos afligem.
Por suposto, a superação de nossos dilemas depende primeiramente de uma liderança à altura de tamanho desafio. Precisamos de alguém um que seja capaz de inspirar as pessoas, fazê-las acreditar que o futuro guarda dias melhores para a instituição. O atual reitor é, no entanto, o oposto disso. Suas manifestações públicas, para começar, são sempre burocráticas, vazias, medíocres, soporíferas. Ouvi-lo é ser exposto a uma saraivada de lugares-comuns.
Nada parece capaz de tirá-lo daquele tom monocórdio, tedioso, desapaixonado. Não há em suas falas uma única citação literária, uma única tirada espirituosa, uma só ideia que revele, por pouco que seja, a força de sua imaginação, a sua capacidade de inovar. A impressão que fica é a de que aquele homem jamais leu um romance, um poema, um ensaio. Ele parece tudo ignorar a respeito de qualquer assunto que não sejam as rotinas burocráticas.
Eu toleraria essa falta completa de brilho intelectual se ele ao menos fosse um administrador competente. Mas o resultado de sua gestão prova o contrário. A UFSC nunca foi um primor de eficiência e organização. Mas é evidente que ela piorou muito nesses quesitos no último quadriênio. Admitamos: a universidade é hoje uma bagunça sem precedentes. Não à toa, a maioria de nós limita-se a frequentá-la apenas quando isso é estritamente necessário. O campus – que já foi vibrante e solar – hoje é a Wasted Land de que fala T. S. Eliot. Nem papel higiênico e sabonete encontramos por lá. Que dirá vida inteligente.
Se o reitor não fosse um poço de vaidade e ambição pessoal, renunciaria. Mas ele não vai seguir esse meu conselho, assim como não deu ouvidos a nada do que, na esperança de melhorar as coisas, eu lhe disse ao longo dos quatro anos de seu mandato. O Prof. Irineu é uma estranha combinação de inação, ausência de autoridade e teimosia.
A seu juízo – contra todas as evidências –, tout va bien. Ele não vê, por exemplo, nenhum problema em ser humilhado como foi por Camilo Santana na recente visita do ministro à UFSC. Perguntado por jornalistas sobre as reclamações do Prof. Irineu a respeito do orçamento da universidade, o titular do MEC demonstrou cabalmente que o montante dirigido à UFSC tem crescido. Em outras palavras, chamou o reitor de mentiroso e incompetente em suas barbas.
Mas o pior mesmo foi a réplica do reitor: em vez de sustentar a sua posição, este covardemente atribuiu os cortes de verbas a governos anteriores. Em bom português, arregou vergonhosamente para o ministro, em uma demonstração cabal de que suas vértebras são feitas de borracha.
Ora, como encontrar ânimo para seguir defendendo a UFSC quando aquele que é regiamente pago para zelar por ela se comporta de modo tão abjeto? Como confiar nosso destino a alguém que certamente se comporta assim em qualquer negociação?
A conclusão é óbvia: nossa tarefa é eleger um novo reitor para a UFSC, sob pena de nos condenarmos a mais quatro anos de espetáculos grotescos como esse.
Um artigo recente publicado nesta mesma página nos exorta a construir uma frente ampla de oposição. De acordo. O ponto é que a operação não é simples e envolve uma série de condições. Eu diria – e aqui falo exclusivamente em meu nome, sem representar a posição de qualquer coletivo – que o grupo capitaneado pela Profa. Joana teria que antes fazer um dever de casa: legitimar-se como oposição. Isso demanda duas tarefas:
- A primeira é completar o ato de ruptura que esses colegas iniciaram há algumas semanas. Trocando em miúdos, a Profa. Joana precisa renunciar também. Do contrário, eles continuarão a ser situação.
- A segunda tarefa é que corrijam os termos da desastrosa carta que publicaram quando disseram que não apoiariam o reitor em sua tentativa de reeleger-se. Eles são tão responsáveis pelo exuberante fracasso da atual gestão quanto o Prof. Irineu. Não podem sair assobiando, como se nada tivessem a ver com o peixe. Não podem lançar toda a culpa na conta do reitor. Os autoelogios que dirigiram a si mesmos no texto são sinal de que nada aprenderam com a experiência e estão, portanto, prontos a cometer os mesmos erros.
Nem vou aqui me referir ao fato de que as coisas que eles agora dizem sobre o reitor foram por mim publicamente apontadas por mais de três anos. Tampouco vou dar importância aos estigmas e microagressões que eles dirigiram a mim por minhas opiniões. Longe de mim exigir um pedido de desculpas ou o reconhecimento de que, no essencial, eu estava desde sempre certo. Não tenho essa vaidade. O que me preocupa é o futuro da UFSC, e só isso.
Os dissidentes da atual reitoria, por seu lado, certamente terão observações a fazer sobre mim e sobre as diferentes forças que procuram organizar uma candidatura de oposição. Que as façam de maneira franca e aberta. E vejamos no que isso dá.
*Fábio Lopes é professor do CCE/UFSC
Artigo recebido às 11h41 do dia 12 de dezembro 2025 e publicado às 12h14 do mesmo dia.
