Pesquisa mostra que relação com docente ajuda estudante na construção de propósito de vida

A sondagem envolve principalmente alunos do ensino médio

Pesquisa inédita realizada pelo Instituto Ânima verificou que o relacionamento entre professor e aluno influencia fortemente no desenvolvimento de um propósito de vida para os estudantes.

A pesquisa, feita em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação e Economia Social da Universidade de São Paulo (Lepes/USP), se baseou em 500 mil respostas de profissionais de educação e estudantes das redes públicas de ensino dos estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pará e São Paulo. A sondagem foi feita em três rodadas, sendo duas realizadas em 2023 e a última no ano passado.

“O grande resultado que a gente encontra nessa pesquisa é entender que o estudante que está em contato com o professor, ou seja, que pode ter uma relação com o professor e sente confiança para ter essa relação, tem melhores indicadores de propósito de vida. Esse é o principal achado”, disse à Agência Brasil o gerente-executivo do Laboratório de Inovação em Políticas Públicas Educacionais (Lippe), Gustavo Mendonça Blanco.

Ele também destaca a importância da família nesse processo de construção do propósito de vida dos jovens.

Intitulado Avaliação Diagnóstica: Pesquisa com Professores e Estudantes sobre Projeto de Vida, Saúde Mental, Clima Escolar e Competências Socioemocionais, o estudo mostra que quando se compara um jovem que declara poder contar com seus professores para falar sobre seus sentimentos, por exemplo, eles têm uma média de propósito de vida 16% maior em relação àqueles que não contam com esse fator protetivo.

Quando se volta para as famílias, a média de propósito de vida é 20% maior em comparação aos estudantes que não contam com os familiares para falar de seus sentimentos e emoções.

“A conclusão aqui é que essa relação com os adultos é muito importante para o desenvolvimento de propósito de vida do estudante”, diz Blanco.

A sondagem envolve principalmente alunos do ensino médio, embora a pesquisa tenha consultado também estudantes do oitavo e nono anos.

Saúde mental

Correlacionando a questão da saúde mental e o propósito de vida, a pesquisa mostra que ao se comparar dois jovens com o mesmo indicador de saúde mental, seja ele alto ou baixo, bom ou ruim, a diferença de propósito de vida chega a ser 30% maior para aquele estudante que disse poder contar com o professor.

O trabalho identificou alguns fatores de risco à saúde mental dos estudantes dentro e fora do ambiente escolar, que podem influenciar o desenvolvimento dos propósitos de vida desses alunos;

  • 29% acreditam que sua saúde mental é afetada pelos estudos;
  • 26% já sofreram bullying;
  • 24% se sentem pressionados a atender um padrão de beleza;
  • 21% se dizem angustiados com a situação financeira do lar;
  • 16% se sentiram sozinhos no último ano;
  • 13% se sentem compelidos a seguir algum comportamento visto nas redes sociais.

Entre os fatores que contribuem para que os estudantes desenvolvam seu propósito de vida e de que maneira cada um deles influencia nesse processo, a pesquisa evidencia que as competências socioemocionais lideram, com 54,9%, envolvendo a convivência respeitosa, a tomada de decisões conscientes e o gerenciamento das próprias emoções, seguida pela qualidade da relação com o docente (14,7%).

Outros fatores incluem a saúde mental (14,5%), o apoio da família (11%) e as características individuais (4,7%).

Professores

Os educadores também foram avaliados na pesquisa, com foco em sua atuação docente e seu propósito de trabalho. Das 500 mil respostas, 12,5 mil foram de professores.

A pesquisa abrangeu cinco conceitos:

  • rede de apoio intra e extraescolar, observando o meio em que vivem;
  • o propósito de trabalho e a importância na vida do professor;
  • autoeficácia – que é a crença em sua capacidade de executar tarefas de sua função de professor;
  • saúde mental; e
  • capacidade para realizar práticas pedagógicas.

“O principal resultado aqui é que a gente correlaciona esses cinco construtos”, explica Blanco.

Destaque para os elementos que mais influenciam no propósito do professor no trabalho e o engajamento dele relacionado a esse propósito. Os que mais afetam são a saúde mental e a autoeficácia.

Fonte: Agência Brasil