Construindo pontes. Ampliando diálogos

*Por Aureo Mafra de Moraes (CCE), Camilo Araújo (Colégio de Aplicação), Carlos Alberto Marques (CED), Cátia Carvalho Pinto (Campus Joinville), Edson de Pieri (CTC), Felipa Amadigi (CCS), Juarez Vieira do Nascimento (CDS), Julian Borba (CFH)

Engana-se quem atribui às eleições para a Reitoria da UFSC a alegada “polarização” que alguns setores insistem em enxergar na política brasileira. Ainda que se admita que o país viva disputas intensas entre campos distintos – o que, de toda forma, é uma simplificação da realidade – essa lógica não se
aplica à vida cotidiana da Universidade.

É evidente que há, entre docentes, técnico-administrativos e estudantes, afinidades diversas, simpatias e militâncias de múltiplas orientações. Há quem se identifique com diferentes causas, lutas e bandeiras. Mas isso não significa que uma eleição à Reitoria deva se reduzir a uma disputa entre polos ideológicos. que está em jogo é muito mais do que isso: trata-se da definição de um projeto de universidade, de uma visão sobre o papel público, social e científico da UFSC.

Nosso primeiro desafio é reconhecer que a UFSC é muitas em uma só. É tecnológica e humanista; científica e social; racional e sensível; por vezes inclusiva, em outras ainda marcada por barreiras que precisamos superar. É justamente essa pluralidade que constitui sua riqueza e sua complexidade.

Construir um projeto de Universidade e de gestão, implica um processo público e democrático, envolvendo todos/as que se dispõem a defender a educação pública e a UFSC. Quem não estiver nesse campo de princípios e de compromissos não é bem vindo/a.

Outro elemento essencial nesse processo são as demandas específicas de cada segmento, que embora distintas, se complementam. Estudantes precisam de políticas de assistência, acolhimento e apoio pedagógico; Técnicos-administrativos reivindicam condições dignas de trabalho, oportunidades de qualificação e ambientes saudáveis; Docentes buscam incentivo à pesquisa e à extensão, respeito a princípios acadêmicos e processos administrativos ágeis e transparentes. A diversidade dessas pautas reflete a força de uma comunidade que pensa coletivamente e que reconhece na universidade pública um bem comum.

É desse conjunto de perspectivas que emerge nosso projeto: uma frente ampla, formada por diferentes trajetórias, experiências e visões dentro da comunidade universitária. Essa frente acolhe todas e todos que defendem a UFSC como instituição pública, gratuita, inclusiva e comprometida com a qualidade acadêmica e com sua responsabilidade social. Nesse campo de unidade, não há espaço para posições que buscam deslegitimar a universidade pública ou enfraquecer suas práticas científicas e educativas.

Em particular, preocupa-nos o avanço de discursos de extrema direita que tratam a universidade com desconfiança, tentam ridicularizar seu trabalho e questionam seu papel para a sociedade. Embora reconheçamos a importância da pluralidade e do debate democrático, entendemos que tais discursos não contribuem para o fortalecimento institucional nem para a convivência acadêmica baseada no respeito, na ciência e na responsabilidade pública.

Nosso compromisso é seguir construindo pontes, ampliando diálogos e reafirmando o valor da universidade como espaço plural, crítico e profundamente comprometido com o bem comum. Gerir essa pluralidade com eficiência, sensibilidade e compromisso é a principal tarefa de uma Reitoria.

Nossa história mostra que a UFSC sempre soube combinar ousadia intelectual com responsabilidade institucional. Basta lembrar a gestão do Reitor Caspar Erich Stemmer, que, em plena ditadura, criou cursos como Jornalismo, Psicologia, Arquitetura e Nutrição — áreas marcadas pela crítica social e pela defesa da liberdade de pensamento.

Esse gesto expressa o que somos: uma universidade que avança mesmo em contextos adversos, porque acredita na ciência, na cultura e na formação humana como instrumentos de emancipação.

Nosso compromisso é com a democracia universitária, com a autonomia institucional, com a transparência na gestão e com a construção de uma universidade pública, inclusiva e socialmente comprometida. Rejeitamos qualquer tentativa de reduzir a UFSC a um espelho das disputas político partidárias do país. Ao contrário, queremos reafirmá-la como espaço de diálogo, de diversidade e de compromisso com a justiça social.

É esse o sentido de nosso projeto coletivo: fortalecer uma universidade pública que pense criticamente, que acolha a diferença, que promova a equidade e que se mantenha fiel à sua missão de servir à sociedade por meio do conhecimento, da ciência e da educação.