Seis dos onze reitores nomeados por Bolsonaro não foram os mais votados

Presidente quebrou tradição de uma década e meia de se indicar o primeiro colocado das votações

O presidente Jair Bolsonaro quebrou tradição de uma década e meia de se indicar o primeiro colocado nas listas tríplices encaminhadas pelas universidades federais para o cargo mais importante das instituições, destaca O Globo. Em pouco mais de nove meses de governo, dos onze reitores indicados, seis não foram os mais votados pela comunidade acadêmica.

Outras seis universidades, incluindo as federais de Pernambuco e de Alagoas, já realizaram processos eleitorais e aguardam o anúncio da nomeação.

Weintraub afirmou em vídeo que parlamentares ajudam na escolha dos reitores

Críticos afirmam ser possível detectar a movimentação de parlamentares mas também de professores e funcionários das próprias federais interessados em vetar a posse de quem discorde da linha conservadora do governo, afirma O Globo.

O Ministério da Educação (MEC) negou interferência de políticos nas nomeações. No entanto, em vídeo publicado na internet, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirma o contrário. Na gravação, ele diz que parlamentares auxiliam na checagem do perfil dos reitores para garantir que estes são “pessoas sérias que não promovam ideologias”.

O vídeo foi gravado no último dia 6, na comemoração dos 184 anos da Polícia Militar do Mato Grosso. O ministro afirmou ser necessário “resgatar” a reitoria da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), que terá eleições no ano que vem.

Presidente da Comissão de Educação da Câmara, o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) diz que há orientação no MEC sobre a escolha dos reitores.

“Em conversa com o ministro Weintraub, ficou claro: se for um reitor que tenha uma linha ideológica, partidária e contra o governo, ou que faça uma oposição mais dura, de ligação com PT ou PSOL, ele vai segurar (a nomeação)”, afirma Lima.

Segundo O Globo, uma fonte que está no centro do processo de nomeações e pediu para não ser identificada confirmou que o MEC procura sempre saber se o possível nomeado é ligado a partidos ou ideologias identificadas com a esquerda.

Ele afirmou que parlamentares auxiliam, sim, no processo, mas também há participação, garante, de setores conservadores da própria comunidade acadêmica.

Embora o  Presidente da República tenha prerrogativa constitucional de indicar qualquer um dos três nomes da lista tríplice, a nomeação do primeiro colocado vinha sendo seguida à risca desde 2003.

Em nota enviada ao GLOBO, o MEC afirma não haver “hierarquia na lista tríplice”. Questionado sobre os critérios do presidente para as nomeações neste ano, o Palácio do Planalto não respondeu.

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) reiterou posição divulgada em nota em janeiro, em que defende a nomeação de quem recebeu mais votos no colégio eleitoral, pois “garante-se assim um elemento definidor da democracia, o respeito à vontade da maioria”.

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