Universitários cearenses relatam dificuldade com o ensino a distância por falta de internet e computador

Aulas na Universidade Federal do Ceará foram retomadas nesta semana

O estudante de administração da Universidade Federal do Ceará (UFC) Antonio Rhendson Barbosa de Oliveira, morador da cidade de Mulungu, a 120 km de Fortaleza, precisou adaptar sua rotina de estudos ao método de ensino a distância com o retorno às aulas, na segunda-feira, 20. Sem acesso a uma internet de qualidade e sem um computador próprio, o estudante de 21 anos depende do notebook da namorada, Letícia Ellen, 22.

Após a aprovação do Plano Pedagógico de Emergência (PPE), em assembleia virtual no dia 2 de julho, pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o retorno das aulas foi aprovado para o início desta semana.

No entanto, de acordo com levantamento da Faculdade de Educação (Faced), 6,8% dos alunos não possuem equipamentos disponíveis para o ensino remoto, e 43% contam apenas com o celular. Na Engenharia de Pesca, 21% dos alunos que responderam à pesquisa relataram não ter notebook ou computador de mesa. No levantamento do Centro de Ciências, por sua vez, com respondentes de 13 cursos, entre 20% e 40% não possuem notebook, e entre 60% e 80% não têm um desktop.

De acordo com a Pró-Reitora de Assuntos Estudantis, Geovana Cartaxo, a UFC realizou uma série de ações para tentar reduzir os impactos da pandemia e do ensino remoto para os estudantes. Até o momento, já foram disponibilizados cerca de 400 computadores nos espaços coletivos da universidade, implantaram Wi-Fi nas 10 residências universitárias, assim como distribuíram 1.064 chips.

Além disso, houve a modificação na forma de realizar e acessar as atividades para que estivessem disponíveis nos melhores horários dos alunos, considerando suas realidades. Para a professora, parar completamente as atividades da universidade não era uma opção viável.

De acordo com pesquisa realizada pela UFC com a participação de 10 mil alunos, 2,4 mil estudantes possuíam computador com uso compartilhado. Buscando disponibilizar um novo auxílio que garanta o acesso próprio para esse equipamento, a instituição está organizando um edital de inclusão digital a fim de contemplar entre 1.500 e 2.000 estudantes.

A proposta deve disponibilizar R$ 1,5 mil para os alunos em situação de vulnerabilidade, a fim de comprarem o computador e apresentarem a nota fiscal, considerando critérios de vulnerabilidade socioeconômica e o número de disciplinas matriculadas.

Conforme explica, a resolução ainda se encontra em fase de aprovação, mas deve ter um resultado até dia 28. Caso aprovada, o edital será lançado logo em seguida.

Exclusão

Na perspectiva do atual presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará (ADUFC), professor Bruno Rocha, o retorno das aulas remotas em um cenário em que nem todos os estudantes têm acesso à internet e à computadores caracteriza um processo exclusivo para os universitários em situações de vulnerabilidade.

“Desde o início a gente entendeu a substituição da atividade presencial das aulas para remoto, como precarização do ensino. Mas como não existia uma perspectiva de retorno, tentamos pensar em um modelo de fazer o semestre com atividades remotas que gerassem menos impactos para os estudantes”, explica.

A ADUFC reivindica um edital de equipamento capaz de contemplar os estudantes que não tem acesso à computadores. “Resolver começar as aulas sem as condições é um grande equívoco”, considera. Para o presidente do sindicato, as aulas só deveriam ter sido iniciadas quando todos os estudantes já tivessem condições para seguir o ensino remoto.

Leia na íntegra: G1