Mudanças sim, mas com respeito à nossa história

O artigo do atual presidente da Apufsc divulgado no último boletim é realmente muito instigante e uma grande provocação. Em alguns aspectos, uma boa provocação, em outros, reproduz velhos chavões e preconceitos que não deveriam estar no discurso de um dirigente da Apufsc.

O apelo por mudanças e a constatação de que temos problemas de mobilização e de participação e que os instrumentos que estão sendo utilizados não atendem as nossas necessidades é realmente importante. Acreditamos todos nós que mudanças são necessárias. O esvaziamento das assembléias, particularmente, em situações em que se necessita de apoio maciço dos sindicalizados, como no recente episódio da ameaça de corte da URP, é algo que tem que ser repensado. Que dirigente, em sã consciência quer tomar a decisão, por exemplo, de entrar com ação judicial contra a Unimed, enfrentando a suspensão do atendimento por três dias, contando com a presença de 40 sindicalizados?  Unimed não é um tema que nos divide e temos em torno de 5.300 usuários. 

Qual ou quais motivos estão levando os sindicalizados a não participar? Somos um universo bastante heterogêneo, as respostas e explicações podem ser as mais variadas possíveis. Este é um ponto crucial para as nossas reflexões. Na nossa avaliação temos, grosso modo, duas possibilidades:

I)nos adaptamos às condições atuais de absoluta falta de tempo, sobrecarga de trabalho e dia-a-dia solitário nas tomadas de decisões e, assim, vamos procurar soluções imediatistas e cosméticas que nos permitam decidir tudo atrás dos nossos computadores. E quem vai “carregar o piano”? Criar mecanismos que aumentem o número de participantes nas decisões está muito fácil, o outro lado desta moeda é aumentar o número dos carregadores do piano (com certeza, tarefa bem mais complicada, os chefes de departamento e diretores de centro que o digam)d+

II) uma outra possibilidade é pararmos para fazer uma reflexão mais profunda, ouvirmos mais uns aos outros e tirarmos soluções mais duradouras e que realmente resolvam o nosso maior problema que é a falta de unidade e de objetivos comuns. Neste caminho, soluções prontas, acabadas, só reforçariam as nossas fragilidades e inibiriam o diálogo mais amplo. A proposta de realização de um congresso de professores, feita na gestão passada da Apufsc e divulgada nos poucos Conselhos de Unidade que convidaram a diretoria antiga para participar, seria uma boa iniciativa. Um congresso que seria organizado por uma comissão com a composição mais ampla possível, por exemplo, com representantes dos centros. Os temas a serem abordados seriam cuidadosamente levantados e sistematizados pela referida comissão organizadora, em consulta aos sindicalizados. Ao final do processo, teríamos um documento que poderia orientar as ações do Sindicato.

Portanto, acreditamos que o processo de mudança deva ser realizado sem desprezar as lições que a história do nosso sindicato Apufsc/Andes nos oferece, e deva refletir um processo de amadurecimento político que nos fortaleça como grupo. Não podemos transformar esse processo numa aventura. De estratégias divisionistas bastam as do governo federal e de seus súditos dentro das nossas universidades, que, travestidos com falsos discursos de excelência acadêmica, querem estrategicamente despolitizar as nossas lutas. E mais, messianismo, voluntarismo e principalmente soluções individuais não são desejadas neste processo. 

Neste contexto, o presidente da Apufsc, após presidir uma assembléia, que continua sendo a instância máxima de deliberação do sindicato, se insurgir contra esta, desqualificando inclusive quem participou da mesma, é uma estratégia bastante equivocada, mesmo para quem deseja mudanças. Até porque reage como se não tivesse nada a ver com a questão da morosidade e falta de objetividade alegada. E o mais grave, ainda deixa muito claro o seu preconceito com relação aos aposentados. Não basta toda a perseguição do governo federal? Vamos nós, professores da ativa, também discriminar os nossos aposentados e deixá-los à própria sorte? Será que dentro das propostas de mudanças no regimento da Apufsc, apontada pelo presidente, estará contemplada a criação das categorias de sócios da ativa e sócios aposentados, dando um status de sócios de segunda categoria a estes? 

A assembléia do dia 22/05 foi realizada para referendar e ressaltar as manifestações do dia 23/05, realizadas em todo o Brasil, em repúdio às reformas do governo federal, incluindo o PAC, que vai nos condenar a 10 anos sem reajustes, sem contratações, etc. A manifestação emocional do presidente da Apufsc só ressaltou a reação contra o sindicato, exatamente no momento em que este se posicionava em defesa dos sindicalizados. Com certeza, como docente esta é uma reação a ser respeitada, porém como presidente é equivocada. Demonstrou ainda, no seu voluntarismo, pouco ou nenhum apreço pela diretoria que preside. Soluções individuais estão na raiz dos nossos problemas. No momento em travamos batalhas hercúleas com o governo, TCU e mesmo no judiciário (vide URP), o que temos que demonstrar é exatamente o inverso. Quando um presidente publica no boletim um artigo e embaixo vem escrito que não é posição da diretoria, todos nós perdemos. Quando um presidente autoriza a publicação de um artigo no boletim que contraria expressamente a decisão da diretoria e joga o sindicato e a própria diretoria em rota de colisão com os sindicalizados, e não estamos falando do artigo que gerou esta manifestação, é hora do presidente repensar o seu destino.