O que mais vem por aí?

O Boletim da Apufsc de número 604 apresenta contundente artigo, com título “Ações afirmativas e desigualdades em educação: quanto desconhecem os acadêmicos?”. Como a primeira parte do artigo dá uma resposta à minha indagação de falta de debate, quero agradecer pelo esforço feito. Eu me referi à falta de debate a meu alcance, como aposentado, no Boletim da Apufsc. O Boletim é praticamente a minha única forma de informação sobre a UFSC. Infelizmente demora, com freqüência, para o mesmo ser entregue (seis a oito dias, às vezes). Isto gera as óbvias conseqüências, a informação chega tarde demais.

Mas, voltando ao assunto base, “debate”. Vejo que houve debate sobre cotas no sentido amplo do tema. No entanto, houve debate no sentido estrito, necessário para assunto tão polêmico? Opositores às cotas foram convidados para estabelecer o contraditório? A mesma oportunidade foi dada aos pró e aos contra nos diversos eventos? Ninguém convida o inimigo para sua festa. Nenhum dos debatedores, embora os conheço pouco, me sugere perfil de oposição ao tema. 

Como a louvação continua, artigo do professor Silvio Coelho dos Santos (Boletim 606) e entrevista com o professor Marcelo Tragtenberg (Boletim 605), sobra observar curiosidades. Por exemplo, é curioso como o professor Tragtenberg explica o mérito do ingresso na universidade por parte dos candidatos das cotas. Explicar mérito presente por resultados possíveis no futuro é um viés analítico perigoso. Os apadrinhamentos passam muito bem neste critério. Curioso, também, é observar como são apresentadas estatísticas. No jornal Diário Catarinense do dia 22 de agosto de 2007, sob o título “Negros e pardos são maioria no Bolsa Família”, é apresentado o perfil dos atendidos por este programa  do Governo Federal. Dos 45,8 milhões de beneficiários, 57.4% se declararam pardos, 7.8% negros, 28.4% brancos, 0.4% amarelos e 0.5% indígenas. Um título como, brancos e pardos são ampla maioria não seria mais adequado? Alguma dúvida?

Voltando ao artigo que questiona o desconhecimento dos acadêmicos (quais?), destaco “Leiam, pois, senhores e senhoras acadêmico/as, as análises sobre os tipos de escolas que são destinadas aos pobres – entre os quais negros sempre são maioria…”. Olhando a estatística do Bolsa Família, a afirmação “negros sempre são maioria” não chama a atenção? Não creio, pois, nela. Quanto a “Escolas destinadas aos pobres”? Vou ter que analisar o meu prejuízo, pois, nem isto governo algum me deu. Quanto às cotas, não passam de jogo político. Maquiavel dizia que o objetivo do jogo político é a conquista. Como é legítimo a todos lutar, e os que lutaram venceram, a eles, portanto, os louros (e as vagas), mesmo que negros sejam eventualmente uma minoria. As outras explicações são para boi dormir.

Como, a meu ver, cotas não resolvem o problema da qualidade do ensino superior e nem do acesso a ele, é preciso começar a encarar problemas mais difíceis. Em primeiro lugar, a conscientização da população. Enquanto não elegermos um Presidente da República, que tenha a capacidade e a vontade de pôr a educação em primeiríssimo plano, o Brasil não passará nunca de meia-boca. E, parece que estamos bastante longe disso. Qual foi a votação do Cristóvão Buarque na última eleição? 3%?  Sintomático? E quais são os ministérios mais disputados e considerados importantes? Ministro da educação é aquele demitido, diretamente da Europa, por simples telefonema.

Antes de encerrar minha breve permanência em sua atenção e agradecer por isso, gostaria, também, sugerir uma leitura, a da última página da revista Veja, de 22 de agosto de 2007, com o título “O Brasil é isso mesmo que está aí”, de Roberto Pompeu de Toledo. Inicia assim: “Os distraídos talvez ainda não tenham percebido, mas o Brasil acabou”. 

Eu ficaria também muito feliz e agradecido se as professoras Vânia, Regina e Justina desenvolvessem o tema “Eurocentrismo patético dos saberes consagrados nos currículos” citado no artigo de Boletim 604. É um tema de primeira página, haja vista a discussão iminente dos currículos, para estabelecer uma maior flexibilidade que facilite a mobilidade estudantil, constante nas diretrizes do Reuni (a Ufsc deve embarcar no Reuni? Tenho sérias dúvidas). Eu já fui coordenador de curso e nem sabia da importância, dos benefícios e malefícios da origem do conhecimento. Aguardo, pois, por favor.