Ambigüidades

No pouco tempo que participo da Apufsc percebi várias ambigüidades de posicionamento coletivo e individuais que gostaria de analisar e assim produzir uma reflexão.

Inicio com a alegada “criminalização dos movimentos que lutam em defesa da universidade pública”, conforme aparece na carta de Goiânia, e num artigo intitulado “A Democracia na UFSC está de Luto” ambos publicados no boletim da Apufsc. Este último criticava a presença da polícia federal no campus durante a reunião do CUn e que resultou na adesão ao Reuni. A presença policial – o artigo dá a entender – seria meramente uma reação dos setores conservadores neoliberais para sufocar o movimento contrário ao Reuni. A ambigüidade que me refiro neste artigo fica evidente em não analisar a presença policial como uma maneira de garantir a reunião do CUn e de preservar a integridade física dos conselheiros evitando assim a repetição de fatos lamentáveis passados onde uma sessão do CUn foi interrompida e conselheiros foram impedidos de deixar a sala de reunião. Em relação a esse evento, a não criminalização de atos ilegais, ainda que remotamente motivados por uma causa justa, é inaceitável, pois cria um clima de impunidade e alimenta outras ações ilegais. 

Há exatos seis meses, presenciamos em nosso campus o autoritarismo do Sintufsc com as infames barricadas que impediram o direito de ir e vir das pessoas, e o barulho de rojões e de tambores com desfile de pessoas fantasiadas que prejudicaram o andamento das aulas, tudo em nome do chamado direito de greve. Vimos também a ocupação ilegal da Reitoria por parte de alguns estudantes. Tais práticas são um acinte à democracia e em nenhum momento mereceram uma condenação da Apufsc.  Surge então a questão: Que democracia a Apufsc defende? 

Se desenha nas próximas semanas uma discussão intensa sobre o posicionamento da categoria sobre a questão salarial. Inevitavelmente a greve torna-se uma das possibilidades. 

Um dos jargões muito usados atualmente como justificativa para a greve é a chamada precarização do ensino. O Andes, na sua defesa radical de confrontar o governo, não percebe que a banalização da greve também contribui para a precarização do ensino. Afinal, nenhuma universidade atingirá excelência acadêmica com um calendário engessado por paralisações repetidas. 

Sou contrário à greve por uma questão de princípio, pois acredito que o direito de uma remuneração justa não deve ser obtido cerceando um direito dos estudantes. Defendo, no entanto, as justas reivindicações da minha categoria e sugiro a busca de formas alternativas de negociar com o governo. Voltando à questão das ambigüidades aponto uma última de foro íntimo. Alguns dirão que é necessário sacrificar alguns interesses para que possamos ter nosso aumento salarial e melhores condições de ensino. Assim, justificam a greve e o prejuízo causado aos estudantes. Infelizmente, em muitos se soma a isso um ranço ideológico que fortalece ainda mais a opção pela greve e que une o útil ao agradável, pois há aqueles que identificam nesses estudantes a mesma burguesia que eles juraram combater.