Dois tornados, duas mortes e SC em alerta

Os estragos provocados pelo tempo, no domingo, e a previsão de chuvas fortes, com possibilidade de temporais, deixam Santa Catarina, mais uma vez, de sobreaviso. Ontem, a Defesa Civil confirmou a morte de duas pessoas na localidade de Brilhante, em Itajaí. Bernadete Burigo, 34 anos, e Mateus Tomás, sete anos, estavam em um carro que foi arrastado pela água após o rompimento de uma barragem causado pela forte chuva de domingo à tarde na região. Ontem, também foi confirmada a passagem de outro tornado no domingo no Estado. Além de Ponte Alta, na Serra, também Turvo, no Sul, foi atingida pelo fenômeno.

O casal Hermínio Bitencourt da Silva, 63, e Leomi Maciel da Silva, 64, viu três funis se formarem no céu e varrer as lavouras até as plantas ficarem deitadas. O telhado de casa, do bar e da estufa de fumo do casal foram arrancados pelo vento. Um paiol onde havia dois veículos e quatro motocicletas caiu. De acordo com Leomi, “as nuvens estavam tão baixas que pareciam encostar-se no chão”.

O número de desabrigados e desalojados no Estado era de 467 pessoas e 13 os municípios que notificaram a Defesa Civil por problemas causados pelo mau tempo. Os temporais ainda obrigaram o fechamento de dois hospitais no Estado: o Santa Inês, de Balneário Camboriú, que só deve reabrir na semana que vem, e a Fundação Médico Social Rural, de Ponte Alta, único do município, que deve retornar às atividades ainda nesta semana.

A instabilidade deve durar pelo menos até amanhã. Os dias terão céu nublado, com possibilidade de chuva a qualquer hora na faixa Leste (Litoral e cidades próximas). A Defesa Civil do Estado emitiu um alerta preventivo de deslizamentos e alagamentos no Litoral e Vale do Itajaí. De acordo com a Epagri/Ciram, são esperados pelo menos mais 150 milímetros de chuva nestas duas regiões até quinta-feira.

Serras Geral e do Mar agem como barreiras naturais

O sistema chamado de lestada é o principal responsável por essas condições do tempo. Conforme o meteorologista da Central RBS Glauco Freitas, o sistema que atua sobre Santa Catarina acontece quando um centro de alta pressão se encontra sobre o oceano, próximo da costa.

O resultado são ventos de leste a nordeste, que retiram a umidade e a jogam em direção ao continente. Nas paredes naturais formadas pelas serras Geral e do Mar, o ar quente e úmido sobe e se resfria.

Todo este processo forma nuvens de chuva durante três dias consecutivos ou mais. O período mais chuvoso está previsto para o meio da semana. Estão propícias a essas condições, toda a faixa litorânea, o Vale do Itajaí, parte da Serra e Sul do Estado. O sistema é bastante semelhante ao ocorrido em novembro. Entretanto, como naquela época havia chovido por mais de um mês, o solo estava encharcado, o que contribuiu para as condições de deslizamento.

Segundo Freitas, outros sistemas meteorológicos (confira arte na página ao lado) também influenciam o tempo, como o vórtice ciclônico, a corrente de jato em altos níveis da atmosfera e também a umidade vinda da região amazônica. Entretanto, a lestada é o gerador do risco de alagamentos e deslizamentos.

Com a influência desses sistemas, a semana deverá ser a mais chuvosa da estação no Leste do Estado. Conforme o meteorologista, a precipitação deve superar 50% do valor histórico para todo o mês.