Novo vestibular ainda é polêmico

O ministro da Educação, Fernando Haddad, tem 48 horas para encaminhar a todas as universidades federais do país um detalhamento da proposta de vestibular unificado. O prazo foi estabelecido ontem pelo próprio ministro durante uma reunião em Brasília que reuniu 52 reitores das universidades federais brasileiras que, de portas fechadas, discutiram por mais de três horas a substituição do vestibular pelo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), que seria reformulado. Ao final da reunião, muitos dirigentes continuavam cheios de dúvidas e divergiam sobre qual será, de fato, o formato da prova apresentada pelo MEC. A maioria dos reitores ouvidos pelo Jornal do Brasil, no entanto, acredita que a proposta de já aderir ao novo modelo ainda em 2009 é inviável.

O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Aloísio Teixeira, é um deles. Apesar de ter abraçado a ideia desde o início por considerá-la “revolucionária”, não acredita que a UFRJ já esteja preparada para aderir a unificação. Mas levará para o conselho da instituição a proposta de aceitar o Enem como a primeira fase do processo seletivo:

–Teremos 8 mil vagas no próximo ano – explica. – A ideia é selecionarmos 20 mil candidatos do Enem para fazer a segunda fase. O problema é que o Enem é feito em outubro e o resultado só sai em janeiro. Com isso, não há tempo hábil para realizar uma segunda etapa antes do início das aulas.

O reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Roberto Sallés, enfrenta problema semelhante. Como haverá no meio do ano processo seletivo para os novos cursos da instituição, seria impossível aproveitar o Enem como a prova oficial. Além disso, o edital de isenção da taxa de vestibular do ano que vem já está pronto e será divulgado nos próximos meses.

Entretanto, Sallés ressalta que, ainda esse ano, a UFF começará a aceitar o Enem para beneficiar os alunos da rede pública, mas apenas como um bônus em alguma etapa do vestibular.

PROBLEMAS – A preocupação do reitor da Universidade de Sergipe, Josué Modesto, é com a segurança na realização das provas. Uma vez que uma fraude constatada em apenas uma unidade seria responsável pelo cancelamento de mais de 3 milhões de provas.

O reitor da Universidade Federal do Vale do São Francisco, em Petrolina (PE), José Webber, por sua vez, está preocupado com a possível desvantagem que os alunos dos pequenos centros terão em relação aos estudantes das grandes cidades. E, por isso, defende uma avaliação cautelosa. Com a mobilidade proporcionada pela prova única, ele acredita que os alunos mais afortunados teriam condições de cursar nas instituições mais distantes.

O reitor da Universidade Federal de Viçosa, Luis Cláudio Costa, parecia ser o mais favorável do grupo à proposta do MEC, mas pedia urgência na definição:
– O mais importante da discussão é chegar a um processo seletivo socialmente justo. Mas estamos no limite. É preciso decidir rapidamente.

Segundo o dirigente da Universidade Federal do Pará, Alex Fiúza de Melo, uma das vantagens do vestibular unificado é que as instituições poderão poupar a energia gasta na elaboração das provas e preocupar-se com o que de fato importa: a qualidade da educação.

Apesar das dúvidas e divergências, todos os reitores ouvidos pelo JB acreditam que um vestibular unificado que priorize o raciocínio em detrimento da decoreba proporcionará a vinculação qualitativa do ensino médio com o ensino superior.