O que os professores da UFSC esperam da nova Reitora

O ano de 2011 foi marcado pela conquista da Carta Sindical da Apufsc, formalizando-a como representante sindical dos professores das universidades federais de Santa Catarina. Neste mesmo ano, um processo de consulta paritária nos três segmentos da UFSC elegeu nossas colegas Roselane Neckel e Lúcia Pacheco como as próximas Reitora e Vice-Reitora da UFSC. Uma candidatura que durante a sua trajetória de campanha pautou-se pela independência de grupos constituídos na UFSC, pelo compromisso com princípios e com a ética e pelo respeito no tratamento com os seus oponentes.   Sua vitória representa uma grande ‘virada’, um desejo de mudança que é muito aparente em todos os segmentos. E, ao mesmo tempo, um compromisso com uma Instituição que apresenta imensos desafios de gestão, num momento em que vivemos uma grande crise institucional nas universidades públicas federais. Uma crise cuja solução depende, não apenas de um choque de gestão na UFSC, mas de um esforço coletivo de nossas entidades de representação, dos sindicatos à Andifes, passando pelas organizações estudantis, e, claro de nossa Reitora!…Este boletim é dedicado à essas questões fundamentais, com uma entrevista com a Professora Roselane que vai comandar nossa organização pelos próximos quatro anos, onde procuramos saber  as suas idéias e opiniões sobre problemas importantes para a UFSC.

As negociações sobre a  carreira são palco de um circo montado pelo MPOG, dirigido pelo ‘Senhor’ Duvanier, Secretário-Geral do MPOG, e protagonizado por uma Andes, muito pouco habituada à esta arte e por um Proifes cuja grande reivindicação é mostrar sua importância como aliado do Governo e, portanto, digno de concessões (pequenas) e de alguns favores.  O MEC ausente, a Andifes ‘surda e muda’ e os professores instados às 12 horas-aula semanais em sala de aula no ensino de graduação para aceleração de progressão e à uma classe adicional com 4 níveis, que afastam ainda mais os nossos colegas, aposentados como Adjunto IV, do sonho da paridade. As mudanças propostas pelo Governo no tocante ao processo de aposentadoria também tiram o sonho dos novos colegas recém ingressos na universidade de terem uma aposentadoria integral.  Por uma determinação, inteiramente inconstitucional, do ‘Senhor’ Duvanier, neste palco não entram nem o Sinasefe e nem a Apufsc. Nossos governantes, aparentemente, não conhecem ou desrespeitam os princípios essenciais da Constituição Federal (ou “se lixam ” para ela), restando o judiciário, num país que aparenta estar perdendo o bem mais valioso de uma democracia: a segurança jurídica.

Além deste (ou destes), a nova Reitora, como autoridade de Estado, terá outros grandes desafios pela frente. A interiorização da universidade pública em nosso estado é uma iniciativa do Governo Federal, por meio do programa REUNI e, sem dúvida, é algo que precisa ser apoiado. Mas tudo isto está sendo feito sem a necessária reflexão e sem a devida discussão entre pessoas que entendem de universidade e sabem o que é preciso para se manter a qualidade. Cedemos ao fascínio das verbas, aos novos prédios, aos números e esquecemo-nos do nosso maior bem: o estudante que formamos e que justifica a nossa existência como instituição de ensino. Os estudantes do REUNI se acotovelam em salas improvisadas com 200 outros colegas e nossos colegas iniciantes com um microfone na boca não conseguem olhar nos olhos dos seus alunos, para saber se eles estão aprendendo ou dormindo: uma arte que só a profissão ensina. E do REUNI passamos ao  Ensino à Distância (EaD). Como manter a qualidade do ensino diante de uma câmera LCD e alunos distantes?…Como dar aulas de laboratório e ensinar técnicas de cirurgia para estes alunos? Não há dúvida que precisamos do EaD, da mesma forma como, hoje, não há como prescindir da Internet. Mas até onde podemos usar o EaD? De que forma o EaD foi discutido em nossa comunidade universitária? Onde está pautada a nossa contribuição como professores de universidade à esta Universidade Aberta que se abre sobre nós? Que profissionais estamos formando para mudar a consciência de nosso País? E aqui caímos, inevitavelmente, no conceito de autonomia e de modelo de universidade. Qual o nosso modelo de universidade? O que o povo brasileiro espera de nós? Certamente a universidade que a sociedade brasileira precisa não é a “nossa” universidade e muito menos a dos “nossos” governos. Enquanto somos instrumentos de “massa” e de “voto” para os governos, a sociedade nos exige soluções para os problemas do país. A nova Reitora precisa estar consciente deste estado de “crise”, agravado pelo nosso fisiologismo institucional interno, quando pessoas se sobrepõem a princípios numa universidade, que precisa, apenas, ser  boa e não grande.

Nossos imensos desejos de sucesso nesta nova gestão às professoras Roselane e Lúcia, esperando uma gestão que se atenha aos grandes princípios que as tornaram Reitora e Vice-Reitora e votos de um bom ano de 2012 para os colegas professores, para os alunos e para os colegas servidores da UFSC que compartilham conosco as nossas angústias e anseios, como Servidores da Educação em nosso País e nossos companheiros de lutas. Deixamos aqui, também,  nossa homenagem póstuma ao Ney Pacheco, falecido nesta semana, que atuou como nosso jornalista durante mais de dez anos e que, além de sua paixão pelo Figueirense, fez do jornalismo sindical a sua razão de ser.