Devemos nos esforçar ou não para produzir algo academicamente relevante?

Marcelo Carvalho

Prof. Nestor em seu texto “Escravo” demonstra um descontrole emocional com as expectativas que a sociedade tem de que cada professor universitário (mantido pelos impostos dessa mesma sociedade) produza algo academicamente relevante na sua área de especialização, algo que requer uma dedicação incompatível com as demandas de um sindicato como o ANDES. Para ser mais explícito, um docente com 20 horas de pesquisa semanais e que tenha o compromisso de produzir algo academicamente relevante relutaria em participar de uma seção sindical operando nos moldes do ANDES pelo simples fato de que seu tempo seria diluído em inúmeras discussões, grupos de trabalhos, análise de conjuntura, manifestos de apoio a causas espúrias, já que é assim que essa é a dinâmica do ANDES.
Isso ocorre porque a mentalidade do ANDES ainda hoje reflete uma realidade de 40 anos atrás quando a conjuntura no meio acadêmico da época supervalorizava a figura do docente-militante-engajado. Os tempos mudaram e uma grande parte dos docentes recém-ingressos demonstra um novo tipo de pensamento e uma vocação para pesquisa. A situação se tornou tão incômoda que um professor bem conhecido e que se diz empenhado em fazer a “revolução brasileira” avaliou que o problema da APUFSC era político e criticou numa AG esses novos professores pelo esvaziamento (?) da APUFSC alegando que eles estão mais preocupados com seu “Latezinhos”.

Vejo que o prof. Nestor segue a mesma linha de pensamento do professor da “revolução brasileira”, quando escreve

“O sindicalismo independente está morto, mataram propositadamente, para não incomodar, resta o corpo moribundo da Apufsc definhando em um CR esvaziado, em assembleias sem quórum, que uma diretoria valente está tentando reanimar. Os que querem ver a Apufsc morta e insepulta (para atrapalhar o surgimento de qualquer organização sindical realmente reivindicativa) apostam na continuidade do imobilismo e te dizem: Produza algo academicamente relevante!
 
Será que a APUFSC está mesmo morta? Ora, o único critério racional para afirmar se um sindicato está morto é avaliar se ao longo dos anos ele perdeu um número significativo de associados. Se não perdeu, então AG’s esvaziadas apenas indicam que a maioria dos associados não estão interessados na pauta de discussão que está sendo colocada. E este desinteresse tem um significado bem evidente ao indicar que o sindicato tem que mudar sua forma de atuação.


Lembro que todo servidor público deve prestar conta do seu trabalho diante da sociedade. Assim, todo docente tem que ensinar e se esforçar para dar boas aulas, e aqueles que estão engajados em pesquisa, e que ganham horas de pesquisa, têm a obrigação adicional de apresentar algo academicamente relevante, principalmente os professores titulares que estão no topo da carreira e que devem ser exemplos de notável autoridade acadêmica.

Finalizo aqui tentando compreender  como alguém organizaria seu tempo para acompanhar as inúmeras atividades dentro de um sindicato como o ANDES. Só vejo duas possibilidades. Ou a pessoa abdica de seu estudo e torna-se um docente-militante engajado, ou se concentra em seu estudo e reduz a sua participação no sindicato, preservando assim seu tempo. Já que o prof. Nestor defende tanto o Andes talvez ele possa nos explicar como ele conseguirá conciliar a obrigação de ter que fazer algo academicamente relevante com tamanha devoção ao ANDES.

Professor de Departamento de Matemática