Para cortar recursos das ciências humanas, governo se apoia em modelo já revisto pelo Japão

 

Governo japonês decidiu voltar a promover as ciências humanas e sociais na nova política educacional a ser implementada no ano que vem

O presidente Jair Bolsonaro anunciou,  na última sexta-feira (26),  que o MEC estuda “descentralizar” recursos para áreas de humanas. Para embasar o estudo, o ministro da Educação,  Abraham Weintraub,  usou o Japão como modelo a ser seguido.

“O Japão, país muito mais rico do que o Brasil, está tirando dinheiro público das faculdades que são tidas como de elite, como filosofia. Pode estudar filosofia? Pode, (mas) com dinheiro próprio. E o Japão reforça: esse dinheiro que iria para faculdades como filosofia, sociologia, se coloca nas que geram retorno de fato: enfermagem, veterinária, engenharia e medicina”, afirmou o ministro durante uma transmissão ao vivo no Facebook na semana passada.

No entanto, o governo japonês, que desde 1995 vinha diminuindo orçamento para a área de humanas, decidiu voltar a promover as ciências humanas e sociais — com foco em ética e jurisprudência — em sua nova política de ciência e tecnologia, que será implementada a partir de 2020.

Isso porque nos últimos anos, pesquisas em áreas como inteligência artificial, mudanças climáticas e ciências biológicas criaram uma necessidade crescente de estudos sobre como esses avanços afetarão a sociedade e as pessoas que nela vivem.

Desvalorização das ciências humanas

As ciências humanas e sociais foram excluídas dos programas de promoção científica no Ato Básico de Ciência e Tecnologia japonês, assinado em 1995.

Vinte anos depois, em 2015, o ministro japonês da educação, Hakuban Shimomura, enviou uma carta às 86 universidades federais japonesas pedindo que tomassem “passos ativos para abolir as ciências sociais e humanas das organizações ou convertê-las para melhor atender às necessidades da sociedade”.

Naquela ocasião, cerca de 30 universidades japonesas responderam de imediato, prometendo fechar ou reduz seus departamentos de ciências humanas e sociais no ano seguinte.

No entanto, as duas maiores universidades japonesas, a de Tóquio e a de Kioto, afirmaram que não iriam atender ao pedido. O movimento chamou a atenção de acadêmicos de todo o mundo, levando muitos a se manifestarem contra a medida.

Com a onda reativa, atualmente a maior parte dos departamentos de ciências humanas permanece funcionando, porém com cada vez menos apoio financeiro.

Pesquisadores dessa área recebem salários mais baixos em comparação aos de colegas que trabalham nas mesmas instituições, porém focados em ciências naturais e tecnológicas.

As empresas que realizam estudos conjuntos com instituições de pesquisa em ciências sociais estão excluídas das isenções fiscais e de outros tipos de incentivos. A Agência de Ciência e Tecnologia do Japão, do Ministério da Educação, não fornece subsídios de ajuda para propostas de estudo que enfocam apenas as ciências humanas ou sociais. 

Leia a matéria completa: O Globo


C.G./L.L.