Quatro universidades federais podem parar de funcionar em agosto

De 14 universidades ouvidas pela Folha, quatro relataram dificuldade para funcionar no segundo semestre:  UFSC, UFRJ, UFPE  e UFBA

Após o governo anunciar cortes de verbas para as universidades federais, as instituições começam a apresentar dificuldades para se manterem em funcionamento. A Folha de SP ouviu reitores, professores e alunos de 14 das 68 unidades do país, as quais relatam impacto no cotidiano dos campi. Pelo menos quatro universidades federais — do Rio de Janeiro, de Pernambuco, de Santa Catarina e da Bahia— estimam que só terão condições de funcionar plenamente até  agosto deste ano.

A Universidade Federal da Bahia , uma das primeiras afetadas pela medida do ministro Abraham Weintraub, terá R$ 43 milhões a menos para custear serviços como água, energia e segurança e já tem fornecedores com pagamentos em atraso. Na última quarta (8), os funcionários de uma das empresas que prestam serviço de vigilância nos campi paralisaram as atividades por não terem recebido os salários.

“Há uma intranquilidade dos fornecedores, que sabem que estamos vivendo um momento de restrição. Começamos a ter dificuldades até mesmo nas nossas licitações”, diz o reitor, João Carlos Salles.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que teve o maior corte – R$ 114 milhões – , informa que os serviços básicos podem parar em junho. “O que já estava ruim torna-se intolerável”, diz o reitor Roberto Leher, também relatando tensões com fornecedores. Segundo ele, a instituição, que há anos fecha suas contas com déficit, está no limite e já fez todos os cortes estruturais possíveis, como demitir mais da metade dos 5.000 funcionários terceirizados.

“É impossível ficar um dia sem segurança ou dois dias sem limpeza nos campi. Temos uma produção muito grande, por exemplo, de lixo hospitalar e produtos químicos. Não dá para improvisar.”

Projetos de extensão também estão ameaçados na UFSC. É o caso do projeto de robótica desenvolvido em Araranguá (a 215 km de Florianópolis) por 20 alunos que equiparam um laboratório com recursos próprios e doações para desenvolver robôs e levá-los a competições e demonstrações em escolas.

O reitor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Anísio Brasileiro, avalia que terá que fazer cortes drásticos em serviços de segurança, energia e limpeza. O mesmo deve acontecer na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina),onde o orçamento foi reduzido em quase R$ 60 milhões. “Foi assinada nossa sentença de morte, e muito doída. Educação não se constrói da noite para o dia”, diz Cristiane Derani, pró-reitora de pós-graduação da UFSC.

Na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), as restrições já atingem a assistência estudantil. Os alunos de matemática de baixa renda, por exemplo, deixaram de receber o benefício de R$ 180 por semestre para aquisição de itens como compassos, réguas e cadernos. Agora, eles temem que também sejam encerradas as monitorias, nas quais estudantes de semestres avançados recebem R$ 400 mensais para ajudar alunos com dificuldades. “As monitorias ajudam a diminuir a evasão e a reprovação nas disciplinas básicas do curso”, diz Ana Paula Santos, 21 anos, aluna do segundo semestre.

Na Universidade Federal de Minas Gerais, alunos temem impactos em serviços como restaurantes e residências universitárias. Segundo o  Diretório Central dos Estudantes, são quase 9  mil alunos com assistência estudantil e, dentre eles, cerca de 5.700 hoje não pagam por alimentação.

A redução da assistência estudantil, e consequentemente do número de alunos em federais, como a Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto), pode impactar na economia das cidades, uma vez que a universidade atrai estudantes de outros municípios e estados e tem papel central no emprego e na renda da região.

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