Cientistas saem em defesa de diretor do Inpe, criticado por Bolsonaro

Após ataques do presidente Jair Bolsonaro aos dados de monitoramento de desmatamento gerados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), cientistas reagiram em defesa do trabalho conduzido pelos pesquisadores da instituição.  

Neste domingo (21), a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), a maior sociedade científica do país, lançou um documento em que critica as atitudes de Bolsonaro (leia mais abaixo). 

Bolsonaro afirmou na última sexta-feira (19) que os dados sobre desmatamento divulgados pelo Inpe não condizerem com a verdade e que prejudicam o nome do Brasil no exterior. Bolsonaro chegou a afirmar para jornalistas que o diretor do Instituto Ricardo Galvão poderia estar a “serviço de alguma ONG.” 

Dados preliminares de satélites do Inpe mostram que mais de 1.000 km² de floresta amazônica foram derrubados na primeira quinzena deste mês, aumento de 68% em relação a julho de 2018.

“É lógico que eu vou conversar com o presidente do Inpe. [São] Matérias repetidas que apenas ajudam a fazer com que o nome do Brasil seja malvisto lá fora”, afirmou, ao final de um evento no Ministério da Cidadania em comemoração do Dia Nacional do Futebol. “Vou conversar com qualquer um que esteja a par daquele comando, onde haja a coisa publicada, que não confere com a realidade, vai ser chamado para se explicar. Isso é rotina, toda semana, todo dia, acontece isso aí.”

Em entrevista ao jornal o Estado de S. Paulo, Galvão disse que ter ficado escandalizado com as declarações que, para ele, parecem mais “conversa de botequim”.  “A primeira coisa que eu posso dizer é que o sr. Jair Bolsonaro precisa entender que um presidente da República não pode falar em público, principalmente em uma entrevista coletiva para a imprensa, como se estivesse em uma conversa de botequim. Ele fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse País”, afirmou. Leia a entrevista na íntegra aqui

No domingo, à Folha de S. Paulo,   Galvão disse que até pode ser demitido, mas que o instituto é cientificamente sólido o suficiente para resistir aos ataques do governo.  “Pode haver consequências para mim, ser demitido. Mas para o instituto não pode haver. Primeiro porque o orçamento já está estabelecido para este anod+ estamos preparando o orçamento para o ano que vem. E a situação ficou tão clara, foi tão incrível a quantidade de apoio, até do exterior, que fica impossível para o governo, na minha opinião, fazer algum tipo de retaliação, o que seria ainda mais contundente contra o governo”, disse Galvão.

Apoio 

O documento, assinado pelo presidente da SBPC, o físico Ildeu de Castro Moreira afirma que “a ciência produzida pelo Inpe está entre as melhores do mundo em suas áreas de atuação, graças a uma equipe de cientistas e técnicos de excelente qualificação, e presta inestimáveis serviços ao País”. “Ricardo Galvão é um cientista reconhecido internacionalmente, que há décadas contribui para a ciência, tecnologia e inovação do Brasil. Críticas sem fundamento a uma instituição científica, que atua há cerca de 60 anos e com amplo reconhecimento no País e no exterior, são ofensivas, inaceitáveis e lesivas ao conhecimento científico”, diz o texto. 

A Academia Brasileira de Ciências também emitiu nota neste domingo em que reitera o apoio ao Inpe a Galvão: “ Seu corpo de pesquisadores é de altíssimo nível e por isso participa dos principais fóruns mundiais nas áreas de suas especialidades. Sua infraestrutura é invejável e representa o estado-da-arte nas áreas relacionadas à sua missão.”

“O Prof. Dr. Ricardo Galvão é pesquisador reconhecido mundialmente pela excelência do trabalho científico que realiza há mais de quatro décadas, tem prestado excelentes serviços ao país e tanto seu trabalho como o do Inpe não podem ser desrespeitados sem argumentação científica. O Inpe é orgulho do país, realiza trabalho de excelência e os ataques a sua credibilidade científica atacam também toda a comunidade de pesquisadores do Brasil e a soberania nacional.”, conclui o texto, assinado pelo presidente da entidade, o físico Luiz Davidovich.

Leia mais: Estadão, Folha e Jornal da Ciência