Na UFSC, 1.831 pesquisadores do CNPq podem ficar sem bolsa em setembro

“O que vem daqui para frente nos preocupa”, diz pró-reitor de Pesquisa da universidade 

Com o caixa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) zerado a partir de setembro, 1.831 pesquisadores da UFSC estão prestes a ficar sem bolsa nas próximas semanas. Desse total, 561 são estudantes da graduação, que fazem Iniciação Científica, mas há também professores sêniores com bolsas de Produtividade em Pesquisa (431) e bolsistas de mestrado (321), doutorado (346) e pós-doutorado (38). 

Em muitos casos, o auxílio, que vai de R$ 400 a R$ 2.200, é a principal fonte de renda desses pesquisadores, já que uma das exigências para o recebimento da bolsa é a dedicação exclusiva às atividades de pesquisa. “Nós não tivemos até o momento nenhuma bolsa suspensa oficialmente, mas o que vem daqui para frente nos preocupa”, diz o Pró-Reitor de Pesquisa da UFSC, Sebastião Roberto Soares. 

No País inteiro, cerca de 84 mil pesquisadores do CNPq correm o risco de perder a bolsa a partir do mês que vem. Ligada ao Ministério da Ciência, a agência de fomento à ciência tem uma folha de pagamentos de R$ 82,5 milhões por mês e não tem recursos para bancar os próximos quatro meses – um total de R$ 330 milhões. Para cobrir esse rombo, o governo teria de tirar recursos de outro lugar e aprovar essa “transferência” no Congresso. 

Em entrevista ao Jornal da USP, na semana passada, o presidente do CNPq, João Luiz Filgueiras de Azevedo, disse que na melhor das hipóteses, teria como pagar os bolsistas do exterior, que custam R$ 12 milhões por trimestre. “Essa seria minha primeira opção, pois entendo que esses não têm muito para onde correr”, avalia Azevedo.

Na UFSC, sem saber ao certo o que vem pela frente, Soares reclama da falta de informação e da consequente dificuldade de planejamento. “Isso é bastante sério, bastante grave. Sobretudo a forma como isso está acontecendo. Está sendo de uma maneira muito abrupta. As notícias estão chegando e não dá tempo para se preparar ou se planejar a uma eventual situação mais grave”, afirmou. “Esperava que houvesse um chamamento aos nossos dirigentes, reitores, e que colocasse de uma maneira clara o que está acontecendo.” 

Com a falta de recursos, que pode culminar com o não pagamento das bolsas no mês que vem, o CNPq vem anunciando, em pílulas, uma série de medidas para conter gastos. Primeiro,  foram suspensas as indicações de bolsas especiais e a implementação de novas bolsas ligadas à Chamada Universal de 2018.

No dia 15 de agosto, foram bloqueadas cerca de 4.500 bolsas, que não estavam ocupadas por alunos ou que ficariam disponíveis em breve.  O Pró-Reitor de Pesquisa da UFSC, Sebastião Roberto Soares, disse que não teria como precisar, no momento, o impacto desse último bloqueio entre os bolsistas da universidade.  

O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, tem dito que está negociando com a Casa Civil e com o Ministério da Economia a liberação de um crédito suplementar para evitar a suspensão do pagamento de bolsistas.

Eduardo Melo, Vinicius Cláudio e Victor Lacombe