Science publica artigo sobre os impactos da indicação de um criacionista para presidir a CAPES

A nomeação de Benedito Aguiar preocupa a comunidade científica brasileira e internacional

Uma das principais revistas de divulgação científica do mundo, a estadunidense Science, publicou um artigo alertando sobre os possíveis impactos da nomeação de Benedito Aguiar Neto para presidir a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O autor do artigo é o jornalista brasileiro Herton Escobar, que é colaborador internacional da revista desde 2015 e especializado na cobertura de ciência e meio ambiente.

O artigo foi traduzido e publicado no blog de Marcos Pedlowski, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense em Campos dos Goytacazes (RJ). Leia a versão em português a seguir:

A escolha de um Criacionista para liderar agência de ensino superior preocupa cientistas brasileiros

Por Herton Escobar para a Science

A nomeação de um defensor do Criacionismo para liderar a agência que supervisiona os programas de pós-graduação no Brasil preocupa os cientistas – mais uma vez – com a invasão da religião nas políticas públicas de ciência e  educação.

No sábado, o governo do presidente Jair Bolsonaro nomeou Benedito Guimarães Aguiar Neto para chefiar a agência, conhecida como CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Aguiar Neto, um engenheiro elétrico, atuou anteriormente como reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (MPU), uma escola particular de orientação religiosa. Aguiar Neto defende o ensino e o estudo do Design Inteligente (DI), uma conseqüência do Criacionismo bíblico que argumenta que a vida é complexa demais para ter evoluído pela evolução darwiniana e, portanto, exige a existência de um designer inteligente.

Pesquisadores estão lamentando a indicação. “É completamente ilógico colocar alguém que tem promovido ações contrárias ao consenso científico em posição de gerenciar programas que são essencialmente de treinamento científico”, disse o biólogo evolucionista Antonio Carlos Marques, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).

A nomeação cria “insegurança” sobre como a CAPES moldará os programas educacionais, diz Carlos Joly, pesquisador de biodiversidade da Universidade de Campinas (Unicamp).

A CAPES é uma agência federal importante do Ministério da Educação do Brasil. É responsável por regular, supervisionar e avaliar todos os programas de pós-graduação nas universidades brasileiras e financia milhares de bolsas de estudos para mestrandos e doutorandos.  A CAPES também emite apelos de financiamento para pesquisa e fornece treinamento para professores no ensino fundamental e médio.

Aguiar Neto foi recentemente citado em um comunicado de imprensa da Universidade Mackenzie onde afirmava que o DI deveria ser introduzido nos currículos da educação básica do Brasil como “um contraponto à Teoria da Evolução” , e para que o Criacionismo pudesse ser apoiado por “argumentos científicos”.  Aguiar Neto fez os comentários antes do 2º Congresso sobre Design Inteligente, realizado na Universidade Mackenzie em outubro de 2019. O evento foi organizado pelo Discovery Mackenzie, um centro de pesquisa criado pela Universidade Mackenzie em 2017 para espelhar o Discovery Institute em Seattle, que também promove os postulados do Desenho Inteligente

Aguiar Neto é reitor da Mackenzie desde 2011. Na CAPES, ele substitui Anderson Correia, que agora é reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), uma escola de elite de engenharia ligada à Força Aérea Brasileira.

Esta é a segunda vez em Bolsonaro que as visões de um candidato sobre o Criacionismo se tornam um problema. Em janeiro de 2019, Damares Alves, recém-nomeada ministra das Mulheres, Família e Direitos Humanos de Bolsonaro, recebeu críticas por dizer, em um vídeo de 2013, que as igrejas evangélicas do Brasil haviam perdido influência na sociedade, permitindo que os cientistas “controlassem” o ensino da evolução nas escolas. Os cristãos evangélicos do Brasil estão entre os mais fortes apoiadores de Bolsonaro.

Clique aqui para ler o artigo original, publicado em inglês pela revista Science.

Fonte: Blog do Pedlowski