Chapa vencedora da eleição do Andes defende luta por investimentos em educação e autonomia universitária

Professora Rivânia Moura, apoiada pela atual gestão, foi a escolhida para presidir o sindicato

O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) anunciou nesta semana a Chapa 1, liderada pela professora Rivânia Moura, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, como a vencedora das eleições realizadas entre os dias 3 e 6 de novembro. Essa foi a primeira eleição do Andes que ocorreu de forma telepresencial. Inicialmente, a consulta aos docentes estava prevista para ser presencial, em maio, mas foi adiada para o início deste mês em função da pandemia.

Com a vitória da chapa “Unidade para vencer”, a professora Rivânia Moura assume a presidência do Andes-SN no biênio 2020-2022. A posse está prevista para dezembro, durante o 10º Conselho Nacional das Associações Docentes (Conad).

A professora Rivânia Moura integra o mesmo grupo que está à frente do Andes nas últimas duas décadas. Ela disputou esta eleição com a chapa liderada pela professora Celi Taffarel, da Universidade Federal da Bahia, que faz parte de um movimento de oposição à atual gestão do sindicato nacional, batizado de Renova Andes.  A chapa 1 venceu com 7.086 votos (55% do total), enquanto a chapa 2 obteve 5.658 votos (44%). Brancos e nulos somaram 112 votos.

Em seu site, a Associação dos Docentes da UFRJ, vinculada ao Andes, destacou que a eleição deste ano teve uma participação menor do que a de 2018. Agora, 12.856 professores votaram, o que representa 19,1% do universo de 67.268 docentes aptos. Na eleição passada, também com duas chapas, “o Andes tinha 69.152 eleitores e 24,4% deles compareceram às urnas, ou seja, foram 16.887 votantes”. A professora Celi Taffarel relaciona a menor participação às mudanças no processo eleitoral este ano. “Esta eleição é excepcional porque se dá em plena pandemia, com universidades em ensino remoto. Isso dificultou a participação dos professores”.

A Apufsc conversou com as professoras Rivânia Moura e Celi Taffarel. Independemente do resultado, ambas defendem a luta por investimentos na educação, pela autonomia das universidades e pelo fortalecimento de pautas regionais. E, principalmente, a união da categoria em torno da defesa da educação pública.

Os desafios da próxima gestão

Rivânia Moura lembra que o governo pretende cortar em mais 18% o orçamento das universidades em 2021. “Progressivamente tem havido uma diminuição do orçamento das universidades, o que se agravou durante a pandemia”, diz. “Isso é muito grave, e quando diminui na própria fonte, que é na lei orçamentária anual, o impacto é muito maior. Esse corte anunciado passa pela manutenção das universidades e institutos, pela assistência estudantil, e algumas universidades declararam, inclusive, a impossibilidade de funcionar”. Para ela, a questão precisa ser enfrentada juntamente com o movimento estudantil, com os técnicos e a população em geral. “É uma luta que precisa ser travada para além das pessoas que estão diretamente envolvidas com a educação pública, pela importância das nossas instituições de ensino superior públicas, pela importância da pesquisa, que têm resultados para o atendimento de necessidades sociais. Precisamos mostrar a importância da educação”, afirma a presidente eleita. 

Professora Rivânia Moura foi a eleita em votação telepresencial do Andes (Foto: Aduern).


Ela defende a necessidade de atuação contra as nomeações de reitores feitas por Jair Bolsonaro que desrespeitam a escolha da comunidade universitária. “Temos 17 instituições federais hoje que estão com interventores. É um processo de total desrespeito à autonomia universitária e à liberdade de escolha da comunidade acadêmica em relação a seus representantes. Precisamos de uma mobilização para rever essas intervenções e impedir outras”, afirma Rivania.  

A professora Celi Taffarel, da Universidade Federal da Bahia, que liderou a chapa 2, concorda que essa deve ser uma prioridade. “Precisamos fazer uma campanha contra a ingerência nas universidades com nomeação de quem não foi escolhido. Isso é um absurdo”.

Professora Celi Taffarel destaca importância de um trabalho articulado (Foto: Andes).

Outro ponto lembrado pelas duas docentes é o ensino remoto. “É necessário defender a ciência, a educação pública, proteger os professores que estão em um ensino remoto emergencial que está transtornando a vida de todos”, afirma Celi. Rivânia defende que o ensino remoto precariza o trabalho dos professores e é excludente para os alunos. “Isso é o contrário de um projeto de educação pública de qualidade, universal e abrangente, que o Andes defende e tem ajudado a construir no Brasil.”

A presidente eleita do Andes diz que, neste momento, é necessário garantir a defesa de condições de trabalho e operacionalização para esses professores durante o ensino remoto, e também propor, com movimento estudantil e técnicos, uma luta ampliada para que esse ensino não se torne uma modalidade permanente em instituições de ensino superior públicas. “Aliado a isso, precisamos ampliar a luta pela defesa da vida, pela vacina, pela segurança sanitária”, diz Rivânia.

O momento é desafiador, como sinalizam as duas professoras. “Estamos sofrendo inúmeros ataques à educação pública, aos servidores públicos, à nossa categoria docente, ao conjunto dos trabalhadores. Temos um governo de extrema direita, muito conservador, o que nos impõe muitos desafios”, afirma ainda Rivânia.

A professora Celi vai além e fala da necessidade de se fazer um trabalho mais articulado com as regionais do Andes, para operacionalizar as pautas e as lutas, unir forças e mobilizar a categoria. “Temos que nos unir e construir a mais ampla frente de defesa da universidade, dos professores, colocar um fim à política nefasta de ultraconservadorismo, barrar a reforma administrativa, os cortes de orçamentos. São muitas as tarefas que temos que enfrentar e batalhar juntos”, destaca Celi.

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