Professora da UFSC está entre autores com maior número de publicações sobre bem-estar animal no mundo

Maria José Hötzel aparece no levantamento publicado pela revista Animals na 15ª colocação, com 53 registros contabilizados

Uma pesquisa bibliométrica publicada na conceituada revista Animals identificou a professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Maria José Hötzel, pesquisadora nível 1-A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre os autores com o maior número de publicações sobre bem-estar animal no mundo. A UFSC também figurou como uma das instituições que mais têm publicado na área, e o CNPq e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) foram destaques no fomento à pesquisa.

Fruto de uma parceria entre a Universidade de Queensland (Austrália) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), o levantamento teve como autores Clive Phillips e Carla Molento. A pesquisa bibliométrica examinou a produção de publicações sobre bem-estar animal por meio do Web of Science, um dos bancos de dados mais populares do mundo. Foram consideradas publicações ocorridas entre 1990 e maio de 2020 em 22 idiomas.

“Estudamos a literatura científica sobre bem-estar animal que foi publicada em periódicos, tanto por cientistas em centros de bem-estar animal como por aqueles fora destes centros. Descobrimos que a literatura dos centros têm maior probabilidade de reconhecer o financiamento da indústria, o que parece trazer oportunidades para os respectivos cientistas conduzirem mais pesquisas em seu campo, mas também pode tornar difícil para esses cientistas defenderem melhorias no bem-estar animal se elas entrarem em conflito com os objetivos da indústria”, afirmam os autores no resumo do artigo.

Os centros de bem-estar animal são considerados grupos de pesquisa e ensino apropriados a instituições como universidades. Acredita-se que a primeira iniciativa nesse sentido tenha sido o Animal Welfare Institute dos Estados Unidos, fundado em 1951. Já o primeiro artigo de um centro universitário de bem-estar animal foi publicado em 1978, segundo os pesquisadores, pela Estação de Bem-Estar Animal da Escola Veterinária da Universidade de Budapeste.

Resultados da pesquisa

A pesquisa detectou 4.851 registros que incluíam o termo “bem-estar animal” em seus endereços. Desse total, 4.404 (91%) foi publicado em inglês, 373 em alemão, 46 em polonês, 11 em espanhol, 10 em português, 3 em húngaro, 2 em holandês e 2 em francês. Os principais autores com mais de 100 publicações eram provenientes da Austrália, Canadá e Alemanha.

A professora Maria José Hötzel aparece no levantamento na 15ª colocação, com 53 registros contabilizados. A docente integra o Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural do Centro de Ciências Agrárias da UFSC desde 2006, no entanto, iniciou como bolsista recém-doutor do CNPq e professora visitante ainda em 1997. Ela explica que o interesse pelo estudo do bem-estar animal surgiu após o doutorado, quando conheceu o professor Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho – hoje seu colega no Laboratório de Etologia Aplicada e Bem-Estar Animal, o LETA.

“Bem-estar animal é um conceito de natureza ética e está ancorado no reconhecimento de que os animais têm sentimentos, ou seja, são seres sencientes. (…) O comportamento animal é um tema fascinante; é um grande desafio desenhar e desenvolver estudos para entender como e por que ocorrem os comportamentos nas diferentes espécies animais. Estudar e discutir o aspecto ético do bem-estar animal me interessa muito, e é um tema excelente para desenvolver pensamento crítico nos estudantes”, ressaltou a professora.

Maria José destaca ainda que o assunto está em crescente discussão, tanto pelo público em geral quanto por associações e fóruns das profissões agrárias e biológicas, além do setor produtivo. “O tema vem ganhando destaque e passou a ser mais discutido em função da pandemia, que evidenciou o problema das zoonoses [doenças infecciosas que se transmitem entre animais e humanos]. Em diferentes medidas, todos esses atores sociais estão se conscientizando da enorme relevância de criar relações adequadas com os animais para evitar e controlar zoonoses”, afirmou. De acordo com a professora, para se avançar realisticamente no sentido de evitar ou minimizar problemas como zoonoses e resistência bacteriana aos antibióticos, bem como produzir alimentos para a crescente população humana, é necessário repensar os sistemas de criação dos animais.

Destaque para UFSC, CNPq e Capes

Outro ponto de destaque na pesquisa veiculada na revista Animals foi a posição da Universidade Federal de Santa Catarina entre as principais instituições com publicações na área. A UFSC figura na lista no 22º lugar, com 69 registros. Nas três primeiras colocações do ranking aparecem: University of British Columbia, do Canadá, com 524 publicações; University of Queensland, na Austrália, com 253; e University of Melbourne, na Austrália, com 250.

Para a professora Maria José Hötzel, este reconhecimento deve servir a todos como estímulo e valorização do esforço pessoal e do grupo. “No contexto da internacionalização da ciência e dos esforços da UFSC, esse reconhecimento é muito importante, pois valoriza as colaborações atuais e abre um potencial para novas parcerias”. Ela explica que sua pesquisa na área de etologia e bem-estar animal é toda desenvolvida em colaboração com os professores Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho e Denise Pereira Leme e estudantes de graduação e pós-graduação, além de alguns colaboradores internacionais. “Ou seja, esse reconhecimento é do LETA, que é o laboratório mais antigo no Brasil na área de Etologia Aplicada, e do Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, que este ano fez 25 anos”, reforça.

Além dos autores e das instituições, a pesquisa apontou ainda as principais fontes de financiamento para a realização das pesquisas. Nesta categoria, o Brasil teve dois destaques entre as quatro primeiras colocações: o CNPq em segundo lugar, com 100 publicações; e a Capes, em quarto, com 66 publicações.

A docente da UFSC classifica o papel destas instituições de fomento como “fundamental”. “Hoje praticamente todo o nosso trabalho é apoiado pelo CNPq, Capes e também pela Fapesc [Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina], através de bolsas de estudantes e dos professores, financiamento à pesquisa e apoios a intercâmbios internacionais. Em todas as nossas publicações aparece esse reconhecimento pelo financiamento das bolsas e da pesquisa, o que é também importante para a projeção internacional da pesquisa feita no Brasil”, finalizou.

Fonte: Agecom