Comunidade científica se une em campanha pela vacinação

#TodosPelasVacinas propõe Dia V nesta quinta-feira (21); organizações como a Apufsc, cientistas e artistas integram iniciativa voltada para tratar da importância da imunização e combater notícias falsas

A comunidade científica e diversas instituições, comunicadores de ciência, artistas e cientistas se mobilizam na campanha #TodosPelasVacinas, voltada para a conscientização sobre a importância da vacinação e para o combate à desinformação. Nesta quinta-feira (21), como parte da iniciativa, haverá o Dia V pelas vacinas. A campanha prevê uma série de ações nas redes sociais com a hashtag #TodosPelasVacinas, com o objetivo de esclarecer dúvidas sobre as vacinas e combater a disseminação de notícias falsas. A Apufsc e a UFSC são parceiras na campanha. 

“Vacina é o único remédio contra a Covid-19. É um direito individual e uma necessidade coletiva”, disse o presidente da Apufsc, Bebeto Marques. “O sindicato estimula e vai trabalhar para que a população, assim como professores e professoras tenham esse direito assegurado. É vergonhoso, inexplicável e inaceitável que o Brasil não tenha hoje as quantidades de vacinas de que necessita.” Bebeto Marques reforça que quem acredita na ciência e defende a vida deve estimular a população a se vacinar.

#TodosPelasVacinas é organizada por ABRASCO, Blogs de Ciência da Unicamp, COSEMS/SP, Equipe Halo/Nações Unidas (ONU),  Instituto Questão de Ciência, Núcleo de Pesquisas em Vacinas da USP (NPV-USP), Observatório COVID-19 BR, Rede Análise COVID-19, Núcleo de Pesquisas em Vacinas da USP, ScienceVlogs Brasil, Sociedade Brasileira de Imunologia e a União Pró-Vacina.

::: Confira o material completo da campanha #TodosPelasVacinas e acompanhe também os conteúdos nas redes sociais da Apufsc.

Vacinação contra Covid-19

A vacinação contra o coronavírus teve início nesta semana no país. Na primeira fase, terão prioridade os trabalhadores da saúde, pessoas com mais de 75 anos, idosos em instituições de longa permanência e povos indígenas. Pelo Plano Nacional do Ministério da Saúde, depois desse primeiro grupo, integram a segunda fase da imunização as pessoas de 60 a 74 anos. Na terceira fase, estão aqueles com comorbidades, como diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave.

No quarto grupo, estão os profissionais de educação, incluindo os professores universitários. Profissionais da saúde destacam que a adesão da população à vacinação é fundamental para que o vírus pare de circular. Até que a população esteja de fato protegida, é preciso seguir os protocolos de segurança, mantendo o distanciamento social, evitando aglomerações, espaços fechados, mantendo a etiqueta respiratória e fazendo o uso de máscaras.

A professora do departamento de Saúde Pública da UFSC, epidemiologista e membro do Observatório Covid-19Br Alexandra Boing esclarece sobre a imunização contra o coronavírus. Confira!

Professora Alexandra Boing traz informações sobre
a vacinação (Foto: Arquivo Pessoal)



Apufsc: Por que é tão fundamental que toda a população se vacine contra a Covid?
Profa. Alexandra:
É importante lembrar que a vacinação é uma medida efetiva para prevenir e reduzir diversas doenças, tanto do ponto de vista individual como coletivo. É por meio das vacinas que conseguimos evitar epidemias, mortes e, em alguns casos, até erradicar doenças. O caso da COVID-19 não é diferente. A alta cobertura vacinal contra COVID-19 é fundamental pois, além de proteger cada pessoa que se vacinar, quando se atinge alta cobertura, ocorre uma proteção coletiva. Com ela, o vírus circula menos e isso protege as pessoas que ainda não se vacinaram ou que no momento não podem se vacinar. Ainda não sabemos ao certo qual é exatamente esse percentual de cobertura necessário, pois ainda precisamos verificar se a eficácia dos estudos será confirmada pela vacinação em massa. Entretanto, acreditamos que com cerca de 75% a 80% da população vacinada é que conseguiremos levar a doença para nível endêmico, quando a população continua a conviver com a doença, mas em níveis esperados, e então conseguiremos ter o controle da situação. Acima de tudo, por meio da vacinação iremos reduzir drasticamente a ocorrência de casos mais graves da doença, que é o nosso grande objetivo no momento. É preciso destacar que haverá uma parte da população que não poderá ser vacinada neste momento (grávidas, lactantes e menores de 16 anos, por exemplo), e a imunização em massa é fundamental para impedir que estas pessoas sejam infectadas. Por isso que a vacinação vai muito além da prevenção individual, é uma estratégia coletiva, em que todos se beneficiam.

Apufsc: A Coronavac registrou eficácia de 50,4%. Ainda assim ela pode ser considerada eficaz? Por quê?
Profa. Alexandra:
É fundamental destacar que a CoronaVac é, sim, eficaz e a única vacina no momento que temos no Brasil. Criou-se um ruído em torno da eficácia global da CoronaVac totalmente desnecessário e incorreto, mas o resultado é satisfatório e cumpre os requisitos de uma vacina segundo parâmetros de agências internacionais e nacionais de vigilância. A CoronaVac é eficaz, segura, evita o agravamento da doença em mais da metade da população. Para se ter uma comparação, esse percentual é semelhante a vacinas como da BCG, do rotavírus, da coqueluche, e inclusive acima da vacina contra a gripe, que chega em alguns momentos na ordem de 40% e mesmo assim reduz a mortalidade. Conforme formos conseguindo ampla cobertura vacinal com a CoronaVac e outras vacinas, certamente o número de casos que requerem atenção médica e de óbitos cairá expressivamente. Reforço que é preciso entender que a vacinação é uma estratégia coletiva e não apenas uma proteção individual. Assim, #TodosPelasVacinas vamos conseguir reduzir os riscos.

Apufsc: Há riscos graves para quem se vacinar?
Profa Alexandra:
Precisamos destacar que as vacinas aprovadas CoronaVac e Oxford/AstraZeneca são seguras e eficazes, conforme destacado pela própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).  Quanto aos riscos e efeitos colaterais, os resultados das pesquisas são bem positivos. Não existem riscos graves observados nos ensaios clínicos conduzidos. Além disso, já temos mais de 40 milhões de pessoas vacinadas em todo o mundo e observamos grande segurança nas vacinas utilizadas. Os riscos e efeitos colaterais são semelhantes às outras vacinas que já tomamos, como dor no local da injeção, dor local, dor de cabeça e fadiga. Logicamente após o início da vacinação teremos acompanhamento rígido de eventuais eventos adversos, algo usual e que ocorre para todas as vacinas. 

Apufsc: Existe alguma vacina contra Covid que seja mais recomendável ou menos?
Profa. Alexandra:
Não, todas as vacinas que forem aprovadas pela ANVISA são e serão seguras e eficazes. Nesse primeiro momento, os países precisarão lançar mão de vacinas produzidas por diferentes empresas, pois nenhuma irá conseguir suprir isoladamente toda a necessidade de um país. Assim, as campanhas nacionais de vacinação incluirão em sua rotina mais de uma vacina e o Brasil não é exceção. Não há razão e nem possibilidade pela escolha individual de uma ou outra vacina nesse momento e isso não tem relevância. As vacinas a que o Brasil terá acesso serão verificadas pela ANVISA, uma das mais sérias e competentes agências de vigilância do mundo, e entrarão no território brasileiro após essa análise. O nosso esforço deverá ser em conseguir alta cobertura vacinal com as vacinas certificadas, isso é o que importará e fará a diferença.

Apufsc: O Brasil sempre se destacou mundialmente em campanhas de vacinação. O que é fundamental para que tenhamos sucesso também na imunização contra Covid?
Profa. Alexandra:
Em primeiro lugar, precisaremos de vacinas. No momento, não temos doses suficientes para começar uma campanha de massa, e as notícias vindas dos laboratórios públicos quanto à disponibilidade de insumos são preocupantes. De qualquer maneira, precisamos para já e, especialmente, para quando tivermos doses em fluxo regular e mais expressivo, de agressivas campanhas de comunicação nacionais e locais para motivar as pessoas a se vacinar e para organizar a campanha vacinal. Em nível local, os municípios devem fortalecer suas equipes de Atenção Primária à Saúde para vacinar a população, fazer busca ativa, estabelecer um contato próximo com a população. Em todos os níveis de gestão deve haver o estabelecimento de metas para acompanhamento da vacinação, verificando-se eventuais problemas para que haja ações rápidas de correção. Apesar dos desafios, contamos com Sistema Único de Saúde, temos o Programa Nacional de imunização (PNI) que é reconhecido internacionalmente por sua excelência, um dos programas de saúde pública mais bem sucedidos e temos expertise, o que nos ajuda neste processo. Entretanto, precisaremos ainda de agilidade para vacinar e adesão da população para conseguiremos controlar a situação.

Apufsc: A vacina contra Covid é a única forma de prevenção à doença?
Profa. Alexandra:
É necessário também esclarecer que a vacina é nossa única solução neste momento contra o coronavírus. Não temos nenhum outro tipo de tratamento para doença ou para sua prevenção. Além disso, a vacinação deve se estender ao longo do ano, ou até mesmo até o primeiro trimestre de 2022, a depender da chegada e produção das doses. Assim, precisamos manter, mesmo os vacinados, todas as medidas de prevenção como: evitar aglomerações, espaços fechados, manter a etiqueta respiratória, fazer o uso de máscara e manter o distanciamento físico.

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