Obscurantismo: anverso e reverso

Por Raul Valentim da Silva

Agradeço ao colega engenheiro Nestor Roqueiro por ter lido e por ter emitido sua opinião crítica sobre o texto que divulguei neste site em 07/06/2021. Assim, tenho a oportunidade de esclarecer e contextualizar melhor minhas colocações. O ativo e ouriçado professor ingressou na docência em 1997. Estou na UFSC desde 1965, tendo sido um dos fundadores da APUFSC. 

Tendo me aposentado em 1992 e já chegando aos 82 anos creio ter direito e condições para considerar preocupações bem mais abrangentes do que aquelas cobertas pelas engenharias. Assim, passei a considerar questionamentos sobre a origem do universo e da vida diversificada na Terra. Desde 2013 venho divulgando minhas ideias no blog Newcreatorism. 

 Acredito que a biologia da vida foi precedida pela criação da química, que foi precedida pela existência da matéria, sendo esta precedida pela energia, que foi precedida pela física, que sucedeu a matemática, que decorreu da lógica, sendo todas criadas por algum tipo de inteligência. Este Ente, idealizador e criador das ciências, do universo, da vida e da mente humana, tem sido amplamente identificado e reconhecido.    

Estima-se que na atualidade 55% da população mundial acreditem na existência do Deus cristão ou do Alá muçulmano. Os humanos em geral não se contentam com a vida finita na Terra, querem também uma vida após a morte e se possível uma vida eterna junto com seus amigos e familiares. Poucos são aqueles que não têm religião e também são efetivamente ateus. 

Entendo que, como é impossível provar cientificamente a existência ou a inexistência de um verdadeiro Autor do universo e da vida, a ciência deve adotar uma postura agnóstica. Este entendimento evita conflitos nas escolas que podem prejudicar a formação de crianças e jovens com pais religiosos e professores ateus. 

O geneticista Francis Collins, coordenador do projeto Genoma Humano, que mapeou nosso DNA, e diretor do National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos, tornou-se cristão aos 27 anos e atua na fundação BioLogos que visa conciliar ciências e religiões. Muitos cientistas têm dificuldades de combinar a ciência ateia com suas crenças religiosas. 

Os professores aposentados que constituem a maioria dos associados da APUFSC têm direitos e merecem consideração. Não cabem, assim, movimentos de censura a comportamentos que podem se considerados não acadêmicos. Na realidade, as preocupações que compartilho poderiam ser contempladas em áreas acadêmicas como a filosofia. 

Também não vejo incompatibilidades entre as ideias que exponho e o exercício da função de Diretor presidente da Fundação Stemmer para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que atua no apoio de atividades acadêmicas da UFSC, do IFSC, da UDESC e da UNILA. O professor Roqueiro pode ficar despreocupado neste questionamento, pois estou deixando esta função no dia 18 de junho corrente, após nove anos de exercício deste cargo sem maiores contestações ou reclamações. 

* Professor aposentado do Centro Tecnológico da UFSC