Paralisações de servidores federais têm peso no cálculo eleitoral, apontam analistas

A crescente insatisfação do funcionalismo com o governo federal ganhou novos capítulos na semana passada, com a deflagração de greve por uma parcela de servidores do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) em 18 estados. Outras categorias aguardam uma contrapartida da União, para então adotarem medidas. Segundo analistas, o movimento do funcionalismo, que ganha força a seis meses da eleição, terá reflexo no resultado das urnas.

Ativos, inativos e pensionistas da União representam 1,4% do eleitorado, segundo cruzamento entre dados do Portal da Transparência do governo federal com números do Tribunal Superior Eleitoral de 2020. Numa disputa que promete ser acirrada, são números valiosos, diz o doutor em Ciência Política e coordenador de Relações Internacionais do Ibmec José Niemeyer.

Ele avalia que estão em jogo carreiras típicas de Estado com forte poder de influência, como funcionários do Banco Central, do Tesouro Nacional e da Receita Federal, que, por sua vez, podem dar um tom para as urnas em outubro. Apesar disso, ele acha que se trata de uma estratégia dos servidores com aplicabilidade só em 2023:

“Há uma percepção dos servidores do que vai acontecer em 2023, porque há uma chance real de uma mudança de governo e retorno do PT, que acredita em uma intervenção estatal mais robusta”, afirma.

A cientista política e professora da Unirio, Clarissa Gurgel, acredita que um movimento de greve deve se alastrar perto das eleições, mas não deve alterar a base de quem aprova o governo. Para ela, o efeito maior será no aumento da taxa de rejeição do presidente, hoje de 55%.

“A popularidade não se altera muito porque ele tem uma forte base, sobretudo entre os evangélicos. Mas, quando há ação que afeta os servidores federais, gera aumento de impopularidade. É uma base fiel que defende a valorização do serviço público”, comenta.

Paralisações de 2022 ainda não se comparam às de 2012

Apesar da intensa movimentação de importantes carreiras de Estado, que organizaram paralisações e restrições de atividades no serviço público, os passos dados em 2022 ainda estão longe no comparativo com a greve do funcionalismo público de 2012.

O movimento contou com a adesão de funcionários da Saúde de todo o país, além de servidores ministeriais, do Ibama e, principalmente, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A paralisação das atividades do órgão geraram o principal impacto, com o fechamento de fronteiras com países vizinhos, interrupção de atividades portuárias e mais de mil navios parados sem poder desembarcar mercadorias.

Hoje, no entanto, ainda há pouca adesão nacional, e muitas categorias pendem para paralisações por 24 horas, dada a inviabilidade de interrupção a médio e longo prazos. Apesar da mobilização do INSS, muitos segmentos preferem avançar as negociações dentro do Ministério da Economia.

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