Acordo contra CPI do MEC pode blindar também emendas do centrão

Senadores pretendiam usar comissão para mergulhar no orçamento do FNDE, abastecido por parlamentares, mostra Bruno Boghossian, colunista da Folha de S. Paulo

O acordo para adiar a CPI do MEC não protege só a campanha de Jair Bolsonaro (PL). A investigação do esquema operado por pastores no ministério abriria uma janela para apurar também o destino de bilhões de reais direcionados por parlamentares, segundo o colunista Bruno Boghossian, da Folha de S. Paulo.

Senadores que articularam a coleta de assinaturas da CPI pretendiam usar a comissão para mergulhar no orçamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura são suspeitos de cobrar propina para intermediar repasses do órgão para prefeituras, mas a investigação poderia chegar mais longe.

Desde 2020, deputados e senadores indicaram mais de R$ 2 bilhões para ações do FNDE nos municípios. Os políticos pediram dinheiro para a construção de creches, a reforma de escolas, a compra de carteiras e outros programas.

Essa verba foi direcionada pelo mecanismo das emendas de relator, que é gerenciado pela base aliada de Bolsonaro no Congresso e atende a centenas de parlamentares. O incômodo com uma devassa nas contas da educação, portanto, poderia ir além do Palácio do Planalto.

O controle das emendas de relator está nas mãos do centrão —que também comanda o FNDE. O presidente do fundo, Marcelo Lopes da Ponte, era chefe de gabinete do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Outros líderes do bloco indicaram dirigentes para a cúpula do órgão.

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