Ato em defesa da democracia reúne centenas de pessoas na Reitoria da UFSC, em Florianópolis

Na ocasião, foi transmitida a leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, feita na Faculdade de Direito da USP, que já soma mais de 900 mil assinaturas

Organizada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, lida na manhã desta quinta-feira, dia 11, teve transmissão em todas as regiões do Brasil e também em Santa Catarina. Na capital catarinense, um ato promovido pelo Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc-Sindical) e organizado por 29 entidades foi realizado na Reitoria da Universidade Federal de SC (UFSC) e contou com a participação de centenas de pessoas. Cerca de 300 acompanharam o evento no auditório da Reitoria, e quase 200 estiveram presentes no hall, onde um telão foi instalado para que a comunidade acadêmica pudesse acompanhar o evento. O ato foi transmitido ao vivo no canal da Apufsc no Youtube, onde pode ser assistido na íntegra

Carlos Alberto Marques, presidente da Apufsc-Sindical, abriu o evento com um discurso em que ressaltou a confiança nas urnas eletrônicas e na Justiça Eleitoral. “Como a história nunca fica no passado, não surpreende estarmos aqui para frear a tentativa de retorno ao regime autoritário em nosso país”, iniciou. Bebeto pontuou, porém, que “a democracia morre muito antes dos golpes e dos rompantes autoritários. Ela morre quando não gera mais emprego e renda, quando produz desigualdades e miseráveis, quando faz as pessoas não terem teto para morar e terra para plantar. ela seguramente morre quando ao povo é negada a voz e o voto”. 

Por isso, o presidente da Apufsc enfatizou a importância da carta em resposta aos ataques feitos à democracia brasileira: “Hoje, em 2022, estamos aqui para impedir a ditadura, exigindo respeito ao resultado das eleições e para impedir um golpe com nova roupagem”. E encerrou: “Essa não é uma cartinha, senhor presidente. Essa é uma advertência, é o posfácio do povo para adensar a Constituição Cidadã de 1988”.

::: Assista ao discurso de Carlos Alberto Marques na íntegra

Na sequência, Gabriel Kazapi, do Grupo Prerrogativas, se pronunciou, elogiando a atitude da Apufsc de construir um território livre e ressaltou que “o império da lei e da Constituição é o que deve sempre vigorar”. Prudente José Silveira Mello, da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), também defendeu a importância desta “manhã de luta pela democracia”. Cláudia Dadico, da Associação Juízes para a Democracia (AJD), defendeu que “as eleições devem ser marcadas pela paz e pelo livre exercício democrático”, e acrescentou que “a sociedade brasileira não aceita a condição de refém”.

Entre as autoridades políticas presentes no ato, o ex-governador Paulo Afonso Vieira (MDB) lamentou a necessidade de atos como este no Brasil atual. “Me parece surreal voltar a viver situações que considerei superadas”, afirmou, lembrando que participou da mobilização pelas eleições diretas e pela redemocratização do país. “Aquilo que para muitos jovens faz parte da história, para mim faz parte da vida”. Paulo Afonso encerrou lembrando o célebre discurso de Ulysses Guimarães na Assembleia Nacional Constituinte, em 1988: “Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”.

Por volta das 11h, os discursos e apresentações culturais no auditório da Reitoria da UFSC foram interrompidos para a transmissão ao vivo da leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, feita pelo ex-ministro José Carlos Dias, de 83 anos, no salão nobre da Faculdade de Direito da USP. A leitura foi muito aplaudida pelos participantes do ato em Florianópolis. 

Após a transmissão, a ex-senadora Ideli Salvatti (PT) registrou a “presença de pessoas que não estão mais aqui”. Citou as vítimas da ditadura militar Paulo Stuart Wright, Arno Preis e Derlei de Luca. Carlos Alberto Marques lembrou ainda de Adolfo Dias, Hamilton Alexandre, Dom José Gomes, Eurides Mescolotto e Lédio Rosa Andrade. Em pé, toda a comunidade saudou ainda o nome do ex-reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, e entoou: “Cau, presente”. 

O ato seguiu com discurso de Ana Júlia Rodrigues, da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SC), que ressaltou que é só na democracia que a classe trabalhadora pode lutar por seus direitos. 

O advogado Nelson Wedekin fez um discurso bastante enfático, em que afirmou que é preciso afastar o obscurantismo: “estamos aqui para resgatar nossos sonhos de viver em um país justo socialmente”. 

O movimento estudantil também esteve presente no ato, representado por Lucas Bonatto e Victoria Salgado. Lucas convocou os presentes a participarem também de outras mobilizações: “Precisamos ir além dessa carta. Precisamos ir às ruas”. Vitória falou da esperança de ter “um país de volta aos brasileiros”.

Vilson Santin, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fez um discurso emocionado e efusivo, em que ressaltou a potência desse momento histórico e falou da importância de lutar pela democracia. Representante do Movimento Negro, Marcos Aurelio dos Santos, pontuou que não é possível falar de democracia sem falar de “uma abolição inacabada”.

Os últimos discursos foram feitos pela vice-reitora da UFSC, Joana Célia dos Passos, e pelo reitor Irineu Manoel de Souza. “A UFSC não poderia se furtar de estar junto na defesa do estado democratico de direito”, disse Joana, antes de recitar o poema “Resistência”, do poeta negro brasileiro Cuti. O reitor, por sua vez, defendeu que as universidades são instituições críticas, e falou da importância de um ato como este ocorrer na UFSC. 

A Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito foi elaborada em resposta aos constantes ataques ao processo eleitoral e ameaças à democracia feitas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Ela remete à histórica Carta aos Brasileiros, apresentada em ato público em agosto de 1977, na mesma Faculdade de Direito da USP, que marcou a luta contra a ditadura militar e pela redemocratização do Brasil.

Assista ao ato na íntegra:

Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc