Nem tudo que reluz é ouro

* Por Raul Valentim da Silva

As aparências muitas vezes podem ser enganosas. Assim, o renomado professor brasileiro Marcelo Gleiser, que atua nos Estados Unidos, quando questionado sobre a existência de Deus, disse para fazer esta pergunta para os besouros. Sabe-se que algumas espécies destes animais, quando caem de pernas para cima, não conseguem desvirar. Aparentemente houve um erro de projeto.

Analisando estas ocorrências, podemos verificar que muitos besouros morrem porque são atraídos pelas luzes dos postes e caem nas calçadas. Os humanos que criaram a iluminação elétrica e que cimentaram os pisos criaram condições bastante diversas daquelas em que os besouros vivem na natureza. Em ambientes rurais e nas florestas, os besouros têm plenas condições de desvirar e sobreviver.

No mundo atual existem pelo menos 8,7 milhões de espécies de animais e fica difícil encontrar erros de projeto na fauna terrestre. Diferentemente dos humanos, que têm muitos problemas de sobrevivência, os animais não-domesticados dispõem de cadeias alimentares e condições de reprodução que propiciam uma qualidade de vida apropriada nos ambientes ainda não afetados pelos humanos.

Charles Darwin propôs, em 1859, uma teoria sobre a origem das espécies de seres vivos. Em 1851 ele tinha perdido sua filha querida de 10 anos. Em 1958, seu filho Charles, de um ano, também faleceu. Crente em Deus, ele ficou bastante decepcionado por não ter sido atendido em suas preces. Casado com uma prima, ele sabia dos riscos da consanguinidade.

A teoria proposta por Darwin colocava a seleção natural como mecanismo primordial de geração de novas espécies. Na primeira metade do século passado esta tese foi rejeitada. Sendo a seleção natural um processo corretivo de anomalias, com atuação a posteriori, ela não tinha condições de gerar novas espécies de seres vivos. Admite-se que, em situações especiais, onde populações ficaram isoladas, a seleção natural pode ter contribuído para o surgimento de novas espécies.

No neodarwinismo, a teoria atualmente vigente, o mecanismo ativo de geração de novas espécies passou a ser formado por mutações genéticas aleatórias, isto é, por erros na duplicação dos códigos existentes nas células reprodutivas. Pela teoria herdada de Darwin, as mutações vão gerando modificações anatômicas e fisiológicas graduais que acabam, ao longo de milhares ou milhões de anos, gerando novas espécies.

A seleção natural proposta por Darwin pode ser considerada um formidável obstáculo para o neodarwinismo. Qualquer apêndice que estiver sendo criado não terá uso por um longo tempo e passará a ser uma deficiência que deverá ser naturalmente eliminada pela seleção natural. A revolta de Darwin contra seu Deus religioso pode agora contribuir para a aceitação da existência de um Ente criador do universo e da vida diversificada na Terra.

* Raul Valentim da Silva é professor aposentado