Com diagnóstico inédito, MCTI obtém panorama das coleções biológicas científicas brasileiras

Trabalho elaborado por sociedades científicas permitiu construir base de dados que serão utilizados para formulação de políticas públicas, como chamadas públicas específicas para a área

O diagnóstico inédito encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) apontou que 61,2% das coleções biológicas científicas do Brasil estão alocadas em universidades públicas, sendo que 68% são federais e 32% estaduais. O dado é um dos resultados produzidos pelo estudo que avaliou as coleções de botânica, microbiologia, virologia e zoologia.

“É um dado bastante importante porque não tínhamos. Até pensávamos que o número seria relevante, mas não tão significativo da forma como apareceu no diagnóstico”, avalia a coordenadora do estudo e presidente da Sociedade Brasileira de Zoologia, Luciane Marinoni. 

A pesquisadora destaca que esse é o primeiro diagnóstico realizado no Brasil e que reuniu formalmente informações que constituem uma base de dados sobre o assunto. O estudo foi realizado pela Coordenação-Geral de Ecossistema e Biodiversidade (CGEB) e contou com o engajamento da Sociedade Botânica do Brasil, Sociedade Brasileira de Microbiologia, Sociedade Brasileira de Virologia e Inmetro e envolveu 44 pesquisadores. Os grupos de trabalho constituídos em setembro de 2021 finalizaram o relatório no primeiro trimestre deste ano. “Agora temos a visão do todo”, afirma Luciane.

Números

Das 975 coleções biológicas científicas brasileiras mapeadas inicialmente, 708 responderam ao questionário do estudo. O diagnóstico apontou que as coleções estão alocadas em 220 instituições.

Além das universidades, o material está em instituições públicas vinculadas à alguma pasta ministerial, como Fundação Oswaldo Cruz, Embrapa, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Museu Paraense Emílio Goeldi, Instituto Nacional Mata Atlântica (Inma) e Instituto Evandro Chagas. Juntos, os institutos são detentores de 120 coleções, respondendo por 8,9%. Universidades privadas sem fins lucrativos, dentre as quais estão as Pontifícias Universidades Católicas, detêm 54 coleções, que representam 7,6%. Já as instituições públicas vinculadas a secretarias e órgãos estaduais de administração são responsáveis por 45 coleções ou 5,2%.

O maior número de coleções encontra-se no Sudeste, 41,5%, principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, seguido do Sul com 21%, Nordeste com 19%, Centro-Oeste com 9,6% e Norte com 9%.  Em relação ao tipo de coleção, 224 são botânicas, 150 são microbiológicas e 334 são zoológicas.

Os questionários envolveram aspectos sobre identificação, caracterização, infraestrutura física e de pessoas, acesso à coleção, digitalização, qualidade do acervo, gestão e priorização de necessidades. Foram mapeadas as coleções de todas as regiões do Brasil, de diferentes grupos taxonômicos e de diferentes portes.

“A partir dessas coleções é que se faz ciência e tecnologia no país, principalmente relacionadas à biodiversidade”, afirma Luciane sobre a importância das coleções. “Quando mantemos as coleções, estamos mantendo o patrimônio genético. É uma base de conhecimento importantíssima. Algumas coleções são centenárias”, complementa.

As coleções científicas brasileiras também são objeto de consultas de pesquisadores estrangeiros e servem como referência para estudos futuros que envolvem mudanças climáticas, para detectar alterações na fauna, flora e microrganismos, entre outros aspectos. As pesquisas que são feitas a partir das coleções ficam registradas e podem ser mapeadas. “São informações para todas as áreas [do conhecimento]”, comenta a professora.

Luciaen Marinoni, que também é professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ressalta que a pesquisa realizada pelas universidades é o que explica em grande parte a quantidade de coleções alocadas nessas instituições. No entanto, na maioria dos casos, elas não estão contempladas no organograma das instituições. “Então, acabam sofrendo muito com falta de recursos porque não estão no planejamento da instituição”, complementa.

Diagnóstico como ponto de partida

A partir dos resultados, o MCTI terá condições de definir prioridades de ação e dialogar com as demais pastas ministeriais com as quais as instituições detentoras das coleções estão vinculadas. A medida atende a um dos objetivos do diagnóstico, que é subsidiar políticas públicas de fortalecimento das coleções existentes e disponibilizar dados e informações da biodiversidade para a pesquisa e a sociedade.

“É importante para conhecer o setor e funciona como uma ‘radiografia’. Isso contribui para as políticas de apoio às coleções científicas biológicas, sabendo as lacunas, as fortalezas, onde é necessário um apoio mais estratégico, principalmente considerando-se o quantitativo”, explica o coordenador-geral de Ecossistemas e Biodiversidade do MCTI, Luiz Henrique Canto.

Além disso, a realização do estudo servirá de insumo para a Rede Brasileira de Coleções Biológicas Científicas, que vai estimular a cooperação transversal, a troca de experiências, promover capacitações e boas práticas, entre outras. “Esse diagnóstico contribui significativamente para a Rede e as futuras chamadas públicas que serão lançadas para apoio às coleções”, analisa

Outra medida importante obtida como recomendação do estudo é fomentar a inserção dos dados sobre as coleções científicas biológicas na base de dados do Sistema de Informação da Biodiversidade Brasileira (SiBBr). O diagnóstico apontou que 22% divulgam os dados no SiBBr e 36% constam do catálogo do sistema.

Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação