Desmobilizando a categoria

*Por Armando Lisboa

“A polaridade entre Andes e Proifes é apenas uma maneira de continuar no mesmo lugar.”¹

Diante do “reajuste zero” anunciado pelo Governo Federal para nossos salários em 2024, o prof. Nestor Roqueiro reiteradamente expõe críticas ao destrato como o Proifes, federação nacional sindical a qual a Apufsc se filiou, participa da farsesca “negociação salarial”.

Endosso totalmente seu último artigo: “Não é incompetência, é má fé”. Nele Roqueiro se escandalizou com a divulgação, na tarde desta segunda-feira, dia 11, pela Apufsc, duma orientação do Proifes sobre a atual “negociação salarial”. Ocorre que a “Resolução/Proifes” divulgada é de 23/2, orientando as entidades filiadas para a nova reunião com o Governo a se realizar em 28/2. Como é sabido, e Roqueiro realça, aquela reunião nada gerou, mais uma vez…

Na última sexta tivemos a primeira reunião do Conselho de Representantes (CR) deste ano. Nela vimos a Diretoria sinalizando um processo de mobilização a ver navios… Quando a voz do CR encaminhou para uma Assembleia Geral antes da Páscoa, os membros da Diretoria puxavam o freio de mão, e apenas viam dificuldades e empecilhos …

Diante disto, e do princípio de que são os associados através dos seus representantes, e não os diretores, que devem decidir os rumos do sindicato, Roqueiro defende que o CR “tome as rédeas do processo de reivindicação salarial”.

Roqueiro pegou foi leve.

A enorme moderação e cautela desta Resolução 01/Proifes/2024 é vergonhosamente desmobilizadora.

Segundo a nota, o Proifes tem ciência de que “não há um verdadeiro processo negocial, mas sim a reafirmação por parte do governo de sua política econômica (restrições orçamentárias e fiscais)”. Também reconhece que a proposta do governo “não avança na recuperação das perdas acumuladas desde março/2015 (até janeiro de 2024 é de 35,51%) e mal repõe o IPCA projetado para os anos 2024, 2025 e 2026”.

Ainda assim, não orienta às entidades filiadas sobre a inaceitabilidade do “ajuste zero”. Ao invés, buscou, com inúmeros considerandos sobre conjuntura política e dificuldades do governo com o orçamento da União, justificar a posição patronal e a impossibilidade do reajuste salarial.

A principal orientação do Proifes é a da fé. Ou seja, restaria à categoria apenas acreditar “que o Governo se disponha a abrir negociação de modo que até 2026…”.

Inacreditável! Devemos aguardar até 2026 para recuperar as perdas salariais! Mas, enquanto nos nega um mísero centavo em 2024, Brasília anunciou nesta terça, dia 12, a criação de 100 Institutos Federais (praticamente + 4 bilhões). Esta notícia desvela, mais uma vez, a farsa do “arcabouço fiscal”: inexistem recursos???

O Vice-Presidente/Apufsc, ao relatar as “negociações” lá no CR, ainda expressou: “o governo tem boa vontade na negociação”…

O governo não se defenderia melhor. Aliás, nem precisa se defender, diante de “sindicatos” assim.

Mais que reféns do Centrão e aprisionados por “tripés macroeconômicos” e “arcabouços fiscais”, estamos castrados por um aparato sindical voltado apenas para organizar “cafés de boas-vindas” e “botecos” boca-livre sextas à noite…

¹Parafraseando Vladimir Safatle, in: ”Alfabeto das colisões”, p. 89

*Armando de Melo Lisboa é professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais do Centro Socioeconômico (CNM/CSE) da UFSC e ex-diretor da Apufsc-Sindical (2006-2010)