Waldir Rampinelli ministra última aula como professor da UFSC durante edição do Livro na Praça

Rampinelli foi docente na universidade por mais de quatro décadas e foi secretário-geral da Apufsc nos anos 1990

Com o auditório do Teatro Carmen Fossari lotado de colegas, amigos e alunos, Waldir Rampinelli deu oficialmente sua última aula como professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na última sexta-feira, dia 15. O evento ocorreu na primeira edição do semestre do projeto Livro na Praça: Ler para se libertar, da Editora da UFSC (EdUFSC), dirigida por Rampinelli. O professor apresentou a obra “Genocídio na Guatemala”, de Victoria Sanford. O vice-presidente da Apufsc-Sindical, Adriano Luiz Duarte, e o reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, prestigiaram o evento.

Graduado em Letras, Filosofia e Direito, e pós-graduado em Estudos Latino-Americanos, Rampinelli atuou durante a maior parte dos 44 anos de docência no departamento de História da UFSC. Na abertura do evento, o professor Nildo Ouriques ressaltou que Rampinelli cumpriu a tarefa da docência “de uma maneira muito brilhante, não só como professor de História — com os alunos, pesquisa, publicações —, mas também com uma intensa atividade intelectual e política, como foi no sindicato” – referindo-se à Apufsc. Rampinelli foi secretário-geral do sindicato na gestão de 1994.

Rampinelli deu aulas durante 44 anos (Foto: Karol Bernardi/Apufsc)

Comprometimento com o livro

Em nome da equipe da EdUFSC, Beatriz Ribeiro prestou uma homenagem a Rampinelli. “Lembraremos sempre a primeira vez que você mencionou a intenção de fazer este evento, cujo subtítulo carrega um ensinamento poderoso”, afirmou. Ela também ressaltou o comprometimento do diretor com o livro e com os trabalhadores, priorizando produzir bem em vez de produzir muito. “Foi muito enriquecedor para nós vivenciar a liderança de um gestor crítico e dedicado ao trabalho de pensar e produzir livros”, concluiu. Desde junho de 2022, Rampinelli comandava a diretoria da EdUFSC, cargo agora assumido por Nildo Ouriques.

Professor foi homenageado pela equipe da EdUFSC (Foto: Karol Bernardi/Apufsc)

Agora aposentado, Rampinelli contou que seus planos incluem viajar sempre que possível e continuar produzindo no campo da literatura. “Obviamente, uma literatura que seja militante, como dizia Lima Barreto. O literato — continua Lima Barreto — deve ser um semeador de ideias, um batedor do futuro”, enfatizou.

Durante o evento, o professor disponibilizou seus livros, incluindo o mais recente, “O Povoado”, publicado pela Editora Insular.

Nildo Ouriques agora ssume a direção da editora da UFSC (Foto: Karol Bernardi/Apufsc)

Legado no ensino de História

Para a Apufsc, Rampinelli avaliou sua trajetória como professor como “altamente positiva”, ao levar, discutir e debater com os estudantes “uma história crítica”. Ele garantiu que ninguém passou imune por suas aulas: “sempre repetia aos alunos: vocês são inteiramente livres para se posicionar politicamente na vida, assumindo uma posição conservadora, progressista ou marxista. Agora, o que está proibido em meus seminários é ser idiota.”

Os estudantes do Centro Acadêmico (CA) de História presentearam o professor com uma placa de agradecimento “por ter semeado a rebeldia, a curiosidade intelectual e a consciência da Pátria Grande entre os estudantes de História da UFSC”.

A última aula

“Genocídio na Guatemala”, de Victoria Sanford, é uma das mais recentes publicações da Editora da UFSC, em parceria com a Editora Insular. A obra trata da condenação, em 2013, do general ditador José Efraín Ríos Montt pelos crimes de genocídio e lesa-humanidade na Guatemala. Conforme relata o livro, ele foi responsável por perseguir, torturar e massacrar o povo Maia Ixil, sob o pretexto de combater a guerrilha e o comunismo.

Durante sua última aula como professor da UFSC, Waldir Rampinelli falou sobre a história da Guatemala, o significado de genocídio, o papel de figuras importantes da época e como ocorreram os crimes cometidos por Ríos Montt no país latino-americano.

“Desde 1954 até 1996 a Guatemela, uma terra linda com seus lagos, vulcões, construções maias e vegetação, vai ser banhada de sangue, porque os generais em nome da segurança nacional vão eliminar os maias, os indígenas, e vão dizer que eles apoiam a guerrilha”, explicou o professor. Ele continuou, “um deles é o monstro que tratamos nesse livro. Ele vai se notabilizar pelo terror e crueldade. Ele chega ao poder em 24 de março de 1982, dá um golpe de Estado e fica até 8 de agosto de 1983. Pouco tempo, o suficiente para cometer genocídio”.

Rampinelli explicou que o ditador foi educado nas escolas militares da Itália e dos Estados Unidos. Era um pastor evangélico, criou a “Igreja do Verbo” e como pastor morreu. “Todo maia que se apresentasse como tal estava na mira da metralhadora. Sua crueldade era tão grande que ele chegou a destruir cerca de 400 povoados.”

Apesar de ter sido condenado em 2013 a 80 anos de prisão pelo assassinato de 1.771 pessoas, segundo o advogado de Ríos Montt, ele morreu em casa, aos 91 anos, “com o amor de sua família, com sua consciência sã, limpa, rodeado de muito amor, acometido pelas doenças que já sabemos”. Na época do julgamento, a defesa do general alegou um diagnóstico de demência senil, entre outras complicações médicas.

A edição do Livro na Praça em homenagem a Rampinelli também contou com a apresentação musical de Daniel Castelan e Marcos Valente.

Karol Bernardi
Imprensa Apufsc