Após saída de olavista, como fica o MEC com o terceiro ministro, Carlos Alberto Decotelli?

Podcast da Folha traz entrevista com João Marcelo Borges, diretor de estratégia política do movimento Todos pela Educação

O presidente Bolsonaro (sem partido) anunciou nesta quinta-feira (25) o novo ministro da Educação. Quem assume a pasta é o professor Carlos Alberto Decotelli, tido como uma figura técnica e moderada.

Decotelli é o primeiro nome a liderar a Educação no governo Bolsonaro que não é ligado à ala ideológica ou às ideias do escritor Olavo de Carvalho. Oficial da reserva da Marinha, ele é o primeiro ministro negro deste governo.

A nomeação parece apontar uma mudança nos rumos do MEC. O podcast Café da Manhã, da Folha, entrevista João Marcelo Borges, diretor de estratégia política do movimento Todos pela Educação.

“Creio que todo mundo concorda que Decotelli é melhor, bem melhor, que seu antecessor”, afirma Borges, “Dito isso, eu acho que há um reconhecimento — já vi algumas manifestações de secretários municipais, estaduais e até alguns parlamentares — de que ele é um ator que valoriza o diálogo e a conversa. Antes de qualquer ação, é essa a postura que o novo ocupante do MEC tem que adotar”.

Mudanças no Ministério

No entendimento de João Marcelo Borges, a primeira coisa que mudará no MEC é a postura do ministro. “Sai uma postura belicosa, desrespeitosa, no limite, criminosa, como a de Abraham Weintraub. E entra uma postura mais cautelosa, precavida, mais cordata. (…) A partir dessa postura, deve mudar também a relação com estados e municípios”, avalia.

Como ações urgentes, Borges acredita que o novo ministro deveria agir imediatamente para: anunciar a constituição de uma mesa de diálogo de pactuação federativa, discutindo temas e construindo soluções norteadoras para o país lidar com os múltiplos choques que a pandemia causa a educação (1); retomar o diálogo com o Congresso Nacional (2); e suspender a consulta com os inscritos no próximo Enem sobre adiar a prova em 30 ou 60 dias (3). Para Borges, é necessário anunciar que não há previsão para realização do exame e firmar o comprometimento de que essa decisão será tomada a partir dos debates feitos na mesa de pactuação federativa, mencionada primeiramente.

Diálogo com Congresso e outros agentes da educação

Por já ter estado à frente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a expectativa é que Carlos Decotelli estabeleça um melhor diálogo com o Congresso do que seu antecessor. 

“O que nós esperamos é que essa postura de diálogo se traduza também na capacidade de construir soluções pactuadas com os diferentes agentes da educação”, diz João Marcelo Borges referindo-se a estados e municípios, universidades públicas e privadas, representante de estudantes e sindicatos, “Isso não pode ficar só no diálogo, é preciso se transformar em ação, e aqui está um desafio para o novo ministro”.

Em que contexto entra Decotelli

Economista de formação e professor na Fundação Getúlio Vargas, Carlos Decotelli tem mestrado pela FGV, doutorado na Universidade de Rosário, na Argentina, e pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha.

Ele sucede Abraham Weintraub, que deixou a pasta depois de um sem fim de polêmicas. A gestão do ex-ministro durou 14 meses e foi marcada por ataques, derrotas no Congresso e projetos parados, além da ausência de diálogo com redes de ensino e falta de liderança nas políticas da área —inclusive durante a pandemia do novo coronavírus.

Ouça na íntegra o Café da Manhã de 26 de junho.

Con informações da Folha.