Fuga de cérebros reflete em rankings

“Pessoalmente, seria muito melhor para mim voltar para o Brasil, mas as condições para fazer pesquisa aqui são muito melhores”.

Assim a economista brasileira Pricila Maziero, 33, explica por que decidiu lecionar nos EUA depois de terminar o doutorado na Universidade de Minnesota em 2009.

A lista de razões de Pricila é longa e coincide com o que dizem outros doutores brasileiros radicados no exterior.

Segundo ela _que dá aula na Escola Wharton (da Universidade da Pensilvânia)_ nos EUA, o professor dá menos aulas e conta com o apoio de monitores. Sobra mais tempo para pesquisar.

O diagnóstico é o mesmo do brasileiro Pedro Saffi, 32, que terminou doutorado em Finanças na London Business School em 2007 e leciona hoje na IESE Business School, da Universidade de Navarra.

Ele explica que a falta de “garantia de estabilidade” no início da carreira faz com que professores assistentes em países como EUA e Espanha tenham de batalhar para emplacar artigos nas revistas mais conceituadas “se quiserem progredir”.

Ser promovido significa receber salário maior. E remuneração é outro ponto em que o Brasil sai perdendo, segundo doutores brasileiros que trabalham em universidades de fora.

Pricila estima que, se estivesse no Brasil, em uma faculdade privada, ganharia o equivalente a menos de 50% da sua remuneração em Wharton.

A competitividade relativamente mais baixa das universidades e faculdades brasileiras faz com que o Brasil sofra em alguma medida o que se chama em inglês de “brain drain” (fuga de cérebros, em tradução livre). Isso ajuda a explicar as colocações do país nos rankings internacionais.
Na área de economia e finanças, as faculdades brasileiras privadas têm tentado reverter o quadro negativo para o país. E isso já se reflete nos rankings de avaliação internacional.

Em 2004, a EPGE (Escola de Pós-Graduação em Economia), da FGV/Rio, ocupava a 164ª posição no ranking de melhores escolas de economia de Tilburg. Em 2009, havia saltado para 108º lugar.

Na América Latina, a EPGE saltou do terceiro para o primeiro lugar.

Segundo João Victor Issler, professor titular da EPGE, as faculdades privadas têm tentado melhorar os incentivos para atrair professores com boa formação.

Ele mencionou que a EPGE tem participado desde 2003 da rodada de contratações que ocorre nos EUA sempre nos meses de janeiro.

“Nossas últimas cinco contratações foram um francês, um argentino e três brasileiros com doutorado fora”.

Issler diz ainda que para incentivar a dedicação dos acadêmicos da EPGE à pesquisa, foi introduzido um mecanismo de bônus para quem consegue publicar artigo nas revistas mais prestigiadas da área.

“Para uma publicação nas cinco melhores revistas, pagamos R 120 mil”.

Ele explica que em economia a reação das universidades privadas é explicada não apenas pela concorrência com as instituições de fora, mas também com o setor privado e até com o governo.

Em muitas outras áreas da academia não existe essa competição por doutores e melhores oportunidades em instituições do exterior contribuem para a “fuga de cérebros” do Brasil.