Vélez quer reescrever livros de história sobre ditadura

Para ex-aliados, declarações são “tentativa desesperada” de ficar no cargo

O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, disse em entrevista ao Valor que não houve golpe em 64, e sim “uma decisão soberana da sociedade brasileira”, e nem ditadura em seguida, marcada por torturas, assassinatos, exílios e perseguições, e sim “um regime democrático de força, o que era necessário no momento”.

Além das opiniões que não condizem com os fatos do regime que governou o Brasil por 21 anos com graves violações de direitos humanos e entregou uma economia em frangalhos, Vélez acredita que é preciso rever “paulatinamente” o que dizem os livros de história sobre o episódio. “Cabe ao MEC preparar o livro didático de tal forma que as crianças possam ter a ideia verídica, real, do que foi sua história.”

Para ex-membros de sua equipe no MEC, o revisionismo do ministro é uma “tentativa desesperada” de se manter no cargo. Já deputados ligados ao movimento estudantil disseram que o colombiano “brinca com fogo”.

“Quem colocou o presidente Castelo Branco no poder não foram os quartéis, e sim o congresso brasileiro. A constituição da época foi seguida à risca, não houve golpe”, disse o ministro sobre o golpe que depôs o presidente João Goulart.

Para Vélez, a ditadura não cerceou liberdades políticas. “Ainda dentro do regime militar houve eleições, o governo perdeu algumas eleições, houve pluralismo-político partidário”. Durante a ditadura, todos os partidos de oposição foram criminalizados, salvo um, o MDB.

O ministro também falou sobre seu desejo de reinstituir a disciplina de Educação Moral e Cívica no ensino básico e fundamental, e voltou a defender a militarização das escolas. “Devem ser desenvolvidos conceitos fundamentais de cidadania, de valores pátrios, das tradições do país. O que a sociedade quer, o que vai salvar nossas crianças, é a efetivação de políticas reais de segurança pública. A polícia pode exercer as funções administrativas de uma escola municipal. Só assim a paz se instala nas imediações das escolas.”

A respeito da constante crise na qual a pasta se encontra e os conflitos com o escritor Olavo de Carvalho, Vélez minimizou: “o meu nome está mais ligado a ele na imaginação, porque eu realmente estou ligado aos princípios de uma boa gestão”.

O MEC sofreu corte de R$ 5,8 bilhões com o último decreto de Bolsonaro, cerca de 24% do orçamento total da pasta. Vélez, no entanto, não vê falta de prioridade para a educação: “não é minha função julgar políticas econômicas”.

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V.L./L.L