Cerca de 300 escolas podem fechar as portas com evasão e inadimplência durante a pandemia

Pandemia do novo coronavírus fez com que várias instituições anunciassem o encerramento das atividades, antes mesmo do fim do ano letivo

Depois de uma batalha jurídica, as escolas privadas foram autorizadas pela Justiça a retomar as atividades presenciais nesta quinta-feira, mas a volta não será para todas as instituições. A inadimplência e as dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus fizeram com que vários estabelecimentos anunciassem o encerramento de suas atividades antes mesmo do fim do ano letivo. A crise atingiu, por exemplo, os tradicionais Bennett, no Flamengo, e o Santo Amaro, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro(Sinepe Rio) estima que entre 200 e 300 colégios poderão fechar as portas até dezembro no estado. “Trata-se de um número bastante grande”, lamentou Lucas Werneck, diretor do Sinepe Rio.

A entidade calcula que 12% das 2.400 escolas não sobrevivam. A entidade não tem dados a capital, mas diz que, em todos os locais, as dificuldades são as mesmas: inadimplência e evasão, que é pior na educação infantil. As matrículas de 80% dos alunos de até 5 anos foram canceladas, estima o sindicato. Nos dois casos, a principal justificativa é a perda de renda das famílias.

Dados da Secretaria municipal de Educação apontam que desde o início do período de matrícula para o ano letivo de 2020, em novembro do ano passado, a rede pública de ensino recebeu cerca de 35 mil alunos oriundos de colégios particulares.

Entre as escolas que lutam para sobreviver à crise está a Nau, na Urca. A unidade, de educação infantil, perdeu 60 dos 110 estudantes durante a pandemia. A esperança da direção da unidade é que, com o retorno das aulas presenciais, muitos dos pais rematriculem seus filhos e, com isso, as dificuldades sejam dribladas. “A reabertura (da escola) traz a esperança de que alguns (alunos) voltem e que a inadimplência diminua. Estamos enfrentando tudo isso sem demitir. O objetivo é preservar os empregos”, assegurou Érika Paradela, uma das sócias da Nau.

Entre as escolas que reabriram nesta quinta-feira, o desafio tem sido manter todos os protocolos de segurança. Na Escola Nova, na Gávea, a temperatura dos alunos era medida logo na entrada. Depois, eles passavam por tapetes desinfetantes e ganhavam borrifadas de álcool nas mãos. Não era possível ver o sorriso dos alunos, já que, cumprindo as regras de ouro, estavam todos de máscara. Mas a reação da pequena Pietra, de 7 anos, depois de mais de seis meses em casa, não deixou dúvidas da animação entre os estudantes que retomavam as atividades presenciais, autorizadas pela Justiça na tarde de quarta-feira. A menina deu vários pulinhos de entusiasmo na porta do colégio.

— Naquela semana em que as aulas foram suspensas, logo depois de terem sido permitidas, ela ficou bem triste. É difícil para eles entenderem. Ela encontrava os amiguinhos na pracinha, e não entendia por que não podia voltar para a escola — diz o pai da menina, Paulo Farias.

Retorno ainda devagar

Também diretor do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do estado, Frederico Venturini acredita que metade das escolas privadas tenha reaberto as portas nesta quinta. Ele diz que a expectativa é que todos os 500 estabelecimentos filiados à entidade retornem na próxima segunda-feira.

— Hoje acredito que cerca de 50% das escolas tenham voltado às atividades. As que não voltaram estão revisando protocolos, avisando os responsáveis. Esperamos a totalidade na segunda-feira — afirmou.

Entre as que também tiveram aulas presenciais nesta quinta estão a Escola Alemã Corcovado, em Botafogo, e o Centro Educacional da Lagoa (CEL). Outras escolas, como a Inovar Veiga de Almeida, na Barra, e a Elite, com 15 unidades nas zonas Norte e Oeste, pretendem reabrir na segunda-feira. Alguns estabelecimentos ainda não decidiram datas, como o Santo Inácio, em Botafogo, o Colégio Marista São José, na Tijuca, e o Centro Educacional Anisio Teixeira (Ceat), em Santa Teresa. Em circular aos pais, o São Vicente informou que as aulas presenciais só devem acontecer após o recesso escolar da instituição, programado para a segunda quinzena de outubro.

Fonte: O Globo