Com menos destaque nos altos postos da ciência, meninas e mulheres buscam reverter estatísticas

Professoras da Federal de Santa Catarina debatem sobre a área, como mostra reportagem da Agecom

Efeito tesoura é o termo utilizado para ilustrar como as mulheres vão perdendo espaço nas estatísticas relacionadas às ciências, com o passar dos anos. É como se elas fossem, pouco a pouco, expulsas da carreira, sem conseguir chegar ao topo. Também chamada de “teto de vidro”, a metáfora ilustra que, por mais que vejam e queiram chegar às posições mais altas, meninas e mulheres enfrentam barreiras inevitáveis pelo caminho.

Uma das questões mais ilustrativas desse assunto diz respeito à maternidade e também ao casamento. A professora Miriam Grossi, antropóloga e pesquisadora do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, diz que a maternidade precisa ser reconhecida como um fator de influência na carreira. “E isso é parte da vida social, por isso precisamos criar condições para o bem estar das pesquisadoras mães, dar condições de apoio”.

Neste aspecto, até gestos mais sutis, como o agendamento de reuniões, pode ter influência na rotina institucional das mulheres, quando este horário concorre com o tempo de buscar os filhos na escola ou da execução de alguma tarefa doméstica. “O casamento também tem essa influência e é uma questão que afeta boa parte das mulheres. É o tempo para o cuidado da casa, supermercado, comprar, limpar – há uma diferença radical do volume de horas que uma mulher gasta e que um homem gasta nesta rotina”, exemplifica.

De acordo com artigo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as mulheres são cerca de 54% dos estudantes de doutorado no Brasil, 10% a mais do que nas últimas décadas. Apesar disso, elas representam apenas 24% entre os bolsistas de produtividade do país – bolsas concedidas pelo CNPq a pesquisadores com índices de produtividade elevados. Na Academia Brasileira de Ciências, são apenas 14%. Na UFSC, elas são  54,2% entre as alunas na pós-graduação (Mestrado e Doutorado Acadêmico e Profissional) e apenas 35% entre as bolsistas de produtividade.

A professora Miriam conhece bem essa realidade. Ela, que é bolsista de produtividade 1B, com alto índice de produtividade, também já foi presidente de entidades científicas e afirma que são posições nas quais as mulheres enfrentam o machismo de forma emblemática. “Tive que romper muitas barreiras quando fui para a Capes e para o CNPq, quando fui presidente de associações. Estive em vários lugares que não foi fácil de me candidatar, enfrentar eleição e me relacionar com pessoas importantes em que já de cara poderia ser desqualificada como interlocutora. Mas sempre soube que era muito importante estar ali, porque era um exemplo”, comenta. Ela também destaca a relevância de se ter mulheres ocupando os mais altos postos na gestão universitária.

Os exemplos são construídos no dia a dia institucional. A professora Rosely Peralta, por exemplo, recorda de um detalhe do concurso no qual foi selecionada como docente efetiva da Universidade: só haviam candidatas mulheres. Hoje, no entanto, ela percebe isso como uma exceção. “Se fizermos um paralelo, tem mais meninas fazendo graduação, mestrado e doutorado. Mas como professora isso não se reflete. Sempre me pergunto o porquê de isso acontecer. É uma coisa tão estrutural, tão antiga que as pessoas não se dão conta de que isso acontece. Se temos 100 mulheres com doutorado, por que essas 100 não são inseridas na docência?”, questiona.

Para a professora Cristiane Jost, é importante levar esse assunto para dentro dos laboratórios, para tentar garantir a permanência dessas mulheres e garantir que persistam e continuem tendo interesse em atuar na área. Entre medidas que ela cita como importantes para a busca de equidade, estão o lançamento de editais para mulheres e editais que também prevejam o tempo em que elas precisam pausar a carreira por conta da maternidade. “E é preciso trabalhar com divulgação, para que as mulheres saibam que podem ocupar cargos de liderança e de chefia. Quanto mais houver esse interesse, mais chegarão lá e talvez passem a participar dessas decisões importantes para a garantia da diversidade”.

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Apufsc tem grupo de trabalho sobre o tema diversidades
A Apufsc conta com um grupo de trabalho sobre diversidades que considera a complexidade da identidade docente e as variadas políticas de tratamento e condições de trabalho que resultam dela. A equipe tem como objetivo debater o tema junto à comunidade universitária, colaborando com outros grupos da UFSC que já trabalham nesse sentido.