O que se sabe do ‘apagão do CNPq’ que preocupa cientistas

Todos os serviços de órgão do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação apresentam sérios problemas nos últimos dias. Paralisação afeta diretamente a ciência brasileira

Pesquisadores de todo o Brasil estão apreensivos com o apagão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência federal ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável pelo fomento à pesquisa no Brasil. O problema nos servidores de dados do órgão atinge pesquisadores de todas as universidades públicas e privadas do país. Pelo quarto dia consecutivo, o site da agência está fora do ar.

Uma das grandes preocupações se relaciona à plataforma Lattes, que reúne o currículo de cientistas brasileiros e também é o repositório de informações sobre a produção científica em todas as áreas do conhecimento. A plataforma contêm o Currículo Lattes, Diretório de Grupos de Pesquisa, Diretório de Instituições e Extrator Lattes. O apagão também repercutiu nos mundo político e gerou muitas críticas de políticos de oposição ao governo Bolsonaro.

Ao Estado de Minas, um pesquisador, que deseja não ser identificado, explica que a liberação de recursos financeiros pela agência avalia os projetos a partir dos currículos Lattes dos envolvidos na proposta. “O Lattes não é o pior. A plataforma de envio e controle de projetos (chama-se Plataforma Carlos Chagas) também está fora do ar. E esta afeta a capacidade dos pesquisadores gerirem seus projetos no contexto do CNPq”, lamenta.

O neurocientista Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse no Twitter que a situação representa “uma metáfora cruel para o que vive toda a comunidade científica brasileira diante de um governo que não acredita em ciência”. Nas redes sociais, os cientistas estão usando o termo “apagão do CNPq”.

Em nota emitida na tarde de ontem, o CNPq informou que o problema foi identificado e os procedimentos para a recuperação iniciados. Os prazos para ações de fomento à ciência e prestação de contas foram suspensos.

A Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) associou o apagão ao contingenciamento de gastos que o órgão vem sofrendo. Segundo a entidade, o CNPq tem o menor orçamento da sua história recente, com apenas 26 milhões para investir em estímulo à ciência.

O tamanho do problema

Entre os sistemas afetados, aquele que vem gerando a maior comoção entre os especialistas é a indisponibilidade da Plataforma Lattes. Trata-se de um site que reúne toda a trajetória acadêmica dos pesquisadores brasileiros (ou de estrangeiros que têm alguma relação com nosso país).

Ter o currículo atualizado nessa plataforma costuma ser uma das primeiras exigências a todos que integram a área acadêmica, especialmente na hora de se candidatar a projetos e vagas de iniciação científica, mestrado e doutorado.

Vale lembrar que estamos no meio do ano, período em que muitas instituições abrem as seleções de novos estudantes de pós-graduação, em que geralmente são avaliados os currículos Lattes dos candidatos.

Também em nota o CNPq afirmou que o pagamento de bolsas não será afetado e todos os prazos relacionados a projetos e entregas de relatórios serão prorrogados.

Outro ponto que tem afligido os cientistas brasileiros é o risco de perder todas as informações armazenadas nas plataformas durante as últimas décadas — boatos compartilhados em redes sociais e grupos de WhatsApp diziam que não havia backup, ou uma cópia segura, dos arquivos. O órgão assegurou que existem, sim, backups de todas as informações e que não aconteceram perdas. “O CNPq dispõe de novos equipamentos de TI e a migração dos dados foi iniciada antes do ocorrido [a indisponibilidade dos sistemas]”. Não se sabe, porém, quando toda a situação será regularizada e voltará ao normal.

*Com informações apuradas pelo Estado de Minas e o portal G1.