UFSC morta e ausente

Por Fábio Lopes da Silva*

Não há como tergiversar nem economizar nas palavras: a estrutura física da UFSC está em frangalhos. Quem hoje percorre os campi vê surgir diante de si um cenário desalentador: obras abandonadas pela metade; prédios deteriorados; infiltrações por toda parte; instalações elétricas e hidráulicas em petição de miséria; elevadores há meses sem manutenção; aparelhos ar de condicionado prestes a despencar na cabeça dos transeuntes;  vias públicas em que o asfalto foi substituído por uma antologia de crateras das mais diferentes formas e tamanhos.

Culpa de Bolsonaro e de seu desapreço por educação, cultura, arte e ciência? Em termos. Em que pesem a cretinice e a canalhice do Capitão, boa parte da responsabilidade por esse abandono a que a Universidade está submetida tem que ser creditada à atual Reitoria. A morosidade e o absenteísmo da Administração Central criaram as condições para que as coisas chegassem ao ponto em que estamos. Pobres daqueles que imaginaram que o tempo em que a UFSC permaneceu fechada em função da pandemia ia ser aproveitado para uma grande reforma de seus ambientes… Em vez disso, os contratos com empresas terceirizadas de manutenção hidráulica e de equipamentos de refrigeração só agora foram firmados, depois de mais de um ano sem esse tipo de atendimento. No caso dos serviços de pintura e chaveiro, a situação é ainda pior: os contratos continuam pendentes. Centenas de outras demandas de reparo ou substituição de máquinas ou peças dormitam – por vezes, há anos – nos escaninhos da burocracia, à espera de que sejam atendidas. Não é falta de dinheiro. É incompetência mesmo.

Essa pusilanimidade da Reitoria também deixou marcas profundas nas relações humanas na UFSC. Mercê da falta de liderança de nossos gestores, a comunidade universitária bateu cabeça por cinco meses desde o fechamento dos campi, em março de 2020, até que finalmente se instalasse o ensino remoto. Depois disso, quase nada aconteceu. Quando mais precisávamos de um reitor que fizesse diferença na vida das pessoas e oferecesse sabedoria e segurança não apenas aos docentes, TAEs e discentes, mas à sociedade catarinense em geral, o que vimos foi ausência, omissão, timidez, cansaço e tédio. Tudo isso abriu caminho para que aquele tão necessário sentido de comunidade que une os que estudam ou trabalham na UFSC perdesse muito de sua força. Tudo isso, de resto, fez com que, compreensivelmente, muitos moradores de Florianópolis e do estado se sentissem decepcionados com a Universidade. A imagem pública da instituição foi severamente danificada, e sabe-se lá quando será restituída.

Mas, justiça seja feita, esses prejuízos todos não se devem só à Reitoria. Uma certa esquerda também tem muito a ver com o clima tenebroso que hoje reina nos campi. Assim como os responsáveis pela Administração Central, dirigentes de entidades de representação dos técnicos-administrativos e estudantes também se comportaram de modo lamentável durante a pandemia. No fundo, mostraram-se plenamente satisfeitos com a inação dos gestores, que permitia que todos ficassem quietinhos em casa, sem precisar enfrentar os dilemas e decisões que uma crise como a que vivemos impõe a qualquer adulto da espécie. Diretores de centro que se orgulham de pertencer a uma tradição crítica fecharam as portas dos prédios que administram e até hoje relutam em frequentá-los ou abri-los, como se fossem vigias de fronteira da Coreia do Norte ou zeladores de alguma área afetada por um desastre nuclear.

Pode parecer incrível, mas essa gente toda agora pleiteia ocupar a Reitoria pelos próximos quatro anos. Ironicamente, a chapa da situação – que passou o último quadriênio em estado de catalepsia – decidiu chamar-se UFSC Viva. Já a candidatura daqueles que se ausentam dos locais de trabalho há dois anos escolheu para si o nome de UFSC Presente. Aos que querem a UFSC morta e omissa não faltam opções.

Fábio Lopes da Silva atualmente é Diretor do Centro de Comunicação e Expressão (CCE)