Equipe da UFSC investiga possíveis causas da epidemia de diarreia em Florianópolis

Cerca de 1 mil casos foram registrados em dez dias segundo o Laboratório de Virologia Aplicada e do Laboratório de Ficologia

Áreas com baixo ou saneamento reduzido, valas de esgotamento sanitário ilegais, aumento da população durante o verão e aumento das temperaturas podem favorecer a circulação e permitir maior propagação de agentes que causam a diarreia, explica a professora do do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Gislaine Fongaro. A equipe do Laboratório de Virologia Aplicada e do Laboratório de Ficologia está ampliando a coleta de amostragens em praias de Florianópolis para o monitoramento viral diante da epidemia registrada na cidade: são cerca de 1 mil casos registrados em dez dias. A expectativa é que até 20 de janeiro os cientistas tenham uma visão dos vírus que circulam na capital, com foco na Ilha.

De acordo com Gislaine, as equipes da universidade também vão avaliar o esgoto bruto para entender o que está circulando na população local e na população itinerante. “Nossos estudos de pesquisa e extensão são amplamente importantes para população geral, servem de alerta epidemiológico e alerta sanitário”, explica a professora. Além disso, de acordo com ela, os dados complementam análises de balneabilidade que, para atenderem legislação, avaliam indicadores fecais bacterianos, mas não avaliam agentes virais nas rotinas.

A professora explica que os chamados surtos gastroentéricos – vômito e diarreia – estão relacionados a agentes infecciosos, principalmente vírus e bactérias que possuem trânsito em águas de beber, águas para recreação e alimentos contaminados. “Esses agentes infecciosos são chamados de entéricos, ou seja, que possuem rota oral-fecal, sendo ingeridos e excretados nas fezes de pessoas e animais não humanos suscetíveis”, complementa.

O saneamento básico, água e esgoto tratados e a higienização de alimentos são essenciais para a prevenção dos surtos. “O contato direto de não infectados com infectados, bem como o contato direto com fezes e papeis e fraldas contaminadas e aerossóis de banheiros e outros, podem ser importantes formas de transmissão de vírus e bactérias entéricas”, comenta Gislaine.

Outro ponto a ser destacado sobre os surtos de vômitos e diarreia é que esses agentes virais são muito mais propagáveis, e os vírus muito resistentes em ambientes, águas e alimentos. Assim, reforça ela, as viroses acabam sendo protagonistas nas gastroenterites agudas. Os adenovírus, norovírus, vírus da hepatite A e E e rotavírus são os principais causadores de gastroenterites.

Verão e prevenção

Segundo Gislaine, durante a temporada de verão, com o aumento de pessoas nas áreas litorâneas e de crianças em áreas de recreação, o alvo de infecções dos agentes que estão em águas aumenta. “Eficiência sanitária, água potável segura, alimentos seguros e higienização de mãos e áreas coletivas são amplamente importantes para reduzir a propagação de agentes infecciosos entéricos”, diz. Outra importante estratégia é o rastreio ágil da fonte contaminadora, para reduzir o impacto dos surtos e epidemias.

O Laboratório de Virologia Aplicada (LVA) tem mais de 30 integrantes e se dedica há mais de três décadas aos estudos de diagnóstico de vírus em águas, fezes, alimentos, solos e outros. Anualmente, realiza coletas e estudos de águas balneáveis, águas potáveis de torneira e poços profundos, rios, mar e água salobra.

O LVA tem se dedicado a estudos de vírus que circulam em esgoto para saber o que está circulando na população, Há quatro anos, equipes monitoram águas e esgotos de Florianópolis também no período de veraneio, analisando adenovírus, norovírus, vírus da hepatite A e E, rotavírus e vírus entéricos.

Fonte: Notícias da UFSC