Mulheres e Meninas na Ciência: o que esperar do futuro?

Pesquisadoras estão conquistando espaços nunca antes abertos para mulheres, mas caminho para a equidade de gênero nesta área ainda é longo

Neste sábado, dia 11, celebramos o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Ainda há pouco que comemorar: no Brasil, embora as mulheres sejam a maioria dos cientistas, ocupando 58% das bolsas na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), quase nunca chegam ao topo. As cientistas integram apenas 7% da mais alta instância entre os acadêmicos

Ainda que o cenário seja negativo, tivemos alguns avanços e podemos esperar mais para o futuro, apesar de ser um processo lento. As mulheres vêm cada vez mais conquistando espaço como cientistas e reforçando a importância do debate sobre equidade de gênero e a necessidade de políticas públicas para alcançá-la.

Mulheres em cargos de liderança científica

Agora, pela primeira vez na história, uma mulher é efetivamente responsável pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Luciana Santos é engenheira eletricista formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e também foi a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-governadora de Pernambuco, em 2018. Antes dela, o ministério havia sido ocupado interinamente por Emília Maria Silva Ribeiro Curi, entre abril e maio de 2016.

Ao assumir a pasta, Luciana Santos prometeu que “essa gestão vai honrar as milhares de mulheres que produzem e pesquisam neste país. E sua luta por respeito, inclusão e valorização. Vai honrar a luta antirracista e a luta das pessoas negras por espaço nas pós-graduações e no campo de pesquisa.”

Luciana Santos assumiu o MCTI (Foto: Wesley Sousa/Agência Brasil)

A Academia Brasileira de Ciência (ABC) também passou a ser comandada por uma mulher. Em maio de 2022, Helena Nader foi empossada como a primeira mulher presidente da entidade em 106 anos de história. Nader assumiu o compromisso de colocar a ABC a serviço da luta por uma ciência mais justa para mulheres e pessoas negras. 

Helena Nader, a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Ciências, é bióloga e biomédica (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

“Precisamos de mulheres matemáticas, engenheiras, filósofas, historiadoras, etc. Só podemos progredir como país e como indivíduos se conhecermos o nosso passado e planejarmos o futuro”, já defendia Nader antes mesmo de assumir o cargo na ABC, em entrevista para a revista Galileu em 2020.

Estímulo a jovens cientistas

A ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação pretende estimular o desenvolvimento de meninas na ciência, expandindo o programa Futuras Cientistas que já realizava no governo de Pernambuco. Na iniciativa, são ofertadas bolsas de imersão científica a alunas 2º do ensino médio e professoras da rede pública de todo o Brasil.

“Vamos debater o programa Futuras Cientistas, meninas do ensino médio que se habilitam para receber essas bolsas e a resultante é muito positiva”, defendeu Luciana Santos. A ministra reafirmou o compromisso prioritário de sua gestão de assegurar que meninas e mulheres tenham seus espaços nas carreiras científicas e tecnológicas. 

Ainda em janeiro,  o programa Futuras Cientistas chegou à primeira edição nacional, contemplando 470 estudantes e professoras de escolas públicas em unidades de pesquisa do MCTI. A UFSC foi uma das instituições a participar da edição, por meio do projeto de extensão ReAtividade na Ciência, vinculado ao Departamento de Química. 

Vitoria e Thifani fizeram parte do grupo de quatro estudantes de ensino médio selecionadas para a primeira edição do Futuras Cientistas em Santa Catarina (Foto: Lethicia Siqueira/UFSC)

Ao longo de 10 anos de programa, 70% das participantes foram aprovadas no vestibular. Deste total, 80% escolheram cursos nas áreas de Ciência e Tecnologia.

::: Leia também: Conheça iniciativas da UFSC que incentivam a inserção de meninas e mulheres na ciência

Projeto de Lei incentiva a participação de mulheres, com apoio às mães 

Há um Projeto de Lei na Câmara de Deputados, o PL 840/2021, que prevê incentivo à participação da mulher nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia, matemática, química, física e tecnologia da informação. O texto, que teve origem no Senado em 2018, onde já foi aprovado, altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O PL está parado desde maio de 2021 na Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres. 

Se aprovada, a proposta concederá licença-maternidade de 180 dias para estudantes de nível superior, além de garantir o direito à prorrogação do prazo para conclusão de curso em casos de maternidade e de adoção. O projeto também prevê o estímulo ao empreendedorismo feminino, por meio do acesso a linhas de crédito, do fomento à educação financeira e do incentivo à assistência técnica.

Além disso, a proposta também altera a Lei de Inovação Tecnológica para incluir a participação feminina como um dos requisitos a serem observados nos incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica. 

::: Vote na pesquisa de opinião da Câmara dos Deputados sobre a PL 840/2021

Quando se discute políticas para as mulheres, a maternidade se mostra prioridade. Em 2021 foi criado um campo para inserção da licença-maternidade no Currículo Lattes de pesquisadoras. A alteração na plataforma, feita pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), atende uma demanda de representantes da comunidade científica, como o Movimento Parent in Science, coordenado pela pesquisadora Fernanda Staniscuaski da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que havia protocolado solicitação junto à entidade.

Outra política do CNPq é o programa Mulher e Ciência, mantido desde 2005, que visa estimular a produção científica sobre relações de gênero e promover a participação das mulheres na ciência e na academia. Até este ano, com a nacionalização do Futuras Cientistas, o programa Mulher e Ciência era a única iniciativa governamental no âmbito nacional com o foco em incrementar a participação feminina na Ciência e Tecnologia (C&T).

Mulheres ainda são minoria no mercado de trabalho de C&T

As mulheres que saem da academia e entram no mercado de trabalho ainda enfrentam desigualdades salariais e de acesso a determinadas áreas ou cargos. No Brasil, as mulheres ganham em média 20,5% menos que homens, tendo o mesmo perfil de escolaridade e idade e na mesma categoria de ocupação.

Em Santa Catarina, apenas 24,7% das vagas de C&T no estado são ocupadas por mulheres, conforme mostra estudo do Observatório da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). Essa disparidade vem desde a formação acadêmica: apesar de as mulheres serem maioria no ensino superior, ainda são minoria nas áreas de TI e engenharias e encontram dificuldades para se inserirem nessas áreas, consideradas masculinas. 

Lais Godinho
Imprensa Apufsc