Colégio de Aplicação da UFSC inicia o ano letivo com “vaquinha” para pagar manutenção dos aparelhos de ar-condicionado

Colégio também retornou com mudanças na distribuição de horários das turmas

No dia 19 de fevereiro, as aulas foram retomadas no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (CA/UFSC). O novo ano letivo iniciou com o problema da falta de manutenção nos aparelhos de ar-condicionado, que atinge toda a universidade, enquanto a Reitoria providencia os novos contratos com empresas responsáveis pelo serviço. Para remediar a questão no CA, um grupo de pais se mobilizou em uma “vaquinha” para custear a manutenção por conta própria.

Segundo Carla Cristiane Loureiro, diretora do colégio, essa é a questão mais grave relacionada à infraestrutura da escola neste início de ano. Ela explica que os pais de alguns alunos matriculados trabalham em empresas de manutenção de ar-condicionado e, diante do calor excessivo e da impossibilidade de a Administração Central agir, as famílias iniciaram um movimento para resolver o problema. A instalação de novos aparelhos de ar-condicionado dentro da UFSC não é possível sem aprovação prévia. Já a Reitoria ainda está no processo de contratação para manutenção dos equipamentos.

Colégio de Aplicação iniciou as aulas em fevereiro (Foto: Natan Balthazar/Apufsc)

Mudança nas turmas

O Colégio de Aplicação também retomou as atividades curriculares com nova distribuição de horários das turmas. Os turnos foram reorganizados, de forma que apenas as turmas do oitavo ano ao ensino médio passaram a ter aulas pela manhã, enquanto os anos iniciais, até o sétimo, estudam no período da tarde. Segundo a diretora, essa mudança foi decidida a partir de pedidos internos e dos próprios responsáveis pelos estudantes. O objetivo é organizar o espaço para atender melhor as especificidades de cada grupo, “numa lógica que nos parece melhor pra escola e melhor para as famílias”, explica.

Hamilton de Godoy Wielewicki, diretor do Centro de Ciências da Educação (CED), do qual o Colégio de Aplicação é integrante, afirma que trata-se de uma escolha administrativa e pedagógica. “Tem uma expectativa de que isso seja bom para ambos os grupos, para as crianças não terem que disputar o espaço da escola com os maiores”, explica, acrescentando que é uma experiência a ser observada ao longo do ano.

Atualmente, o Colégio de Aplicação tem 961 alunos regularmente matriculados. Eles são distribuídos em três turmas para cada um dos anos, que vão do primeiro da educação básica até o último do ensino médio. Tanto a diretora do CA quanto o diretor do CED explicam que, por questões pedagógicas, eventualmente pode ser criada uma quarta turma para algum ano, normalmente devido a altas taxas de reprovação. Essas turmas extras, no entanto, não estão previstas no regimento, e seguem decisões administrativas e pedagógicas do colégio para cada ano letivo.

Até 2023, por exemplo, existia uma turma extra para o primeiro ano do ensino médio. Ela foi mantida para o segundo e, agora, para o terceiro ano, mas deve deixar de existir em 2025. Isso porque serão mantidas apenas as três turmas previstas pelo regimento do CA.

Mudança no regimento

A alteração na organização de horários do CA motivou, segundo a diretora, uma necessidade de rever todo o regimento interno do colégio. Ainda no início de 2023, foi montada uma comissão para trabalhar numa minuta, discutida com toda a comunidade escolar ao longo do segundo semestre do ano passado. Entre as propostas de mudança no documento, está uma diminuição na quantidade de alunos em turmas dos anos iniciais.

O regimento atual determina a existência de 20 vagas no primeiro ano do ensino fundamental, e um acréscimo de 15 estudantes a partir da série seguinte. Na nova proposta, a determinação é de que o número de vagas para os anos iniciais fique limitado a 20. “Nosso espaço físico é esse, as condições de trabalho são essas, e a gente acha que pode qualificar o trabalho, principalmente com os menores, se a gente trabalhar com 20”, justifica a diretora Carla Loureiro. Entre as principais razões, ela cita as condições de espaço das salas de aula e a dificuldade de atender todos os alunos com a falta de professores, principalmente da educação especial.

O diretor do CED, que já atuou como professor no Colégio de Aplicação, explica que, além dos 25 alunos de cada turma, as equipes em sala de aula contam com o professor, o co-docente, bolsistas de inclusão, estagiário e professor orientador de estágio. “A sala não comporta”, afirma Godoy.

A proposta final do novo regimento, conta a diretora do CA, foi discutida em quatro colegiados plenos, entre novembro e fevereiro deste ano. Na próxima reunião, ela afirma, serão aprovadas as quatro atas para encaminhamento ao Conselho de Unidade. Se aprovado, o documento segue para a Câmara de Educação e, por fim, ao Conselho Universitário.

Sobrecarga docente

A diretora do colégio acrescenta que outra questão levada em consideração para essas alterações foi a qualidade das condições de trabalho para os professores e professoras. Ela diz que o Colégio de Aplicação tem, em média, cerca de 20% dos professores adoecidos.

A diretora explica que os professores do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) têm uma carga horária ainda maior que a dos docentes de cursos de graduação, e “também têm que fazer ensino, pesquisa, extensão, materiais da universidade, em condições muito mais precárias.”

A decisão, portanto, segundo ela, de reduzir o número de alunos nas turmas iniciais, foi pensada para a qualidade das aulas. “Eu tenho que trabalhar com a realidade que eu tenho hoje, e na realidade que a gente tem hoje, para melhorar a condição dos professores, esse foi um caminho que essa comunidade escolar decidiu”, afirma a diretora.

Em relação à equipe docente do Colégio de Aplicação, a diretora diz que os afastamentos são uma questão enfrentada todos os anos, e aponta que existe burocracia para a contratação de professores substitutos.

Quando um docente sai por licença, independentemente da razão, só é possível abrir um processo seletivo para a contratação de um substituto a partir do documento oficial de justificativa do afastamento. Isso significa, explica a professora, que as turmas vão ficar de 30 a 40 dias sem professor. O diretor do CED ainda acrescenta que, em casos de afastamento de menos de 60 dias, não é possível fazer a substituição, e outros professores precisam redistribuir a carga horária.

A diretora Carla Loureiro diz que o CA está tentando, junto com a Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas da UFSC (Prodegesp), organizar um banco de substitutos, a exemplo do que fazem os Institutos Federais. A ideia seria realizar, no início de cada ano letivo, um processo seletivo e elaborar uma lista de professores substitutos para serem chamados quando for necessário. Ela diz que isso facilitaria a questão, já que o tempo para um substituto tomar as aulas nesse caso seria de uma semana, ao invés dos 40 dias de um processo seletivo no meio do ano. “A gente teve uma reunião esse ano já, com a pró-reitora de Gestão, que disse que ia levar esse questionamento para o MEC”, afirma.

Obras concluídas

No Dossiê sobre as condições de trabalho docente e funcionamento geral da UFSC elaborado pela Apufsc-Sindical em 2023, a estrutura física era apontada como o principal problema no Colégio de Aplicação. Na época, a escola passava por uma série de obras que, segundo a diretora Carla Loureiro, foram concluídas e entregues no início deste ano.

As reformas foram pensadas para resolver questões de acessibilidade no espaço do colégio, e incluíram o refetório e o auditório, bem como a cobertura de alguns acessos e a construção de blocos de ligação com elevadores. O diretor do CED explica que eram demandas de muito tempo, que foram finalmente atendidas. Ele cita, no entanto, a falta de um ginásio coberto no espaço. Para as aulas de educação física, os alunos precisam se deslocar até o Centro de Desportos (CDS) ou improvisar atividades no pátio da escola. Godoy explica, ainda, que com o rearranjo da organização das turmas, “o uso dessas estruturas, vamos dizer assim, improvisadas, fica mais seguro”

Depois da entrega das obras, que custaram cerca de R$ 2,5 milhões, não há nenhuma reforma prevista para este ano, fora eventuais manutenções que podem surgir.

Programa Pé-de-Meia

No dia 26 de fevereiro, o Colégio de Aplicação anunciou que a UFSC assinou o convênio com o MEC para que os estudantes da escola possam receber o auxílio do Programa Pé-de-Meia, lançado pelo governo federal no início deste ano. O programa é uma política de incentivo à permanência e conclusão escolar dos alunos matriculados no ensino médio público.

O auxílio inclui: o Incentivo-Matrícula, no valor anual de R$ 200 para estudantes que se matricularem; o Incentivo-Frequência, no valor total anual de R$ 1.800, distribuído em parcelas mensais de R$ 200 para aqueles que tiverem um mínimo de 80% de frequência; o Incentivo-Conclusão, no valor total anual de R$ 1.000 para os estudantes aprovados; e o Incentivo-Enem, no valor total de R$ 200 para os que realizarem a Exame Nacional do Ensino Médio.

São elegíveis os alunos que têm entre 14 e 24 anos, regularmente matriculados no ensino médio em escola pública, que tenham 80% de frequência, CPF, CadÚnico atualizado e são beneficiários do Bolsa-Família. É o próprio colégio que irá enviar as informações solicitadas pelo programa. A previsão é que o primeiro pagamento, do Incentivo-Matrícula, ocorra entre o final de março e o começo de abril.

Laura Miranda
Imprensa Apufsc