Os caminhos da mobilização docente na UFSC: Desafios e perspectivas

*Por Alex Degan, Tiago Kramer de Oliveira e Waldomiro Lourenço da Silva Júnior

Nós, docentes da UFSC, estamos prestes a decidir se vamos ou não entrar em greve. Acumulamos perdas salariais e nossa carreira precisa de reestruturação. A proposta do governo federal prevê recomposições salariais de 4,5% em 2025 e mais 4,5 em 2026. Para 2024, ajustes nos benefícios. É fato que as representações de nossa categoria, em uníssono, rejeitam a ausência de recomposição salarial em 2024. Não é verdade que a última palavra foi dada e que as negociações foram encerradas. Existe a promessa de algum percentual de reposição a ser definido em junho, caso a arrecadação permaneça na trajetória que iniciou o ano. Já a recomposição de 2025, e modificações na carreira que demandem recursos, precisam constar no orçamento a ser enviado ao Congresso. Sendo assim, é mais que recomendável que as negociações sejam encerradas até o final de maio.

Para os docentes que viveram o período Lula e Dilma, não há novidade. As mesas de negociação se transformam rapidamente em mesas de protelação e em um teste para os nervos. Não raramente, a protelação leva ao endurecimento da posição da categoria e, logo, à deflagração de greves. Longas greves, diga-se de passagem. Por mais que tenhamos uma categoria numerosa, politicamente ativa e socialmente relevante, não temos mecanismos de pressão a ponto de tornar o fim da greve algo urgente para a administração federal e muito menos para o Congresso. Após longas greves, com perdas ou ganhos, os calendários acadêmicos são ajustados de modo a comportar 1,5 ano letivo em 12 meses, com pequenos recessos em meses aleatórios e aulas em fevereiro e em julho.

Assim sendo, temos urgência em entrar em greve ou podemos trabalhar para mobilizar a categoria nas negociações e usar o expediente paredista quando todas as outras possibilidades efetivamente se esgotarem?

As universidades estão vivendo desde 2015 uma realidade de subfinanciamento. Os governos Temer e Bolsonaro mantiveram as universidades federais à míngua. O governo Bolsonaro, além do estrangulamento orçamentário, alimentou campanhas de ódio contra as universidades públicas e foram quatro longos anos sem qualquer reposição salarial. Mesmo assim, durante todo este período, nenhuma grande mobilização da categoria para a deflagração de greves ocorreu. Pode-se justificar tal postura em razão da pandemia, de alguma estratégia de não desgastar a categoria em um momento de ameaças a democracia e a total falta de diálogo entre governos e representantes sindicais. De qualquer maneira, o fato é que nos quatro anos de Bolsonaro, com subfinanciamento e congelamento de salários, não houve greve. Mas, agora, no segundo ano do governo Lula, após um reajuste de 9% em 2023, existe intensa movimentação, por partes de alguns setores, para que entremos em uma greve em abril. Temos que lembrar também que o atual governo concedeu significativo reajuste nas bolsas de estudo, lançará editais para políticas que haviam sigo descontinuadas e criou um programa nacional de bolsas de extensão.

Como de costume, os mais moderados e mesmo aqueles que consideram que ainda não é o momento para a deflagração de uma greve, sem, contudo, descartá-la como estratégia futura, são taxados de pelegos. Por outro lado, paira no ar o sentimento de que os grevistas de primeira hora em 2024 foram “tchutchucas” com o Bolsonaro e hoje são “tigrões” com o Lula. Nenhum dos lados deve ficar satisfeito com tais adjetivações. É essencial amenizar as animosidades, reconhecendo a importância do diálogo como meio fundamental para encontrar soluções que atendam aos interesses da categoria.

A UFSC sente as duras consequências dos cortes do orçamento das universidades. A atual reitoria quando assumiu a gestão, priorizou a política de permanência estudantil e o reajuste das bolsas, demandas emergenciais, justamente atendidas. A gestão faz trabalho notável na implantação de ações afirmativas e no combate ao racismo e ao assédio, entregou aos estudantes indígenas a reforma do alojamento, trabalha arduamente na captação de recursos em Brasília e conseguiu a verba necessária para a reforma e ampliação do RU. Por outro lado, a situação dos aparelhos de ar-condicionado e a ausência de diversos reparos, como os de impermeabilização e dos telhados, só não foram feitos em razão de graves falhas da PROAD e da Prefeitura Universitária. Este fato foi exposto e reconhecido pela administração central, em reuniões com os diretores de Unidades de Ensino e em reunião do Conselho Universitário, em novembro de 2023. Com os recursos garantidos pela reitoria, PROAD e PU asseguraram que, até março de 2024, diversos contratos de serviços estariam vigentes, obras emergenciais estariam prontas e os aparelhos de ar-condicionado das salas de aula em funcionamento.

Por que, diante de fatos tão conhecidos, não existe uma cobrança mais contundente por parte dos grupos mobilizados das diferentes categorias da universidade em torno da responsabilidade da reitoria? Não seria hora de dobrar a cobrança diante de fato tão grave e exigir mudanças na gestão em vez de transferir todo o ônus para o governo federal?

Muitos dos que acusam o PROIFES de estar a serviço do governo para evitar uma greve docente omitem de suas bases os verdadeiros responsáveis pela falta de aparelhos de ar-condicionado e pela não conclusão de obras emergenciais. A comunidade universitária é a mais prejudicada, porém, há outra vítima: a agenda daqueles que genuinamente se preocupam com o futuro da UFSC. Sem idealizações na política, fica a meditação: são tão graves e desafiadoras as questões que ameaçam nossa comunidade universitária que uma construção crítica, mas solidária e agregadora, é necessária. Uma agenda ampla, criativa e propagadora de ações que resgatassem o que a UFSC possui de melhor poderia nascer de tanta dor, frustração e dificuldades. Infelizmente tal caminho parece estar vedado para nossa corporação universitária, pois este não é o percurso desenhado pela letargia da gestão e pela oposição organizada que vibra com um clima do “quanto pior, melhor”.

Ao não cobrar a reitoria por suas falhas administrativas, permitimos que grupos de oposição, menos comprometidos com políticas de inclusão e diversidade, ganhem cada vez mais espaço. Assim sendo, é fundamental atuarmos para que a comunidade docente da UFSC compreenda o panorama local e nacional, pois a desinformação, as omissões e as indignações seletivas obscurecem os fatos e seu contexto. É hora de mobilizar a categoria e fornecer informações de qualidade.

Paralisamos nossas atividades em 03 de abril para participar das mobilizações, mas, nesta oportunidade, votamos contra a deflagração da greve, pois, em suma, acreditamos que ainda não exploramos todas as possibilidades de negociação. Tal escolha não significa o esmorecimento, a complacência e a covardia, mas a compreensão lúcida dos enormes desafios que se colocam em nosso horizonte.

*Alex Degan, professor do Departamento de História
Tiago Kramer de Oliveira, professor do Departamento de História
Waldomiro Lourenço da Silva Júnior, professor do Departamento de História