Procura por cursos de graduação na UFSC cai 34,8% em oito anos

Cenário de queda entre os cursos de ensino superior presenciais é nacional

Entre 2017 e 2025, o número de candidatos inscritos na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) pelo vestibular e pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) passou de 63.338 para 45.243, uma queda de 34,8%. Essa redução foi registrada nas duas modalidades de ingresso, com uma diminuição de participantes de 38,2% e 31,6%, respectivamente. Os números de 2025 ainda não alcançaram os índices pré-pandemia de covid-19. Os dados são do Sisu e da Coperve.

A queda no número de inscritos também impactou a concorrência dos cursos. Considerando apenas a primeira opção de graduação escolhida pelos candidatos no vestibular de 2017, nove dos 101 cursos oferecidos tiveram menos de 1 candidato/vaga. Já em 2025, das 100 opções, 37 tiveram essa relação. Os candidatos por experiência (os chamados treineiros) não fazem parte dessas estatísticas.

Levando em conta apenas os cursos oferecidos nos vestibulares de 2017 e 2025, os cinco que mais apresentaram queda no número de inscritos foram: Medicina – Florianópolis (-37,8%), Engenharia Civil (-77,9%), Arquitetura e Urbanismo (-59%), Engenharia Mecânica (-68,6%) e Odontologia (-59,7%). Vale ressaltar que, em 2017, o curso de Medicina era oferecido apenas no campus de Florianópolis. Em 2025, os campi de Araranguá e Curitibanos também passaram a ofertar o curso, o que fez com que a perda de inscritos na capital fosse compensada pela soma dos inscritos nos três campi.

Entre os cursos de licenciatura, houve queda de 49,6% no número de inscritos. As graduações com Área Básica de Ingresso (ABI) acumulam uma perda de 57,3% de candidatos. Já os cursos com opção de Bacharelado e Licenciatura tiveram diminuição de 36,7%.

Apenas cinco cursos tiveram aumento no número de inscritos: Ciência da Computação (30%), Engenharia Aeroespacial (16,1%), Sistemas de Informação (6,6%), Tecnologia da Informação e Comunicação (31%) e Artes Cênicas (7,4%). 

No que diz respeito à ocupação das vagas, 75,2% das 4.525 vagas oferecidas pela UFSC na última edição do vestibular unificado foram preenchidas na primeira chamada. Somente quatro centros de ensino do campus Florianópolis alcançaram 100% da ocupação inicial. O campus de Blumenau foi o local que mais acumulou vagas ociosas. Das 350 ofertadas, apenas 77 foram preenchidas com a primeira lista de aprovados.

Ocupação das vagas do vestibular 2025 após a 1ª chamada

Docentes analisam situação

Adriano Péres, diretor do campus Blumenau, afirma que, entre os docentes, “há uma percepção geral de que os números não são favoráveis”. Ele explica que, antes da pandemia, o campus chegou a quase 1,5 mil alunos, mas que, depois de dois anos de ensino remoto, eles se tornaram cerca de 800. Em 2024, houve uma recuperação desses números e o campus terminou o ano com 1,2 mil estudantes.

“Nossa percepção atual é de que o número vai se tornar mais favorável, seja com as novas políticas de valorização de professores de ensino básico e os cursos de licenciatura, seja com a mudança de sede do campus”, destaca Péres.

Sérgio Romanelli, coordenador do departamento de Letras – Línguas Estrangeiras e Secretariado Executivo, também cita a pandemia como um divisor e ressalta o caráter nacional do problema: “Foram três semestres online, muito complicados para todos, tanto alunos quanto professores. E aí muita gente que estava matriculada antes, num fluxo positivo, não voltou mais por vários motivos.” 

No Centro de Ciências Físicas e Matemática (CFM), a diminuição das turmas de calouros também foi visível, segundo Luiz Madureira e Raphael da Hora, diretor e vice-diretor da unidade. O Centro conta com 12 cursos, entre eles Física, Química e Matemática, e turmas de Engenharia. “Todo mundo percebeu, foi algo que, para alguns, pode ter sido bom, porque você deixou de dar aula para 100, 80 [alunos] para dar para 40, que é ainda bastante, mas ainda assim é algo que a longo prazo as pessoas ficam preocupadas com a situação da importância da universidade”, afirma Raphael.

Para Alex Degan, diretor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), a queda na procura por cursos de graduação é sistêmica. No caso das licenciaturas, ele destaca que certo desinteresse pode ser explicado pelo “desprestígio” sofrido nas últimas décadas, assim como os ataques de lideranças políticas aos cursos de humanidades. Mas acrescenta que o quadro é complexo, porque a queda não está concentrada apenas em uma área ou habilitação: tem atingido também cursos tradicionais. 

Degan enfatiza que, com exceção da China e Índia, a matrícula universitária tem caído em boa parte do mundo. Entre as particularidades do Brasil que implicam nesse cenário, ele cita a necessidade dos alunos em trabalhar, devido às crises políticas e econômicas recentes. “Nós temos poucos cursos noturnos na instituição, por exemplo. Então isso ajuda a entender um pouco a queda. Nós também estamos com problemas de assistência estudantil, que isso precisa ser considerado. São vários os fatores que somados, desde o desinteresse, até uma geração que tem o apetite em experimentar várias formações, até problemas estruturais mesmo, que nos levam a lidar com esse caso, com esse número de baixa procura”. 

O diretor do campus Joinville, Diego Santos Greff, também aponta que houve queda no interesse dos jovens egressos do ensino médio pelas engenharias. Para ele, a exceção é o curso de Engenharia Aeroespacial, que fica em Joinville e, atualmente, é a engenharia mais concorrida da UFSC no vestibular. “O momento histórico da nova corrida espacial, promovida por empresas privadas, torna favorável a procura por este curso”, afirma.

A percepção da queda do interesse também foi percebida no Centro Tecnológico (CTC), segundo o vice-diretor Amir Oliveira. Ele lembra que essa queda em cursos de engenharia e arquitetura iniciou em 2016, atingindo o auge em 2022.

Formas alternativas de ingresso

Em média, a UFSC oferece 6.471 vagas por ano. Desde 2016, 30% delas são reservadas para o ingresso de estudantes via Sisu, enquanto 70% são destinadas ao tradicional vestibular. Apesar da diferença percentual, o número de inscritos pelo Sisu, que considera a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), é maior.

Para preencher as vagas ociosas, a UFSC adota formas alternativas de ingresso, além das chamadas suplementares dos processos seletivos. Hoje, é possível entrar na universidade ainda por meio da reopção de curso no vestibular, retorno de graduado, transferências, lista de espera do Sisu e em algumas graduações pelo histórico escolar. 

Essas possibilidades impactam diretamente em cursos com poucos inscritos no vestibular. Em 2025, por exemplo, das 140 vagas dos cursos de Letras Alemão, Francês, Espanhol, Italiano e Inglês, apenas 62 foram preenchidas com a primeira chamada do vestibular. Mas, por conta do Sisu e das outras formas de ingresso, o semestre deve iniciar com quase todas as turmas cheias, de acordo com Romanelli. “No ano passado, a gente conseguiu reverter uns dois anos de entradas negativas, digamos, com preenchimento quase total das 40 vagas em todos cinco cursos”, afirma, destacando 2024 como o ano de reconstrução dos números.

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Os contrassensos no ingresso de calouros em 2025-1

O problema da evasão

Não é só a baixa procura pelo ingresso que preocupa: é também a permanência. É o que diz o coordenador do departamento de Letras – Línguas Estrangeiras e Secretariado Executivo: “o problema não é que os alunos não entram, não se interessam pelo curso, é que eles não permanecem”. Para Romanelli questões político-econômicas-sociais influenciam tanto na procura quanto na evasão.

“O aluno que está no interior do estado, que pode acessar uma universidade, ainda que pagando, mas estando no local onde ele vive, facilita muito mais, é muito mais atrativo do que vir aqui, estar numa cidade caríssima”, opina. No caso do seu departamento, boa parte dos alunos vêm de outras cidades, “ficam aqui o primeiro semestre, se animam, querem continuar, mas não têm condições. As bolsas são poucas, bolsa de monitoria e outros tipos são R$ 600, R$ 700, e não têm como pagar um aluguel, mesmo dividindo”.

O custo de vida em Florianópolis também foi um ponto levantado por Alex Degan, diretor do CFH. Ele lembra que, com o ciclo de crise econômica e política desde 2013, muitos alunos ingressantes não têm condições de se manter na cidade, uma vez que os auxílios de permanência estudantil existem, mas ainda são insuficientes. 

O vice-diretor do CFM, Raphael da Hora, também pontua que a desistência dos alunos tem acontecido mais rápido, ainda nas primeiras fases. “Antes o estudante ficava um pouco de tempo a mais, era mais resiliente. Agora a impressão que dá é que dependendo da situação, em poucas semanas ou por causa de uma prova, o estudante vai embora”, afirma.

Para a Diretoria do CFM, a infraestrutura precária também afasta os alunos. O coordenador do departamento de Letras – Línguas Estrangeiras e Secretariado Executivo, tem a mesma opinião. “O aluno que vem aqui se anima pelo curso, mas a queixa é constante. Ter que ficar quatro, cinco, seis horas em uma sala sem ar-condicionado, com mofo, goteiras caindo em cima. Para nós que trabalhamos aqui e para eles é muito desagradável no dia a dia, difícil manter a motivação”, avalia Romanelli. 

Degan acrescenta que há uma debilidade da instituição em responder às demandas materiais, por estrutura, e que isso dificulta a oferta de condições excelentes. “Oferecemos boas condições, mas queremos oferecer condições excelentes para a permanência dos nossos alunos”, afirma. Ele conta que o Centro tem buscado outras maneiras de captar recursos para melhorias no espaço e tem trabalhado para manter espaços coletivos, para que os alunos se sintam mais acolhidos.

Para Fábio Lopes, diretor do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), os cursos precisam se preparar para proteger e acolher os alunos, principalmente nos dois primeiros semestres, quando ocorre maior evasão. Ele defende que existem múltiplas ações que podem ser feitas para isso. “Uma delas é pegar os melhores professores, os mais entusiasmados, os que têm melhor comunicação com os alunos, e colocar para dar aula para os calouros. É integrar as disciplinas para o aluno não ficar diante de uma colcha de retalhos, perdido”, exemplifica.  

Na UFSC, de acordo com o relatório de evasão e retenção dos cursos presenciais, entre 2008 e 2023, 59% dos alunos evadiram e 41% se formaram, considerando apenas matrículas com status definitivo, ou seja, sem os estudantes regulares. O estudo foi divulgado em dezembro de 2024 pela Prograd e apresenta dados e análises sobre o tema.

Entre os campi, os de Joinville e de Blumenau são os que acumulam maiores percentuais parciais de evadidos ao longo do período, com 59% e 61%, respectivamente, e um percentual de formandos de 13% e 17%. O Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM) é o com o maior número de evasões: 72%. 

Vale destacar que os números apresentados pela Prograd não consideram a particularidade de ingresso do campus Joinville antes de 2015. Até aquele ano, o processo seletivo era para uma graduação única em Engenharias, e, após um ciclo básico, o aluno podia optar por se formar ou se transferir para um curso específico de engenharia dentro do próprio centro. No entanto, no relatório, as transferências são classificadas como evasão, o que acaba elevando os dados de desistência do centro.

Para o diretor do campus Blumenau, o fato de os cursos oferecidos envolverem disciplinas com conteúdo pesado e abstrato contribui para as muitas reprovações. “A baixa qualidade do ensino médio acaba se refletindo na universidade com esses números de retenção e as desistências, evasão”, acrescenta. Ele sugere que é fundamental que sejam criadas políticas mais assertivas de recuperação de conteúdos e permanência estudantil.

“É necessário que a instituição se debruce sobre o problema e crie programas efetivos de enfrentamento, caso contrário, continuaremos a perder alunos e, o pior, criando uma geração de pessoas frustradas por não alcançarem o objetivo pessoal ou a realização do sonho de se formarem em uma determinada carreira”, reflete Péres.

Em nível nacional, a taxa de evasão dos cursos presenciais de ensino superior de 2019 a 2023 foi de 54,2%, sendo de 58,4% na rede privada e 41,6% na pública, e a porcentagem de concluintes foi de 27,4% e 18,8%, respectivamente. Já os cursos EAD acumularam 63,7% de desistência e 26,7% de formados. Os dados fazem parte do Mapa do Ensino Superior no Brasil 2025, do Instituto Semesp.

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Política Institucional de Enfrentamento à Evasão

A pró-reitora de Graduação e Educação Básica da UFSC, Dilceane Carraro, cita dois pontos que contribuem para a baixa procura pelo ingresso na universidade: “Temos muitos cursos que não têm procura no número suficiente das vagas ofertadas, então esses não vão preencher as vagas. E aí temos, depois, uma corrida com as chamadas e toda a análise documental para preencher as vagas onde há lista de espera, onde há candidatos aguardando.”

Além disso, a Prograd avalia adiantar o vestibular nos próximos anos. No modelo atual, a UFSC tem menos de dois meses para realizar as chamadas, antes do início do semestre. No caso do Sisu é ainda menos. “A gente não consegue, mesmo onde tem candidatos, ocupar tudo, porque tem alguns que entram com recurso, que pedem extensão de prazo para apresentar novos documentos, isso vai utilizando o tempo e às vezes uma vaga é indeferida depois de três, quatro semanas e daí a gente chama um novo candidato, mas nessa altura ele está aguardando a análise”. Ela explica que a análise da documentação de ações afirmativas leva mais tempo. 

De acordo com Dilceane, a Pró-Reitoria de Graduação e Educação Básica (Prograd) está fazendo um estudo, junto com a Comissão de Evasão, para melhorar o processo de chamadas e dos ingressos. “A gente quer fomentar que os cursos olhem para si, para sua realidade, vejam a sua procura, o nível de evasão, se o seu projeto pedagógico está atendendo, que outras mudanças podem fazer que melhorem a permanência dos estudantes, a atratividade do curso, sabendo dos seus limites”, explica.

A universidade está começando a elaborar a Política Institucional de Enfrentamento à Evasão, dividida em duas frentes: a elaboração de dashboards de cada curso com dados consolidados e atualizados; e os pilotos, em que cada curso vai olhar para seus dados e propor iniciativas, com apoio da Comissão, de como reorganizar e estabelecer ações de acompanhamento do estudante.

“A ideia da Comissão é estruturar os procedimentos de acompanhamento mais individualizado pelos cursos e centros de ensino, tanto pelos dados para já mapear quem é potencial a evadir, quanto os que recém-evadiram e ainda tentar resgatá-los. A gente tem proposta de no segundo semestre colocar em consulta pública a política e enviar para aprovação do Conselho Universitário”, conta Dilceane.

Para Fábio Lopes, diretor do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), “a universidade está perdendo o seu lugar na economia brasileira, na sociedade brasileira. Está conhecendo um processo de deslegitimação”. “E qual é a saída para isso? É oferecer qualidade. A UFSC só tem uma saída, que é apostar na excelência”, afirma o diretor.

Divulgação de cursos é fundamental

No departamento de Letras – Línguas Estrangeiras, a coordenação tem se debruçado sobre esse problema. No momento, três comissões – bacharelado em tradução e interpretação, dupla licenciatura e mediação cultural – trabalham na reorganização do currículo dos cursos. O objetivo, com isso, é que a partir do ciclo básico o aluno tenha mais opções além de seguir só com o bacharelado ou a licenciatura. Romanelli acrescenta que também há um esforço para divulgar a UFSC e os cursos para a comunidade.

A divulgação também é considerada importante pelo vice-diretor do CFM. Conforme Raphael Da Hora, uma das dificuldades em atrair novos alunos se dá pela limitação das informações sobre as perspectivas de emprego, em especial nas carreiras de químico, físico e matemático. Ele cita ainda a “estigmatização de ser professor” e a baixa remuneração.

Sobre essa questão, a pró-reitora da Prograd conta que, no ano passado, a universidade respondeu uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a ocupação de vagas, e um dos eixos questionava sobre iniciativas que poderiam ser feitas para melhorar o cenário. Entre os apontamentos de ações que a UFSC já adota, Dilceane explica que há necessidade de melhorar a comunicação sobre a qualidade da universidade nas mídias, inclusive por parte do Ministério da Educação (MEC). “Acho que esse ano ele [MEC] melhorou. Divulgou o Sisu, o Pé-de-Meia, mas precisa divulgar as universidades, os cursos, porque ele divulga o Fies, o ProUni e não divulga as suas universidades, que são da sua estrutura. Então isso foi algo que a gente colocou e o próprio TCU já viu que é um canal que parece que não tem a divulgação [necessária]”.

Dilceane lembra ainda que a universidade realiza anualmente feira de cursos para a comunidade. Ela ressalta também que a Coperve vai até as escolas da região apresentar as graduações. Além disso, a instituição oferece projetos de extensão e Programas de Educação Tutorial (PETs) que interagem com a sociedade.

No CTC, a necessidade de ampliar a divulgação dos cursos surgiu após análises e debates do centro. “Uma das percepções que tivemos foi de que os alunos cursando o ensino médio, devido às novas dinâmicas de comunicação e relacionamento, não estavam encontrando informações adequadas sobre as carreiras e os cursos oferecidos pela UFSC, portanto, reduzindo a sua motivação para ingresso nesses cursos”, aponta Amir Oliveira. 

A partir dessa percepção, o vice-diretor do CTC conta que foi criado em 2022, por um grupo de docentes, o evento anual “Centro Tecnológico de Portas Abertas”, com um formato mais focado que o da Feira de Cursos da UFSC. A partir de visitas guiadas pelos estudantes do próprio curso, alunos do ensino médio e toda a comunidade podem conhecer diretamente os laboratórios e infraestruturas de ensino e atividades estudantis sediadas no Centro Tecnológico. 

Segundo Oliveira, o número de estudantes do ensino médio participantes cresceu de 200 em 2022 para mais de 800 estudantes em 2024, contemplando inclusive os de outras cidades de Santa Catarina. Um levantamento realizado nas turmas de calouros dos anos seguintes aos eventos mostrou que entre 15% e 20% dos novos alunos do CTC haviam participado da ação, e tiveram as suas decisões de vestibular estimuladas ou reforçadas pelo projeto.

Cenário nacional

Esta não é uma realidade apenas da UFSC. O número de candidatos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) caiu 36% de 2017 para 2025 e, consequentemente, o de brasileiros que tentaram uma vaga em uma universidade pública pelo Sisu, -47,5%. 

No entanto, o número de ingressantes em cursos de graduação do país cresceu 54,8%, de 2017 a 2023. O aumento, porém, não foi ascendente para todas as modalidades de ensino. Enquanto os cursos presenciais, de instituições públicas e privadas, perderam cerca de 22% de novos alunos, o Ensino a Distância (EAD) mais do que dobrou a quantidade de ingressantes nesse período. 

Com a guinada da modalidade, majoritariamente da rede privada, o número total de pessoas matriculadas em um curso de ensino superior EAD quase alcançou o presencial em 2023, retendo 49,2% das matrículas contra 50,8%, respectivamente. Nos cursos de licenciatura, o EAD já predomina entre os matriculados, correspondendo a 66,8%. Os dados são do último Censo da Educação Superior, divulgados pelo MEC no final do ano passado.

Além disso, a percepção dos brasileiros sobre a necessidade de um curso superior está em baixa. Segundo um estudo recente da Quaest, 84% dos entrevistados de classes baixas acreditam que o importante é ter um trabalho que pague as contas de casa. O mesmo comportamento se repetiu entre as classes média e alta, 77% e 71%, respectivamente. Ainda, 58% dos entrevistados da classe baixa concordam que o importante é ter um diploma – nas classes média e alta, esse número é de 52% nos dois casos. 

O reitor da UFSC, Irineu Manoel de Souza, afirma que as universidades do Brasil inteiro, em especial as públicas, estão preocupadas com a queda no número de inscritos. “São cursos de qualidade, em que de vez em quando se observam vagas sobrando, cursos que em outros momentos eram disputados”. Ele também elenca a pandemia e a facilidade do EAD como alguns dos fatores que contribuíram para esse cenário.

Segundo o reitor, ainda no primeiro semestre deste ano, reitores das universidades do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul devem se reunir em um seminário para discutir as formas de ingresso pelo Sisu e vestibular e a baixa procura em alguns cursos. Irineu, que também é subcoordenador da Região Sul na Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), destaca que os encaminhamentos serão levados ao MEC. 

“Isso reflete, entre outros, na carga horária docente, na função social que nós desempenhamos”, diz presidente da Apufsc

Para o presidente da Apufsc-Sindical, Carlos Alberto Marques, “a situação é muito preocupante, diz respeito a todas as universidades públicas no país, inclusive em nível internacional, onde se vê o questionamento sobre a perda de função das universidades enquanto instituições do conhecimento, da ciência e da cultura, que merece uma reflexão”.

Para debater este assunto, a Apufsc realiza nesta sexta-feira, dia 14h, às 14h, o evento com o tema “Desafios e perspectivas sobre o ensino superior no Brasil: a proposta da Academia Brasileira de Ciências”. O debate ocorre no auditório Garapuvu, do Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, na UFSC, em Florianópolis.

Bebeto sugere que este debate se dê também em outros âmbitos: “O MEC precisa também tratar disso, e esperamos que o faça o mais breve possível e que envolva os atores sociais, políticos, acadêmicos, científicos”. Ele acrescenta também o papel do sindicato nesta pauta: “Um sindicato como o nosso também tem que debater estas questões, porque isso reflete, entre outros, na carga horária docente, na função social que nós desempenhamos. Esses números são apenas o reflexo de um problema maior e mais profundo”.

Karoline Bernardi
Imprensa Apufsc