Nova sessão foi agendada para terça-feira, dia 17
A sessão especial do Conselho Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (CUn/UFSC), convocada apenas para a votação da mudança no nome do campus do bairro Trindade, em Florianópolis, terminou às 17h desta sexta-feira, dia 13, sem uma definição sobre o assunto. Foram três horas de discussão até o conselheiro Alexandre Cunha fazer, “em nome da Fiesc”, um novo pedido de vista. Já foram realizadas quatro sessões do CUn sobre o assunto.
Apesar de protestos, o reitor Irineu Manoel de Souza concedeu o pedido de vista explicando que seguiu o regimento interno do CUn e “não há o que discutir”. Presidente do Conselho, o reitor convocou nova reunião para a próxima terça-feira, dia 17, para apresentação do parecer e votação.

Como foi a sessão
A sessão desta sexta-feira iniciou com o reitor lendo uma nota e informando que a Secretaria de Segurança da UFSC elaborou um plano específico para o evento, realizado no auditório Garapuvu, que ficou lotado. Ele também apresentou regramentos para as falas de convidados e conselheiros.
Na sequência, o conselheiro relator Hamilton de Godoy Wielewicki leu seu parecer. Ele concluiu que o relatório da Comissão Memória e Verdade (CMV) da UFSC “apresenta uma visão mais próxima da verdade histórica”, e se manifestou de maneira favorável à alteração do parágrafo 1 do Estatuto da universidade, retirando o nome do ex-reitor João David Ferreira Lima da denominação do campus Trindade.

A advogada da família do ex-reitor, Heloísa Blasi, teve direito a 15 minutos de fala. Ela alegou que não há comprovação da atuação de Ferreira Lima em conjunto com a ditadura. “O reitor tinha que se submeter sob pena de ser penalizado por omissão”, afirmou. Disse ainda que “nunca houve perseguição da pessoa do reitor”, e que “as autoridades militares não cometeram ações violentas na UFSC porque o respeitavam”. Blasi afirmou também que não houve pessoas presas, torturadas ou impedidas de trabalhar na universidade por interferência de Ferreira Lima.

O presidente da comissão que deu encaminhamentos ao que foi apontado pela CMV, professor Daniel Castelan, também teve 15 minutos de fala. Ele destacou que “João David atuou voluntariamente porque era um apoiador do regime”. “A gente sabe que ele trabalhou em situações difíceis, mas não pode aceitar que a universidade tenha o nome apoiadores de militares armados”, completou. Castelan disse ainda que “Não era trabalho do João David torturar, e ele não torturou. Não era trabalho dele prender, e ele não prendeu. Mas ele colaborou sistematicamente com quem podia fazer isso”.

Depoimentos de familiares de vítimas da ditadura
Na sequência, o presidente do CUn colocou em votação os pedidos de falas feitos antecipadamente, o que foi aprovado por unanimidade pelos conselheiros.
O primeiro a falar foi o ex-reitor Antonio Diomário de Queiroz. Ele contou que foi objeto de inquérito durante a ditadura, e que teve um primo preso. Ponderou a atuação de Ferreira Lima e enalteceu o compromisso do ex-reitor com a UFSC: “Quando reitor, eu acompanhei de perto o trabalho de Ferreira Lima e observei uma participação importante para a valorização da universidade”. Disse ainda que “efetivamente não havia, a meu ver, qualquer participação de Ferreira Lima nesse movimento ideológico contrário aos destinos da nossa universidade”.
Neta do professor José Patrocínio Gallotti, Beatriz Gallotti, participou da sessão de maneira remota. Ela contou que o avô foi objeto do primeiro processo aberto na universidade por orientação do Ato Institucional número 1. “Os membros da comissão foram nomeados pelo reitor, que defendeu que ele não podia continuar no exercício da cátedra. Ele seguiu ministrando aulas, mas não quer dizer que tivesse liberdade. O sofrimento vivido por ele e pela família não está escrito em atos administrativos, mas não pode ser minimizado”, afirmou. Ela leu uma nota em nome de familiares, que “repudiam o uso feito do seu caso pela defesa da família do ex-reitor”.


A fala foi seguida do depoimento de José Rafael Mamigonian, filho do professor Armen Mamigonian. “Faço essa manifestação para responder a defesa, que relativiza as perseguições sofridas pelo professor Armen. A defesa afirma que não se achará as digitais do ex-reitor em nenhum documento sobre perseguição, e isso não é verdade”, disse, citando ofícios. Ele ainda divulgou um áudio que gravou de seu pai, que está com 90 anos, falando sobre o assunto. O professor disse: “me pegaram pra me jogar fora. Cassação, se fosse o caso. Ameaça, sim. Durante a ditadura, essa turma ficou muito assanhada”. O filho de Armen finalizou: “resta aqui comprovado que a partida do meu pai com a família não se deu por vontade espontânea. Ações persecutórias como essa deixam marcas, afetam famílias inteiras. A negação dos fatos históricos é um insulto para aqueles que sofreram e ainda sofrem suas consequências”.
A sessão seguiu com as falas de conselheiros até que, às 17h, foi feito o pedido e vista, acatado pelo reitor e presidente do CUn.
Assista à sessão na íntegra:
Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc
