Ministro Raupp empossa novos representantes do sistema CET

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, empossou na manhã de hoje (23) os novos titulares de duas secretarias do ministério. Passaram a integrar a equipe da pasta o professor e historiador Eliezer Pacheco, que responde pela Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis), e o engenheiro mecânico Alvaro Prata, que assume a Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec).

“Meu maior desafio é unir dois mundos: levar de fato o conhecimento científico para o setor industrial. Conversar muito com a indústria e colocar a indústria para conversar com as universidades.” Assim definiu a nova missão o engenheiro mecânico Alvaro Toubes Prata, ao assumir a Setec.

O novo secretário é pesquisador de nível 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Refrigeração e Termofísica e, recentemente, foi eleito membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Com um currículo extenso dedicado à vida acadêmica, o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina destaca a experiência vivida em sala de aula, sem perder de vista as demandas do setor produtivo, como um fator relevante de seu perfil diante do objetivo de aproximar setores tão diferentes e fundamentais para o crescimento do país. “Um cientista vinculado à indústria”, define-se.

“Acredito muito no conhecimento que é gerado, utilizado e estimulado a partir de uma união entre a academia e a universidade”, sustenta Prata ao relatar a trajetória universitária, na qual, como professor, procurou incentivar a parceria, citando entre as mais importantes iniciativas conjuntas as realizadas com empresas como a Embrapa, a Pirelli, a Embraer e a Petrobras, e com a indústria automotiva.

“Temos um histórico de parcerias e os nossos alunos montaram um laboratório muito bem equipado. Estudantes de todos os níveis – graduação, mestrado e doutorado – sempre realizaram trabalhos de pesquisa vinculados ao setor industrial e, com isso, nós temos um número muito grande de dissertações e teses relacionadas com trabalhos industriais”, conta.

Há 33 anos na universidade catarinense, o novo integrante da equipe do MCTI atuou na graduação e na pós-graduação, coordenando projetos de ensino, pesquisa e extensão. Já publicou mais de 230 artigos científicos completos em periódicos e anais de congressos. Orientou 41 dissertações de mestrado e 18 teses de doutorado, e possui duas patentes depositadas.

Experiência nacional – Apesar de ter passado maior parte da vida pessoal e profissional em Santa Catarina, Alvaro Prata é mineiro, de Uberaba. Morou em Salvador, mas foi na capital federal que entrou para o mundo universitário ao ser aprovado no vestibular para o curso de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB). A mudança de cidade foi necessária após o pai, que era também professor universitário, ser transferido da Universidade Federal da Bahia para a UnB.

Atraído pela fama de excelência do curso de engenharia mecânica da UFSC, decidiu fazer mestrado na instituição catarinense. Em busca de experiência no exterior, fez o doutorado na Universidade de Minnesota (EUA). Ao retornar ao Brasil, voltou a Florianópolis, onde deu início à carreira como professor.

Em 2000, foi convidado para ser pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da universidade e depois se tornou presidente do fórum nacional de pós-reitores. “Com isso circulei muito pelo Brasil”, comenta. “O Brasil é um país que se situa entre os que mais produzem cientificamente, mas aqui, diferentemente dos países desenvolvidos, o conhecimento não é completamente dominado e não é utilizado pelo setor industrial”, observa.

Frentes de trabalho – Para mudar essa realidade, Prata aponta a necessidade de o governo trabalhar em várias frentes: dando instrumentos para facilitar o trabalho conjunto entre a universidade e as empresas, a partir de editais e de propostas de trabalho colaborativos, além de simplificar de marcos regulatórios.

“Muito da pesquisa é feita no Brasil nas universidades públicas. E a lógica do ordenamento jurídico que rege a atividade de uma autarquia pública é completamente diferente do setor industrial. Então é preciso criar mecanismos que possibilitem essa interação”, avalia.
“E o governo tem feito isso, com a Lei de Inovação e uma série de outros instrumentos. Neste momento, estamos trabalhando no Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para melhorar ainda mais esse ordenamento”, acrescenta Alvaro Prata.

Inclusão Social – Estimular a parceria, o trabalho em rede, dar identidade nacional aos Centros de Vocação Tecnológica, multiplicar telecentros e ampliar eventos como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e as olimpíadas de conhecimento. É com essas prioridades que o novo secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis) assume o cargo no MCTI. Eliezer Moreira Pacheco traz a experiência de mais de oito anos à frente de programas do Ministério da Educação (MEC), entre eles o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a Prova Brasil e o ensino profissionalizante.

Para Pacheco, a disposição se justifica pela motivação em fazer parte do projeto de transformar o Brasil numa grande nação, não só pela pujança econômica, mas pela possibilidade de crescer economicamente com distribuição de renda e soberania. “E quando nós estamos falando de soberania, estamos falando de tecnologia”, sustenta. “A soberania só tem sentido na medida em que está alicerçada em desenvolvimento tecnológico, porque a tecnologia é que dá ao país os instrumentos necessários para se desenvolver com total soberania.”

O ex-secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC avalia que a nova missão vem para completar o trabalho já realizado na Educação. As duas pastas, segundo ele, estão intimamente interligadas. “São atividades que se complementam e dialogam entre si. E que só têm sentido exatamente nesse diálogo”, afirma.

Metas

Além de ampliar eventos como as olimpíadas de conhecimento e a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), dar uma identidade nacional aos Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs) está entre os planos do novo representante da Secis. “Estabelecendo, inclusive, a cultura de rede entre eles e a atuação em conjunto”, diz. “É isso que pode potencializá-los e torná-los significativos num esforço nacional de desenvolvimento tecnológico e de divulgação tecnológica junto aos estudantes.”

Outra meta do novo secretário é multiplicar os telecentros, tendo como base as instituições públicas e as empresas públicas que, na sua avaliação, têm mais capilaridade no país como, por exemplo, os Correios e Telégrafos. “Estamos em conversa com eles para estabelecermos os telecentros em centenas de agências dos correios espalhadas por todo o País”, disse.

O novo integrante do ministério também defende o trabalho em parceria com os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e com as universidades federais e planeja aprofundar políticas envolvendo a questão das cidades sustentáveis e o incentivo à cultura da ciência nas escolas. “Porque o ensino da ciência é muito pobre nas escolas brasileiras em geral”, comenta.

Perfil – Nascido em Rosário do Sul (RS), Eliezer Moreira Pacheco é historiador e especialista em Ciência Política. Foi professor universitário, secretário municipal de Educação (2001-2002) e de Administração de Porto Alegre (2003 a fevereiro de 2004). Presidiu o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Foi secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação.

Pacheco idealizou e coordenou duas edições do Fórum Mundial de Educação (2001 e 2003). É autor dos livros Colonização e Racismod+ O Povo Condenadod+ Introdução ao Estudo da Sociedade e Estadod+ O Partido Comunista Brasileirod+ e Marxismo e a Questão Democrática, entre outros.