Corte de verba na ciência asfixia até o Sirius, programa mais inovador em que o Brasil já investiu

Nem mesmo o acelerador de partículas, tecnologia dominada por somente 3 países, escapa da falta de verbas, afirma El País

No dia 8 de outubro, o presidente Jair Bolsonaro visitou o Projeto Sirius, em Campinas, no interior de São Paulo. Foi a segunda vez que percorreu a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no Brasil. O Sirius usa aceleradores de partículas para produzir um tipo especial de luz, chamada de luz síncrotron, que funciona como um super raio-X capaz de investigar a composição e a estrutura da matéria em suas mais variadas formas. O presidente parabenizou os cientistas que colocaram o nome do país na fronteira do conhecimento tecnológico. “Sou apaixonado por isso aqui”, disse. Sem máscara, tirou fotos e discursou. Saiu sem falar com a imprensa. A paixão de Bolsonaro pela ciência, contudo, evaporou rapidamente, em cerca de uma hora, o tempo que levou percorrendo a estrutura circular do laboratório. Neste mesmo dia, o Governo anunciou um corte de 600 milhões de reais em créditos suplementares previstos para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Foi o mais recente dos diversos ataques coordenados contra a área, que já asfixiam de bolsas de estudos até a operação do super laboratório.

O Sirius é um dos três aceleradores de partículas de quarta geração em funcionamento no mundo ―Suécia e França detém os outros. O Brasil saiu na frente na corrida por essa tecnologia. O equipamento poderá ter até 38 estações de pesquisa simultâneas nas mais diferentes áreas. Por exemplo, na agricultura, a luz de síncotron é capaz de revelar como átomos e moléculas de nutrientes ou mesmo de poluentes “caminham” e interagem com outras moléculas no solo. Conhecer melhor esses processos poderá contribuir para uma produção agrícola mais eficiente e menos agressiva ao meio ambiente.

O recente corte nos créditos suplementares aprovados no Congresso para o MCTI atinge principalmente o repasse de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), responsável por irrigar todo o sistema de ciência, tecnologia e inovação. O FNDCT foi contingenciado pelo Governo em 2020 para atingir a meta fiscal do ano, ficando com mais de 5 bilhões parados em caixa, dos quais 655,4 milhões iriam para o MCTI. Um projeto de lei do Congresso (PLN 16/21) abriu, então, um crédito suplementar de 690 milhões para as ciências, dinheiro que iria patrocinar diversos projetos e bolsas de estudo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). 

Leia na íntegra: El País