Estudo avalia como 240 laboratórios acadêmicos de universidades públicas interagem com o setor industrial

Dos 240 laboratórios analisados, apenas 55 eram liderados por professores titulares, o nível mais alto na carreira acadêmica pública

Como se estabelecem as relações entre universidades e empresas do Brasil para a geração de conhecimento? Uma dupla de pesquisadores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-RP-USP) buscou responder a essa pergunta levantando quais fatores estavam associados à interação entre empresas e 240 laboratórios de universidades públicas no estado de São Paulo. Algumas das conclusões do trabalho, publicado em dezembro de 2024 na revista Science and Public Policy, confirmaram resultados de estudos semelhantes feitos em outros países: em comparação com laboratórios menos envolvidos com empresas, os mais engajados se destacam pela habilidade em prospectar e atrair parceiros da iniciativa privada, dispõem de equipamentos avançados e possuem mais pesquisadores permanentes para dar suporte aos projetos conjuntos. Também recebem maior apoio de seus departamentos para viabilizar as cooperações.

Mas há peculiaridades brasileiras. Uma delas é que, aqui, o nível sênior na carreira docente não se relaciona com uma interação maior com a indústria – um padrão que costuma ser observado nos Estados Unidos e na Europa, e que se explica pela formação paulatina de redes de colaboração ao longo da carreira dos professores. Dos 240 laboratórios paulistas analisados, apenas 55 eram liderados por professores titulares, o nível mais alto na carreira acadêmica pública, enquanto 114 estavam sob o comando de professores livre-docentes ou associados e 71 sob a liderança de professores adjuntos. De acordo com o coordenador da pesquisa, o pesquisador da FEA-RP-USP Alexandre Dias, esse resultado evidencia diferenças marcantes entre o sistema brasileiro de ciência, tecnologia e inovação e os de países mais desenvolvidos.

“Nas universidades públicas brasileiras, ensino, pesquisa e extensão são indissociáveis e, além disso, os acadêmicos no nível mais alto da carreira costumam se envolver profundamente com as atividades de gestão de suas unidades. A predominância do financiamento público da pesquisa, o sistema de recompensas e os critérios por meio dos quais os docentes são avaliados para progredir na carreira não contribuem para um desempenho individual alinhado com a interação com o setor industrial”, afirma o pesquisador, que realizou o levantamento com Leticia Ayumi Kubo Dantas, cuja dissertação de mestrado, defendida em 2023, ele orientou. A dupla integra o Núcleo de Pesquisas em Inovação, Gestão Tecnológica e Competitividade da FEA-RP-USP.

O objetivo principal do estudo foi analisar o grau de “engajamento acadêmico” de laboratórios de pesquisa do país. Esse conceito, disseminado a partir de 2013 por Markus Perkmann, da Escola de Negócios do Imperial College de Londres, no Reino Unido, congrega um conjunto de atividades formais e informais que modulam a interação entre universidades e meio empresarial. “Por muito tempo, pesquisadores buscaram compreender os determinantes da comercialização de tecnologias e do empreendedorismo acadêmico como fenômenos para analisar a interação universidade-empresa. Só na década passada cresceu o interesse em também investigar outros canais por meio dos quais se estabelecem os vínculos entre universidade e empresa”, explica Dias.

Foram analisados dados de laboratórios de sete instituições – as universidades estaduais Paulista (Unesp), de Campinas (Unicamp) e a USP, as federais de São Paulo (Unifesp), São Carlos (UFSCar) e do ABC (UFABC) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) – cujos líderes aceitaram responder a um questionário on-line. Em relação às áreas do conhecimento, 20% dos laboratórios eram de engenharias, 15,8% de ciências da saúde, 14,5% de ciências biológicas, 12,5% de ciências exatas e da Terra, 9,6% de ciências agrárias – e 27,5% operavam em múltiplas áreas.

Leia na íntegra: Revista Fapesp