Sessão extraordinária do Conselho Universitário discute enfrentamento ao nazismo na UFSC e aprova moção de repúdio

Na ocasião, presidente da Apufsc-Sindical condenou os episódios e convidou a comunidade acadêmica a agir contra o avanço do neonazismo na UFSC e em todo o Brasil

Após episódios com manifestações nazistas e fascistas nos campi, o Conselho Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) promoveu nesta terça-feira, dia 22, uma sessão extraordinária para debater o combate a grupos extremistas no Brasil. Na ocasião, o Conselho Universitário (CUn) aprovou por unanimidade uma moção de enfrentamento ao nazismo e ao racismo. Além dos conselheiros, participaram estudantes, professores, servidores e membros da comunidade.

O professor José Guadalupe Fletes, presidente da Apufsc-Sindical, participou da sessão. Em sua fala, Fletes condenou os episódios e convidou a comunidade acadêmica a agir contra o avanço do neonazismo na UFSC, mas também no Brasil. “Nós sofremos ataques internos, mas também notamos que a nível internacional tem se montado um quadro para que o nazismo cresça”, afirmou. O professor relembrou alguns episódios dos últimos anos, em que governantes reproduziram cenas, símbolos e falas de lideranças nazistas e em apologia à supremacia branca. 

Presidente da Apufsc, José Guadalupe Fletes, discursou durante a sessão do CUn (Foto: Vitórya Navegantes/UFSC)

O evento do CUn aconteceu há quase duas semanas da perícia das manifestações criminosas de caráter nazista na universidade. A Polícia Científica investigou pichações e uma carta com mensagens de ódio conta negros, asiáticos, feministas e à comunidade LGBTQIA+ registradas no último mês. Em outubro, quatro alunos foram presos por suspeita de participação em uma célula nazista, associação criminosa e fabricação de armas de fogo. Em setembro, uma estudante de Pedagogia foi vítima de injúria racial, com mensagens de cunho preconceituoso nos banheiros do Centro de Ciências da Educação (CED).

Sete ocorrências em menos de três meses

Em resposta aos fatos registrados na instituição – são sete desde setembro, segundo a admnistração -, a UFSC organizou três frentes de atuação para o enfrentamento de situações identificadas como racismo ou quaisquer atos criminosos, de cunho nazista ou neonazista na universidade: a comunicação, a apuração e a educação. Em uma ação conjunta, o Gabinete da Reitoria e a Secretaria de Segurança Institucional elaboram posicionamentos públicos e explicações sobre os casos identificados, e afirmam que será feita a apuração e responsabilização dos envolvidos. Além disso, o objetivo da Reitoria é incentivar e promover o letramento antirracista, antifascista e sobre os direitos uumanos na universidade.

Demais representantes da Administração Central desenvolveram orientações gerais para prevenir e enfrentar os casos. Entre as diretrizes, a administração instrui para que o denunciante que não divulgue a mensagem de cunho fascista, nazista ou racista nas redes sociais. A proliferação do discurso de ódio, segundo a UFSC, faz parte do objetivo desses grupos. Por outro lado, a Reitoria reforça que os crimes sejam denunciados junto à Secretaria de Segurança Institucional e Ouvidoria, para então ser encaminhados para a Polícia Civil.

Ao encerrar a sessão, a vice-reitora da UFSC, Joana Célia dos Passos, solicitou a palavra para lembrar: “O nazismo e o racismo nos desumanizam: não só as pessoas agredidas, mas também os agressores. E é de humanidade que nós precisamos”.

Leia a íntegra da moção de repúdio

A universidade pública é um espaço que reflete e interage com a sociedade democrática e plural. Trata-se de um espaço de inclusão que dá voz e vez a todas as camadas sociais: negros, mulheres, indígenas, quilombolas, LGBTQIAP+, dentre outros coletivos. Na verdade, tais coletivos não restringem a universidade, ao contrário, possibilitam que esta expanda a fronteira do pensamento e, dessa forma, possa combater o pensamento retrógado e discriminatório, o qual se alimenta de atos criminosos.

O Conselho Universitário, instância máxima de deliberação da nossa instituição, manifesta seu repúdio aos ataques de cunho neonazista e racista registrados em nossos ambientes acadêmicos e administrativos e apoia as medidas adotadas pela Administração Central para o combate sistemático a todo tipo de violência e discriminação. O Conselho defende também a apuração completa dos delitos e a punição rigorosa dos envolvidos, ao mesmo tempo que sustenta o fortalecimento da democracia contra qualquer arroubo autoritário.

Como estabelece o Estatuto de nossa instituição em seu art. 3º, a UFSC renova seus objetivos de “produzir, sistematizar e socializar o saber filosófico, científico, artístico e tecnológico, ampliando e aprofundando a formação do ser humano para o exercício profissional, a reflexão crítica, a solidariedade nacional e internacional, na perspectiva da construção de uma sociedade justa e democrática e na defesa da qualidade da vida.”

Florianópolis, 22 de novembro de 2022

Assista à sessão extraordinária do CUn:

Erick Souza e Stefani Ceolla
Imprensa Apufsc